Viviam numa aldeia africana, metida lá no meio da
floresta, muitos animais. O Leão mandão, o Coelho, a Lebre, o Macaco às vezes
velhaco, o Cágado, a Galinha-do-Mato, a Hiena, o Caracol de corninhos ao sol, o
Elefante, a Gazela, o Gato, o Leopardo, a Cabra, o Sagui, o Cão ão-ão, a Jiboia, a Formiga, o Gato Bravo, e outros e outros mais. Para não falarmos já de
uma grande variedade de pássaros, como o Papagaio, o Melro, a Rola, o Canário,
o Milhafre, a Perdiz, o Corvo, eu sei lá quantos mais.
De um modo geral, entendiam-se bem e procediam entre si como bons amigos. Quando se levantavam questões entre alguns, reuniam-se todos para julgar e chamar à ordem os que tivessem procedido mal. Outras vezes, porém, os mais fortes abusavam da sua força contra os mais fracos. Então os mais fracos defendiam-se, usando da sua inteligência para se defenderem dos mais fortes. Nem de outra maneira podia ser.
Entre os mais fracos, alguns havia que se distinguiam na sua luta contra os poderosos. Eram eles, por exemplo, o Coelho, a Lebre e o Cágado.
Ora de uma vez, o Leão, o senhor daquelas redondezas, resolveu tirar a prova dos nove. Quis saber se de facto alguns desses animais assim tão espertos eram capazes de fazer aquilo que ele nunca conseguira: segurar o vento.
Chamou os três. O Coelho, a Lebre e o Cágado. E disse-lhes:
— Precisamos de sustar o vento. E aquele de vós que o conseguir terá uma recompensa.
O Coelho respondeu:
— Não me parece que seja assim tão difícil como isso.
A Lebre pensou e deu a sua opinião:
— Lá fácil não será. Mas não há nada nesta vida que a habilidade e a inteligência não consigam.
Só o Cágado ficou calado. Assim de repente, não atinava com o modo de fazer parar o vento.
O Coelho foi dali e armou umas grandes redes. Mas por mais que armasse as redes e por muito grandes que elas fossem e muito apertadas as malhas, não conseguia deter o vento.
A Lebre utilizou outro processo. Foi juntando arbustos e com eles construindo uma grande parede. Mas por maior que fossem os arbustos e por maior que fossem as paredes, o vento continuava a soprar e a correr pela floresta fora, como um louco.
O Cágado pensou, pensou, e a certa altura tinha já a sua ideia formada.
Arranjou um molho de carne, pegou num pau e foi junto do Leão.
— Aqui tens este pau e este molho. Assa o molho no pau e garanto-te que nunca terás na tua vida comido um molho tão saboroso.
Ora foi o que o Leão quis ouvir. Pegou no pau e no molho, mas, quando tentava pôr o molho no pau, o molho escorregava e caía no chão. Foi experimentando, experimentando, até que perdeu o molho todo.
Raivoso, mandou chamar o Cágado para que este lhe explicasse como se assava o molho no pau.
O Cágado, na sua calma, respondeu-lhe:
— Leão, rei dos animais, não me perguntes isso a mim, que sou um pobre e pequeno bicho. Tu o saberás, pois és forte e tudo mandas. Não foste tu que me mandaste sustar o vento?
O Leão ficou a pensar na esperteza do Cágado. Reuniu todos os animais e disse-lhes:
— Companheiros! Vamos todos discutir isto: entre a força e a inteligência o que vale mais? Somos ou não somos todos iguais?
Manuel Ferreira
Quem pode parar o vento?
Porto, Edições Asa, 1987
De um modo geral, entendiam-se bem e procediam entre si como bons amigos. Quando se levantavam questões entre alguns, reuniam-se todos para julgar e chamar à ordem os que tivessem procedido mal. Outras vezes, porém, os mais fortes abusavam da sua força contra os mais fracos. Então os mais fracos defendiam-se, usando da sua inteligência para se defenderem dos mais fortes. Nem de outra maneira podia ser.
Entre os mais fracos, alguns havia que se distinguiam na sua luta contra os poderosos. Eram eles, por exemplo, o Coelho, a Lebre e o Cágado.
Ora de uma vez, o Leão, o senhor daquelas redondezas, resolveu tirar a prova dos nove. Quis saber se de facto alguns desses animais assim tão espertos eram capazes de fazer aquilo que ele nunca conseguira: segurar o vento.
Chamou os três. O Coelho, a Lebre e o Cágado. E disse-lhes:
— Precisamos de sustar o vento. E aquele de vós que o conseguir terá uma recompensa.
O Coelho respondeu:
— Não me parece que seja assim tão difícil como isso.
A Lebre pensou e deu a sua opinião:
— Lá fácil não será. Mas não há nada nesta vida que a habilidade e a inteligência não consigam.
Só o Cágado ficou calado. Assim de repente, não atinava com o modo de fazer parar o vento.
O Coelho foi dali e armou umas grandes redes. Mas por mais que armasse as redes e por muito grandes que elas fossem e muito apertadas as malhas, não conseguia deter o vento.
A Lebre utilizou outro processo. Foi juntando arbustos e com eles construindo uma grande parede. Mas por maior que fossem os arbustos e por maior que fossem as paredes, o vento continuava a soprar e a correr pela floresta fora, como um louco.
O Cágado pensou, pensou, e a certa altura tinha já a sua ideia formada.
Arranjou um molho de carne, pegou num pau e foi junto do Leão.
— Aqui tens este pau e este molho. Assa o molho no pau e garanto-te que nunca terás na tua vida comido um molho tão saboroso.
Ora foi o que o Leão quis ouvir. Pegou no pau e no molho, mas, quando tentava pôr o molho no pau, o molho escorregava e caía no chão. Foi experimentando, experimentando, até que perdeu o molho todo.
Raivoso, mandou chamar o Cágado para que este lhe explicasse como se assava o molho no pau.
O Cágado, na sua calma, respondeu-lhe:
— Leão, rei dos animais, não me perguntes isso a mim, que sou um pobre e pequeno bicho. Tu o saberás, pois és forte e tudo mandas. Não foste tu que me mandaste sustar o vento?
O Leão ficou a pensar na esperteza do Cágado. Reuniu todos os animais e disse-lhes:
— Companheiros! Vamos todos discutir isto: entre a força e a inteligência o que vale mais? Somos ou não somos todos iguais?
Manuel Ferreira
Quem pode parar o vento?
Porto, Edições Asa, 1987
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