Aninha já estava com dois anos.
Loira, linda. Nunca tinha cortado os cabelos. Eram amarelos-ouro e cacheados. “Parecia
um anjinho barroco”, diz a mãe coruja.
Lá um dia, a mãe pega uma enorme
tesoura e resolve dar um trato na cabeça da criança, pois as melenas já estavam
nos ombros. Chama a menina, que chega ressabiada, olhando a cintilante tesoura.
- Mamãe vai cortar o cabelinho da
Aninha.
- Aninha olha para a tesoura, se
apavora.
- Não quero, não quero, não
quero!!!
- Não dói nada...
- Não quero!, já disse.
E sai correndo. A mãe sai correndo
atrás. Com a tesoura na mão. A muito custo, consegue tirar a filha que estava
debaixo da cama, chorando temendo o pior. Consola a filha.
Sentam-se na cama. Dá um tempo. A
menina para de chorar. Mas não tira o olho da tesoura.
- Olha, meu amor, a mamãe promete
cortar só dois dedinhos.
Aninha abre as duas mãos, já
submissa, desata o choro, perguntando, olhando para a enorme tesoura e para a própria
mãozinha:
- Quais deles, mãe?
(PRATA, Mário. 100
crônicas de Mário Prata. São Paulo: Cartaz editorial, 1997)
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