Histórias Acumulativas
As histórias
de interesse, quase unânime entre as crianças, são as histórias com repetição e
acumulação. Desde as pequeninhas até as maiores, lá pelos seis, sete anos,
essas histórias encantam, prendem, provocam o riso e a graça. As crianças
adoram histórias e brincadeiras que contêm elementos que se repetem, que são
retomados.
O ritual, a repetição, o reconhecimento de situações, objetos, são elementos importantes para a criança pequena e seu aprendizado. Elas gostam de rever, refazer, repetir, redizer. Com a linguagem se dá a mesma coisa. Os jogos de linguagem nos quais aparecem elementos repetitivos são muito apreciados, por trazerem esse reconhecimento de formas à criança. Mesmo em relação às maiores, o reconhecimento de um elemento que já foi trazido, dito, mostrado, repetindo-o, acumulando-o, recriando-o, recontextualizando-o e mesmo torcendo-o do avesso, provoca graça e prazer, e esses são recursos usados em narrativas contemporâneas diversas, verbais ou audiovisuais, que buscam uma cumplicidade lúdica e inteligente com os leitores-espectadores.
Mas há no repertório narrativo, seja tradicional ou contemporâneo, histórias que se estruturam essencialmente pela repetição. Nesses casos, reencontrar uma mesma situação várias vezes na história e encontrar a recorrência dos enunciados, além de promover um prazer especial à criança, pelo retorno do conhecido, o reconhecimento, favorece a compreensão da história, a apropriação de sua estrutura e a memorização do enredo e mesmo do próprio texto. Esses gêneros agradam aos pequenos leitores pelo caráter repetitivo-acumulativo de fatos, situações e enunciados presentes no enredo. E suas características são muito produtivas na aprendizagem da leitura.
A cultura popular é rica em contos desse tipo e são contos essencialmente de tradição oral, quer dizer, em princípio, nascem em culturas orais, sendo constantemente criados e recriados. Foram e são, por um lado, preservadas ao longo do tempo através da narração oral e da memória – recursos típicos de culturas que não dispõem da escrita – e, por outro lado, por isso mesmo, sofreram e sofrem modificações que dão origem a várias versões. Assim, ainda que os contos populares sejam registrados por escrito, retomados em recontos autorais ou reelaborados em versões autorais contemporâneas, continuam marcados pela narrativa oral, pois mantêm características próximas à oralidade. Como diz Ricardo Azevedo (2008), o escritor aí escreve como quem fala e o leitor lê como quem ouve.
O ritual, a repetição, o reconhecimento de situações, objetos, são elementos importantes para a criança pequena e seu aprendizado. Elas gostam de rever, refazer, repetir, redizer. Com a linguagem se dá a mesma coisa. Os jogos de linguagem nos quais aparecem elementos repetitivos são muito apreciados, por trazerem esse reconhecimento de formas à criança. Mesmo em relação às maiores, o reconhecimento de um elemento que já foi trazido, dito, mostrado, repetindo-o, acumulando-o, recriando-o, recontextualizando-o e mesmo torcendo-o do avesso, provoca graça e prazer, e esses são recursos usados em narrativas contemporâneas diversas, verbais ou audiovisuais, que buscam uma cumplicidade lúdica e inteligente com os leitores-espectadores.
Mas há no repertório narrativo, seja tradicional ou contemporâneo, histórias que se estruturam essencialmente pela repetição. Nesses casos, reencontrar uma mesma situação várias vezes na história e encontrar a recorrência dos enunciados, além de promover um prazer especial à criança, pelo retorno do conhecido, o reconhecimento, favorece a compreensão da história, a apropriação de sua estrutura e a memorização do enredo e mesmo do próprio texto. Esses gêneros agradam aos pequenos leitores pelo caráter repetitivo-acumulativo de fatos, situações e enunciados presentes no enredo. E suas características são muito produtivas na aprendizagem da leitura.
A cultura popular é rica em contos desse tipo e são contos essencialmente de tradição oral, quer dizer, em princípio, nascem em culturas orais, sendo constantemente criados e recriados. Foram e são, por um lado, preservadas ao longo do tempo através da narração oral e da memória – recursos típicos de culturas que não dispõem da escrita – e, por outro lado, por isso mesmo, sofreram e sofrem modificações que dão origem a várias versões. Assim, ainda que os contos populares sejam registrados por escrito, retomados em recontos autorais ou reelaborados em versões autorais contemporâneas, continuam marcados pela narrativa oral, pois mantêm características próximas à oralidade. Como diz Ricardo Azevedo (2008), o escritor aí escreve como quem fala e o leitor lê como quem ouve.
As histórias com repetição caracterizam-se por apresentar uma estrutura que contém sequências recorrentes, ou seja, que se repetem ao longo da trama. Falas, eventos e ações se repetem. Esse movimento repetitivo da estrutura do texto pode se apresentar de forma mais ou menos articulada, dando uma ideia de encadeamento. Geralmente essa recorrência se dá de maneira curiosa e divertida, ressaltando o caráter de brincadeira desse tipo de história. Há histórias em que a repetição se dá em todo o texto, como a história “Bruxa, Bruxa, venha a minha festa”, e outras em que a repetição se dá em situações mais pontuais, em certo trecho da trama, como em “O Grúfalo”. No primeiro caso, quando a essência da história é a repetição de frases, palavras, trechos, a leitura autônoma pelas crianças é bastante favorecida.
Muitas vezes, nessas histórias essencialmente repetitivas, mais do que o enredo em si, importam os recursos linguísticos que seus autores utilizam para criar essa forma lúdica de organizar a linguagem, com um ritmo especial e muitos jogos de palavras. Os acontecimentos ocorrem numa sequência linear que sempre repete ou retoma, de algum modo, uma situação ou evento anterior e, muitas vezes, no fim, ou retoma-se o início da narrativa, fechando-se o círculo, ou inverte-se algum elemento, ou há uma saída surpresa da sequência de repetições.
São muitas as histórias de repetição, tanto na tradição oral, quanto na literatura contemporânea, como “A galinha Ruiva”, “Dona Baratinha”, “Bruxa, Bruxa, venha a minha festa”,“Qual o sabor da lua?”, “Os bichos também sonham”, “O rei bigodeira e sua banheira”, “Quer brincar de pique-esconde?”, algumas delas bem conhecidas e já citadas no blog. Algumas trazem enredos mais complexos e a repetição é menos cadenciada, mais pontual, como em “O que tirou o sono dos animais?”, “O Grúfalo”, “Macaco Danado”, “Você pegou o meu ronrom?”, dentre muitas outras. Ou seja, algumas dessas histórias com repetição, além de excelentes jogos de linguagem, também trazem um enredo delicioso. Em outras, é a brincadeira com a repetição e com a linguagem que constitui a essência do texto.
Nas histórias acumulativas, a repetição de um mesmo evento se dá, assim, por acumulação. Além dos eventos ou alguma situação ou situações semelhantes se repetirem várias vezes – bem como o modo como são expressos pela linguagem – esses eventos, situações e os enunciados que os expressam, vão se acumulando sucessivamente, até que a história se inverte ou surpreende com alguma situação inusitada, que quebra o redemoinho que vem acumulando coisas no caminho, e leva ao desfecho. Geralmente, uma mesma ação é realizada por diversos personagens ou, a cada um que chega, uma ação diferente voltada para um mesmo fim é proposta, ou ainda uma ação desencadeia outras, que são exigidas para que a anterior seja possível, e assim sucessivamente.
Para Luis da Câmara Cascudo, pesquisador muito
importante da literatura oral brasileira, o que define os contos acumulativos é
o fato de que os episódios são sucessivamente articulados, as fases temáticas
consecutivamente encadeadas. No “Dicionário do Folclore Brasileiro” ele diz que
são “narrativas em que as palavras ou os períodos são encadeados,
articulando-se numa longa seriação”. Assim, além da acumulação em si, o
encadeamento é essencial a esse gênero.
Desse modo, embora nesses exemplos de histórias com
repetição acima, as situações e enunciados repetidos não se acumulem, algumas
delas também ressaltam o caráter acumulativo e são, por vezes, inclusive,
considerados como tal, devido a sua estrutura encadeada. A estrutura aí é
repetitiva, havendo a recorrência de uma mesma situação ou situações
semelhantes, sem se acumularem a cada passagem, sem repetir, no enunciado, a
situação anterior. Algo, de fato, pode ser retomado para seguir – veja o
exemplo dos personagens de Bruxa, Bruxa, sempre retomados para serem convidados
à festa. Mas cada situação não vai, de fato, sendo acumulada no texto, a cada
passagem. A presença da repetição, em muitas histórias com repetição, dá a
ideia de que os personagens estão interligados. Por esse motivo, nem sempre é
tão simples diferenciar as histórias com repetição e as histórias com
acumulação. O modo de encadear pode fazer toda a diferença. Contos como “O
Macaco e o rabo”, “O Macaco que perdeu a banana”, “A Formiguinha e a Neve”, bem
como livros de literatura infantil como “A Casa Sonolenta” e “O Nabo gigante”
são acumulativos. É bom lembrar que as histórias acumulativas são, de qualquer
modo, um tipo especial de história com repetição.
É interessante ressaltar que numa história acumulativa
como “A Casa Sonolenta”, as novas personagens e ações vão se agregando à trama,
numa sequência recorrente, porém, estas não marcam a ideia da repetição de um
mesmo evento, como em “A galinha ruiva” e “Dona Baratinha”, consideradas
histórias de repetição, não de acumulação. É a essência da acumulação que está
aí em jogo, como em muitos contos cumulativos tradicionais.
Referências Bibliográficas
AZEVEDO, Ricardo. Conto
popular, literatura e formação de leitores. In: SILVA. René M.C. Cultura
popular e educação: salto para o futuro, Brasília, 2008. Disponível em:
http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/151433Contoreconto.pdf
http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/151433Contoreconto.pdf
CASCUDO, Luís da
Câmara. Literatura Oral no Brasil. 3
ed. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo,
1984.
Nenhum comentário:
Postar um comentário