Na savana africana, perto de Madagáscar, havia imensos embondeiros aos
quais chamavam "pés de elefante", visto que o tronco era tão cinzento
e largo como os pés de um elefante! Nesses embondeiros enrolavam-se lianas tão
espessas que parecia noite às nove horas da manhã! Tudo isso divertia muito os
pequenos macacos de África que, todos juntos, brincavam às escondidas e à
cabra-cega com as lianas. Ficavam suspensos pela cauda e imitavam o Tarzan,
fazendo barulho por entre a folhagem, como se estivessem num recreio de escola.
Um dos macaquinhos, contudo, mantinha-se à margem desta algazarra. Tinha nascido um pouco frágil e ficava estendido sobre uma folha de bananeira, durante todo o dia. Nunca tinha fome, nunca tinha sede. É preciso dizer que nem tinha tempo para ter fome ou sede, porque a mãe lhe fazia tudo, antes mesmo que ele sentisse o estômago vazio ou a boca seca!
De manhã, Mustik acordava com uma manga cor-de-laranja, bem madura e bem descascada, debaixo do nariz. E bastava abrir a boca para sorver, gota a gota, com a língua, o leite da noz de coco que a mãe tinha posto sobre um ramo por cima dele. Em seguida, encostava-se à mãe, que lhe passava os dedos finos e negros pela cabeça para lhe retirar alguns piolhos e o lavar. Isto é, graças a semelhante mãe, Mustik não tinha absolutamente nada para fazer. Nada.
Então, quando ouvia os outros macaquinhos, à volta dele, a gritar, a choramingar, a zangar-se, a disputar um fruto da árvore-do--pão, esticava as patas, mexia os tornozelos na folha macia da bananeira e pensava: "Meu Deus… A vida é bela. Eu, eu não tenho amigos, mas tenho uma mãe por minha conta." Como ela era bonita, como lhe parecia grande! A mãe olhava-o, com os seus olhos enormes, compreendia a sua mais pequenina sílaba, divertia-o, contava-lhe os últimos ecos da savana… Mustik não via mais ninguém.
Imóvel, no seu pequeno canto de árvore, dobrado sobre a folha da bananeira, nem se mexia, não falava, apenas tinha de abrir a boca, engolir… Mas, o que é bizarro, é que apesar do que comia, Mustik não crescia… Absolutamente nada! Tinha agora 5 anos, idade para ser grande, idade para um macaquinho ir procurar sozinho o seu pequeno-almoço. Mas Mustik tinha o tamanho de um gatinho recém-nascido!
O dia em que a mãe não regressou
Um dia, tendo partido de manhã bem cedo em busca do pequeno-almoço, a mãe-macaca caiu da mangueira, cujos ramos vergaram sob o peso de duas grandes mangas e prendeu o pé num cipó. Ao cair, só pensava no filho: "Que horror, Mustik vai acordar e não vai ter nada para comer…"
Mustik acordou como previsto, abriu a boca como era costume, mas nenhum leite de coco escorreu para a sua boca. Olhou para baixo: a manga da manhã não estava lá. O pequeno Mustik sentiu o estômago a apertar-se. Tinha fome, imensa fome! E isso preocupava-o, visto que era a primeira vez na sua vida que sentia o estômago vazio.
Começou a gritar:
- A minha manga, por favor! Uma manga bem madura e leite de noz de coco!
Berrou tanto e tão forte que um macaquinho caiu da árvore – um macaco engraçado de orelhas pontiagudas, que segurava uma banana.
- Porque é que estás a abrir tanto a boca? Porque gritas? Porque és tão pequeno? Porque te apetece chorar? - perguntou-lhe o pequeno primata, muito curioso.
- Porque tenho fome. Dá-me uma banana! - pediu Mustik.
O macaquinho foi-se embora, dando uma enorme gargalhada. O riso ecoou em toda a savana, de um embondeiro a outro, de uma noz de coco a outra.
- Quer que eu lhe dê uma banana!
O macaquinho saltitava, rindo a bandeiras despregadas. Alertado pela risota, um grupo de pequenos macacos depressa se reuniu à volta de Mustik. Queriam ver o figurão que ousava pedir comida no meio da selva. Mustik nem ousava falar. Nem se atrevia a fazer nada. Também não sabia fazer nada! Sentia-se muito pequenino. E, sobretudo, tinha vontade de chamar pela mãe, de gritar por socorro. A mãe tinha sempre feito tudo por ele…
Os macacos riram um momento, depois foram-se embora… exceto o que tinha as orelhas aguçadas, que continuava a mastigar as pequenas bananas verdes olhando para Mustik. Mustik tinha vontade de chorar: como é que este idiota podia comer à frente dele, que tinha tanta fome?
- Se te der uma banana - explicou o pequeno macaco, com a boca cheia - tu nunca saberás desembaraçar-te sozinho. Queres que te ensine a apanhar as mangas, os cocos e as bananas?
- Não sei se sou capaz - choramingou o macaquinho.
- És um macaco ou és um preguiçoso, como diria a minha mãe?
E foi assim que Mustik passou o dia mais maravilhoso da sua vida! Aprendeu a brincar entre as lianas e a colher delicadamente as mangas e as pequenas bananas. Ao fim da tarde, estava cansado mas feliz! A mãe chegou muito tarde, arrastando a pata.
- Fiquei ferida, porque as mangas eram muito pesadas para mim! - disse ela, com uma voz fininha.
Mustik olhou para a mãe. Como, de repente, ela lhe parecia pequenina! Parecia ter encolhido num dia.
- Não te preocupes, mãe, olha!
E, com os olhos a brilhar, Mustik apontou, com a sua mão pequenina, para um monte de fruta. Havia um cacho de bananas muito douradas, três mangas muito frescas e bem sumarentas, da cor do sol. Descascou uma para a mãe, que a comeu com avidez, mexendo a cabeça, com um ar um pouco triste, porque pensava: "Meu Deus, como ele cresceu!"
Com efeito, a partir desse dia, Mustik começou a crescer de repente. Todas as manhãs, abastecia-se com os outros companheiros. Ao domingo, deixava que a mãe apanhasse a manga. Mas sabia que isso só acontecia um dia por semana: porque compreendeu que não se podia crescer se se ficasse toda a vida à sombra da bananeira, a ser servido pela mãe.
- Claro, não há dúvida nenhuma! - diria o seu amigo das orelhas aguçadas. - Os macacos não são preguiçosos.
Um dos macaquinhos, contudo, mantinha-se à margem desta algazarra. Tinha nascido um pouco frágil e ficava estendido sobre uma folha de bananeira, durante todo o dia. Nunca tinha fome, nunca tinha sede. É preciso dizer que nem tinha tempo para ter fome ou sede, porque a mãe lhe fazia tudo, antes mesmo que ele sentisse o estômago vazio ou a boca seca!
De manhã, Mustik acordava com uma manga cor-de-laranja, bem madura e bem descascada, debaixo do nariz. E bastava abrir a boca para sorver, gota a gota, com a língua, o leite da noz de coco que a mãe tinha posto sobre um ramo por cima dele. Em seguida, encostava-se à mãe, que lhe passava os dedos finos e negros pela cabeça para lhe retirar alguns piolhos e o lavar. Isto é, graças a semelhante mãe, Mustik não tinha absolutamente nada para fazer. Nada.
Então, quando ouvia os outros macaquinhos, à volta dele, a gritar, a choramingar, a zangar-se, a disputar um fruto da árvore-do--pão, esticava as patas, mexia os tornozelos na folha macia da bananeira e pensava: "Meu Deus… A vida é bela. Eu, eu não tenho amigos, mas tenho uma mãe por minha conta." Como ela era bonita, como lhe parecia grande! A mãe olhava-o, com os seus olhos enormes, compreendia a sua mais pequenina sílaba, divertia-o, contava-lhe os últimos ecos da savana… Mustik não via mais ninguém.
Imóvel, no seu pequeno canto de árvore, dobrado sobre a folha da bananeira, nem se mexia, não falava, apenas tinha de abrir a boca, engolir… Mas, o que é bizarro, é que apesar do que comia, Mustik não crescia… Absolutamente nada! Tinha agora 5 anos, idade para ser grande, idade para um macaquinho ir procurar sozinho o seu pequeno-almoço. Mas Mustik tinha o tamanho de um gatinho recém-nascido!
O dia em que a mãe não regressou
Um dia, tendo partido de manhã bem cedo em busca do pequeno-almoço, a mãe-macaca caiu da mangueira, cujos ramos vergaram sob o peso de duas grandes mangas e prendeu o pé num cipó. Ao cair, só pensava no filho: "Que horror, Mustik vai acordar e não vai ter nada para comer…"
Mustik acordou como previsto, abriu a boca como era costume, mas nenhum leite de coco escorreu para a sua boca. Olhou para baixo: a manga da manhã não estava lá. O pequeno Mustik sentiu o estômago a apertar-se. Tinha fome, imensa fome! E isso preocupava-o, visto que era a primeira vez na sua vida que sentia o estômago vazio.
Começou a gritar:
- A minha manga, por favor! Uma manga bem madura e leite de noz de coco!
Berrou tanto e tão forte que um macaquinho caiu da árvore – um macaco engraçado de orelhas pontiagudas, que segurava uma banana.
- Porque é que estás a abrir tanto a boca? Porque gritas? Porque és tão pequeno? Porque te apetece chorar? - perguntou-lhe o pequeno primata, muito curioso.
- Porque tenho fome. Dá-me uma banana! - pediu Mustik.
O macaquinho foi-se embora, dando uma enorme gargalhada. O riso ecoou em toda a savana, de um embondeiro a outro, de uma noz de coco a outra.
- Quer que eu lhe dê uma banana!
O macaquinho saltitava, rindo a bandeiras despregadas. Alertado pela risota, um grupo de pequenos macacos depressa se reuniu à volta de Mustik. Queriam ver o figurão que ousava pedir comida no meio da selva. Mustik nem ousava falar. Nem se atrevia a fazer nada. Também não sabia fazer nada! Sentia-se muito pequenino. E, sobretudo, tinha vontade de chamar pela mãe, de gritar por socorro. A mãe tinha sempre feito tudo por ele…
Os macacos riram um momento, depois foram-se embora… exceto o que tinha as orelhas aguçadas, que continuava a mastigar as pequenas bananas verdes olhando para Mustik. Mustik tinha vontade de chorar: como é que este idiota podia comer à frente dele, que tinha tanta fome?
- Se te der uma banana - explicou o pequeno macaco, com a boca cheia - tu nunca saberás desembaraçar-te sozinho. Queres que te ensine a apanhar as mangas, os cocos e as bananas?
- Não sei se sou capaz - choramingou o macaquinho.
- És um macaco ou és um preguiçoso, como diria a minha mãe?
E foi assim que Mustik passou o dia mais maravilhoso da sua vida! Aprendeu a brincar entre as lianas e a colher delicadamente as mangas e as pequenas bananas. Ao fim da tarde, estava cansado mas feliz! A mãe chegou muito tarde, arrastando a pata.
- Fiquei ferida, porque as mangas eram muito pesadas para mim! - disse ela, com uma voz fininha.
Mustik olhou para a mãe. Como, de repente, ela lhe parecia pequenina! Parecia ter encolhido num dia.
- Não te preocupes, mãe, olha!
E, com os olhos a brilhar, Mustik apontou, com a sua mão pequenina, para um monte de fruta. Havia um cacho de bananas muito douradas, três mangas muito frescas e bem sumarentas, da cor do sol. Descascou uma para a mãe, que a comeu com avidez, mexendo a cabeça, com um ar um pouco triste, porque pensava: "Meu Deus, como ele cresceu!"
Com efeito, a partir desse dia, Mustik começou a crescer de repente. Todas as manhãs, abastecia-se com os outros companheiros. Ao domingo, deixava que a mãe apanhasse a manga. Mas sabia que isso só acontecia um dia por semana: porque compreendeu que não se podia crescer se se ficasse toda a vida à sombra da bananeira, a ser servido pela mãe.
- Claro, não há dúvida nenhuma! - diria o seu amigo das orelhas aguçadas. - Os macacos não são preguiçosos.
Sophie Carquain
Petites leçons de vie. Pour l’aider à s’affirmer
Paris, Ed. Albin Michel, 2008
(tradução e adaptação)
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