— Este ano — disse o senhor Bontempo no fim do
pequeno-almoço — havemos de fazer uma árvore de Natal enorme, magnífica.
— Pois claro — respondeu a senhora Bontempo, toda
risonha, olhando para o teto da sua grande casa nova. — Pois claro, podemos
arranjar uma muito grande.
Os cinco meninos Bontempo fecharam os olhos
para poderem imaginá-la à sua vontade. E à noite, quando o senhor Bontempo
trouxe para casa caixas e caixas cheias de enfeites novos para a árvore, toda a
família o rodeou imediatamente.
Deve dizer-se que eram enfeites magníficos!
Grandes bolas prateadas capazes de fazer inveja a todas as árvores da terra,
frutos de vidro, sininhos brilhantes que tocavam a valer, e pássaros cor do
arco-íris, de asas abertas. E, por fim, o mais belo, o mais cintilante dos
anjos.
— O anjo irá para o cimo da árvore — disse o
senhor Bontempo com orgulho. — A estrela que costumávamos lá pôr serviu durante
muito tempo; agora quero uma coisa diferente.
A senhora Bontempo já não sorria, e os cinco
meninos também não.
— O quê! — pensava ela com tristeza. — Aquela
estrela que sempre vi no cimo de todas as árvores de Natal da minha infância!
«Aquela estrela é a primeira coisa em que nós
pensamos quando falamos em Natal», disseram consigo os dois mais velhos.
A Maria e o Miguel, os mais novinhos, também
pensavam que ficariam muito tristes se a estrela não estivesse no seu lugar no
cimo da árvore.
E a Marta, a mais pequenina, exclamou:
— Ó pai, eu quero a estrela!
Então o senhor Bontempo teve uma ideia luminosa.
Com muito cuidado, pousou o anjo em cima da chaminé e disse:
— O lugar dele é aqui. Não fica bem? Afinal,
parece-me que se a árvore de Natal for muito rica deixará de ser a nossa árvore de Natal.
E toda a família Bontempo soltou um suspiro de
alívio. Sentaram-se à mesa com os olhos a brilhar, como se a velha estrela tão
querida de todos se refletisse em cada olhar.
Maria Isabel de Mendonça Soares in 365
Histórias de Encantar, da Verbo Infantil, 1955
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