Relva era uma bruxinha que sonhava em
ser fada. Todos os dias ela pensava numa forma de se transformar em uma linda
fadinha, mas seus poderes não permitiam que mudasse quem era de verdade. Mesmo
tendo um bom coração, ainda seria uma bruxa.
Um belo dia decidiu que a melhor
forma de se transformar em fada seria vestindo-se como uma. Então, costurou um
lindo vestido, com uma saia bem rodada, colocou um par de asas nas costas e fez
uma varinha de condão.
Quando se olhou no espelho, viu uma
fadinha encantadora. Convencida de que todos a aceitariam como fada, foi para a
floresta cantarolando.
Chegando à floresta, Relva notou que
algo não estava certo. Os animais não a seguiam como fazem quando as fadas
cantam.
Em cima de uma árvore, um serelepe
ratinho a observava.
— O que há bruxinha? — ele perguntou.
— Algo está lhe incomodando?
— Como sabe que sou uma bruxa? Não
pareço uma fada?
— Sim, até que parece, mas não tem
aquilo que as fadas têm.
— Como não? Tenho asas, vestido e uma
varinha de condão!
— Fadas têm algo a mais. Elas
possuem o olhar das fadas! Olhos que brilham!
Relva foi para casa muito pensativa e
decidida a encontrar uma forma de fazer seus olhos brilharem como os das fadas.
O dia nasceu e no céu havia um lindo
arco-íris. Ela observou atentamente pela janela do seu quarto.
De repente, surgiu a grande ideia!
— Farei óculos de arco-íris e meu
olhar será brilhante como o das fadas!
Ela pegou sua varinha, girou no ar e
apontou para a mesa da sala. Num toque de mágica surgiram os óculos de
arco-íris. Eles brilhavam tanto que a casa da bruxinha se iluminou. Então, ela
se vestiu e colocou seus novos óculos, e em seguida partiu para a floresta
cantarolando ainda mais alto que no dia anterior.
Mas, mais uma vez, nada aconteceu… Os
animais continuavam escondidos, uns poucos olhavam de suas tocas com
curiosidade.
A coruja, muito sábia, resolveu
opinar.
— Relva, minha querida, a quem você
quer enganar? Não se parece com uma fada, ninguém vai acreditar!
Pobre Relva… Baixou a cabeça e voltou
para sua casa sem saber o que fazer. Os óculos de arco-íris não brilhavam como
deveriam…
A bruxinha pensou, pensou, até que a
noite chegou.
Olhando para o céu, ela viu a estrela
mais brilhante e imaginou que, com o brilho de uma estrela no olhar, todos a
veriam como fada!
Mais uma vez pegou a varinha, girou
no ar e num passe de mágica surgiram os novos óculos, desta vez de estrelas,
ainda mais lindos e brilhantes do que os primeiros. Então foi dormir, pois já
era muito tarde.
O dia ainda estava clareando quando
Relva acordou e começou a se arrumar. Logo saiu toda vestida de fada para a
floresta encantada. Ao chegar, notou que os animais riam dela. Quando perguntou
o motivo, a serpente debochadamente respondeu:
— Você está toda vestida de fada, mas
sabemos que não é uma delas. Falta o brilho no olhar, você não o possui.
Relva não sabia como conseguir o tal
brilho, não era o do arco-íris nem o das estrelas… Estava chateada e cansada
demais, decidiu que não iria mais tentar. Deitou-se na grama e começou a olhar
as árvores, com o tempo foi se acalmando e começou a esquecer o que lhe
aborrecia. Avistou um passarinho construindo seu ninho, ele ia para lá e para
cá juntando gravetos.
Distraidamente, Relva pegou um
raminho ao seu lado e entregou ao passarinho que ficou muito agradecido. Feliz
por ajudar, notou um castor na represa, roendo suas toras, e deu uma mãozinha.
Quando a noite chegou, Relva havia
feito muitos amigos e ajudado a todos. Então foi para casa, pois estava muito
cansada, mas também muito satisfeita por ter ajudado seus novos amigos.
Quando chegou, viu todos os animais
reunidos, olhando admirados para ela. A bruxinha não entendeu o motivo,
pensou que havia esquecido algo ou que tivesse vestido a roupa pelo avesso, mas
nada estava fora do lugar.
A coruja exclamou:
— Relva, seus olhos brilham!
— Como os olhos de uma fada? —
perguntou ansiosa.
— Bem, não exatamente, mas estão
muito parecidos…
— Ah, que pena. Mas, se meus olhos
estão brilhando, deve ser um bom sinal! Não é mesmo?
— É sim! O poder do amor, Relva! Ele
é mais importante que qualquer magia no mundo encantado. Quando ajudamos nossos
amigos sem esperar nada em troca e cultivamos nossas amizades, nossos olhos
brilham cheios de amor como os olhos das fadas que cuidam da floresta. E você
está cheia de amor!
Relva ficou muito satisfeita. Mesmo
não tendo se tornado uma fada como queria, aprendeu que quando paramos de
pensar apenas em nós mesmos, conseguimos ser verdadeiramente felizes. Daquele
dia em diante, Relva, a bruxinha que queria ser fada, ganhou fama de amiga e
protetora da floresta.
Nathália Pimentel.
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