Era uma vez uma bruxa que vivia infeliz. Ela queria, na verdade,
ser a única criatura feliz do planeta Terra. Então, sempre que via outra pessoa
realizando seus sonhos, seu coração se enchia de raiva e inveja.
E essa bruxa ficava pensando em mil maneiras de acabar com
aquela felicidade. Inventava fofocas, debochava de todas as conquistas dos
outros, porque, na cabeça da bruxa, só ela merecia ser realmente feliz.
– Eu sou muito inteligente, sou muito esforçada e trabalhadora. Eu
mereço toda a alegria do planeta Terra – costumava repetir.
Bruxa Infeliz andava sempre com uma nuvenzinha negra em cima da
cabeça. Nela, guardava todos seus sentimentos de inveja, orgulho e vaidade.
E ela costumava soprar essa nuvem na cabeça de todas as pessoas
que via sorrir, porque assim, ela sabia que a alegria daquela pessoa logo se
desfaria em um mar de pensamentos negativos.
Bruxa Infeliz tinha especial inveja pela Fada Alegria.
Alegria era pura felicidade. Também muito esforçada e
trabalhadeira, Alegria gostava de oferecer o que tinha de melhor aos outros.
E assim, não somente ela sentia-se imensamente feliz, como dava
felicidade a todos os que estavam à sua volta.
Alegria estava sempre cercada de sentimentos bons, e em sua
cabeça brilhava um radiante arco-íris.
Certa vez, uma jovem senhora veio contar à Alegria da felicidade
em que estava, pois seu marido, que vivia desempregado, finalmente conseguira
um excelente emprego.
– Uau, que maravilha! – exclamou Fada Alegria – Eu
disse a você que pedisse a seu marido para conversar com o rei! Eu sabia que no
palácio estavam precisando de um jardineiro.
Já Bruxa Infeliz, que ouvia de perto a conversa, foi logo
retrucando:
– Tomara que seu marido fique nesse emprego, né! Ele nunca tem
sorte com nada! É bem capaz de acabar com as roseiras reais!
– disse e soprou de sua nuvenzinha na cabeça da jovem, que ficou meio temerosa:
– Será mesmo? Eu nem tinha pensado nisso! Realmente Alfredo nunca
trabalhou com roseiras tão bem cuidadas. Será que ele vai conseguir mantê-las
belas?
- É claro que sim! Pense positivo. Diga a seu marido que aprenda
cada vez mais sobre o ofício da jardinagem. Não fique temerosa
– foi logo retrucando Fada Alegria,
abanando aquela nuvem cinzenta da cabeça da moça.
abanando aquela nuvem cinzenta da cabeça da moça.
A jovem senhora saiu otimista. Estava novamente alegre, e agora
iria falar com o marido para se preparar cada vez melhor para o novo emprego!
Bruxa Infeliz olhou Fada Alegria com ar de desprezo, e foi logo
dizendo:
– Você, Fada, é mesmo uma boba! Fica iludindo esses pobres
coitados com essa alegria tola! Não vê que o marido dessa moça é um preguiçoso?
Eu aposto que o emprego dele não dura uma semana sequer!
Fada Alegria nem gastou tempo em responder. Foi logo tomando o
caminho de casa, com um belo sorriso nos lábios.
Bruxa Infeliz fez um bico e também voltou para sua casa. Era até
arrumadinha, porém, o clima de tristeza e solidão dava à construção um ar de
abandonada.
Infeliz gostava de passar horas e horas ali dentro, lia centenas
de livros. Isso porque adorava menosprezar as pessoas com menos estudo do que
ela. Gostava de exibir o “conhecimento adquirido” nas leituras.
A verdade é que Bruxa Infeliz ia se tornando cada dia mais
sozinha. Muitas pessoas já evitavam ficar perto dela, pois sabiam que teriam de
ouvir um bocado de piadinhas e desaforos.
Já com Fada Alegria acontecia exatamente o contrário. As pessoas
gostavam de procurá-la para conversar e pedir conselhos. Não lhe faltava boas
companhias.
E Bruxa Infeliz, ao ver a felicidade da fada, ficava muito
indignada. Pois ela sentia-se muito superior à Alegria. Simplesmente não
conseguia entender como Alegria podia ter mais amigos e muitas coisas melhores
do que ela.
E, sempre que podia, Infeliz simplesmente soprava toneladas de
nuvens negras sobre a casa de Alegria, para ver se um grande temporal destruía
toda aquela felicidade.
Até que um dia ela conseguiu:Uma terrível tempestade
Um dia a magia funcionou. Sobre a casa de Alegria veio uma grande tempestade. Alegria viu-se envolvida com pessoas que não tinham uma conduta correta e, apesar de suas boas intenções, foi acusada de ter roubado tesouros do castelo real.– Ah! Eu sabia! Eu sabia que aquela Alegria não havia conseguido todas as coisas boas que tem na vida com honestidade e trabalho! Ela não passa de uma vigarista. Eu sim, sou honesta e trabalhadora, e consegui tudo que tenho apenas com o suor do meu rosto – comemorava Infeliz.
Porém, as pessoas que amavam Alegria sabiam que ela era incapaz de fazer qualquer maldade. Elas ficaram tristes ao ouvir tais notícias, e logo correram para acudir a amiga.
E, enquanto Bruxa Infeliz festejava a ideia de ver Alegria na prisão, a boa fada tentava viver sua vida da mesma forma de sempre.
Embora triste e envergonhada com toda aquela situação, não deixava de fazer o bem às pessoas e acreditar na Justiça.
– Pois minha consciência é limpa – repetia sempre.
Certa vez vieram guardas na casa de Alegria. Iriam convocá-la para uma audiência com o severo rei.
Infeliz, que a tudo assistia da janela, saiu correndo para ver de perto aquela cena. Achou que fossem prender Alegria. Pensou que iriam levá-la algemada para o palácio.
– Esperem, esperem só um minuto. Quero tirar uma foto. Sou jornalista policial – mentiu. Devemos registrar essa cena para toda a história.
Os guardas estranharam a felicidade de Infeliz. Nunca viram alguém tão animado com a prisão de uma pessoa.
Tiveram compaixão de Alegria. Viram toda tristeza nos olhos da fada. No fundo, não podiam acreditar que criatura tão doce fosse culpada de acusação tão séria!
– Não se preocupe Alegria! – disseram. Com certeza o rei há de conversar com você e verá que não tem culpa nessas acusações. Estamos todos torcendo por sua felicidade!
Alegria deu um sorriso encantador. Animou-se com a bondade dos policiais. Ofereceu a eles bolo e cafezinho. E os homens da lei, encantados com tamanha gentileza, ficaram um bom tempo papeando com a fada.
Infeliz ficou morrendo de raiva. E, desde então, criou o hábito de sempre andar com um calendário na mão. Desde que soubera a data marcada para a audiência de Alegria, contava nos dedos cada minuto que antecedia a prisão da fada.
O grande julgamento
E o dia finalmente chegou. Seria realizado um grande julgamento público no castelo. O rigoroso rei queria dar uma grande lição nos malfeitores. Começou a sessão. E um a um, os acusados foram trazidos à sua real presença.Assim que viu Alegria, com um sorriso tímido nos lábios, o rei estranhou.
Era um homem vivido e experiente. Sabia perceber de longe um mau caráter. E logo percebera que naquela alma havia muita doçura. Porém, teve de prosseguir com o julgamento.
Leu as graves acusações contra Alegria, pediu provas e testemunhas de sua inocência. Assustou-se.
Uma fila de pessoas formou-se em frente ao rei. E todos só tinham coisas maravilhosas para falar sobre a fada. Inclusive a senhora a quem ela prestara socorro bem no dia do assalto ao castelo.
– Sim, majestade, eu e minhas colegas somos testemunhas que naquela mesma tarde Alegria estava conosco no asilo, conversando e ajudando-nos com nossos bordados.
O rei ficou surpreso. Reuniu seus conselheiros. Releu todas as acusações contra Alegria. Depois, comparou-as com os inúmeros testemunhos que ouvira. Pensou por um momento e sentenciou:
– Sra. Fada Alegria, eu, como rei e autoridade máxima desta gloriosa nação, peço-lhe desculpas públicas por todos os constrangimentos pelos quais passou. A senhora não somente é uma criatura inocente, como uma dama exemplar. E não apenas me desculpo publicamente, como ofereço, se for do seu agrado, o cargo de babá real. Seria ótimo que os filhos do rei fossem educados por alguém tão especial.
Alegria ficou tão emocionada e feliz que o arco-íris que trazia sobre sua cabeça voltou a brilhar como antes. Os muitos amigos da fada também comemoraram a justa decisão real, e fizeram uma grande festa para celebrar os acontecimentos.
Bruxa Infeliz ficou muito triste com aquela situação. E mais triste ainda de ver a grande festa que os amigos deram para a fada.
– Eu sou muito honesta e esforçada, nunca me meti em confusão. Por que meus amigos nunca me deram uma festa tão bonita quanto a de Alegria? – resmungava.
Infeliz ficou tão triste que adoeceu. Só de pensar na alegria da fada, gemia de tristeza. Fada Alegria, que não perdia a oportunidade de ser agradável, foi cuidar da bruxa.
Passava com ela alguns momentos, onde tentava reanimá-la e fazê-la levantar da cama. Tentava abanar aquelas nuvens negras de sobre a cabeça de Infeliz, mas qual! Quanto mais Alegria tentava ajudar, mais a bruxa tratava de piorar.
Demorou muito tempo, mas finalmente bruxa Infeliz se recuperou de todo aquele rancor. E voltou à sua rotina de espalhar nuvens negras na cabeça de todo mundo.
Alegria finalmente pode voltar também às suas atividades. E, durante o tempo em que teve de cuidar da bruxa, acabou ficando craque em fazer borboletas coloridas de papel.
Agora ela podia dependurar seus enfeites por toda cidade, deixando-a ainda mais bela, cordial e feliz. E claro, todo mundo agradecia a bela fada pelo gracioso enfeite.
Inclusive o rei pediu a ela que fizesse uma borboleta e-nor-me, para enfeitar o jardim real.
Infeliz, é claro, disse que era horrível, de um mau gosto incrível. –Agora temos de esbarrar com esses monstrinhos por todo lugar. – resmungou.
Cintia Amorim.
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