A busca do tesouro






A pequena princesa está há cinco dias de visita em casa do pequeno rei. Durante todo esse tempo não se aborreceram um único minuto mas hoje estão sentados nas escadas no palácio e não parecem muito alegres. Já jogaram os jogos todos, visitaram as torres todas, comeram a reserva de doces que havia na despensa e a despedida aproxima-se.
— No meu último dia vamos ficar aqui sem fazer nada? — pergunta a pequena princesa impaciente.
— Bem… — diz o pequeno rei — acho que sei o que ainda podíamos fazer.
— Sim? Ora diz lá! — pede-lhe a pequena princesa, curiosa.
— Pronto!
O pequeno rei vai ao quarto, tira da gaveta da secretária uma caixinha de ouro e abre-a.
— Eu tenho uma carta antiquíssima de um tesouro — sussurra misteriosamente, ao abri-la.
— Oh, ótimo! — a pequena princesa bate palmas, entusiasmada e depois começam a estudar o mapa em conjunto.
— Aqui é o castelo — diz o pequeno rei, apontando com o dedo para a parte de baixo do mapa.
— E daqui segue-se para esta árvore. Anda! — ordena a princesa.
Os dois correm para fora de casa.
— Oh, tantas árvores! Qual será a árvore certa?
— A que for parecida com uma ovelhinha.
— Está aqui!
As duas crianças reais correm para a árvore de copa um tanto singular.
— E a partir daqui?
— Está um olho marcado ao lado da árvore — murmura o pequeno rei.
A pequena princesa descobre um buraco num nó de um ramo e espreita por ele.
— Estou a ver um montículo.
O pequeno rei alegra-se.
— Oh! Isso também vem marcado no meu mapa!
Quanto mais a princesa e o pequeno rei se aproximam do objetivo, mais se entusiasmam.
— Primeiro precisamos de cinco sapatos — pondera o pequeno rei.
— Porquê?
— É assim que está no meu mapa.
A pequena princesa já tem uma ideia: cinco sapatos são cinco passos para a esquerda.
— Ele tem de estar aqui! Viva! — os dois caçadores de tesouros dão as mãos e dançam em roda aos saltos.
— Temos um tesouro, temos um tesouro! — cantam alegremente. A pequena princesa senta-se sem fôlego no chão e diz:
— Vá, começa!
— O quê? — pergunta o pequeno rei.
— Então! A escavar!
O pequeno rei olha para a princesa muito admirado.
— Aaa… Não tenho pá nenhuma … e já descobri o mapa do tesouro. Tu é que tens de cavar.
— Uma princesa não pode andar por aí a cavar. Sê um cavalheiro e faz isso pela tua visita, está bem? — a pequena princesa pisca o olho ao pequeno rei e acrescenta: — Vais buscar uma pá?
— Não, tenho uma ideia muito melhor. Greta! Au-Au! Tigre! Vinde todos aqui! Encontrámos um tesouro. Vinde todos ajudar!
Os amigos chegam a relinchar, a ladrar e a bufar. Mas Au-Au não precisa de ajuda e faz tudo sozinho e, além do mais, ainda se diverte. Cavou um buraco no chão arenoso e fofo à velocidade do vento. O pequeno rei, a pequena princesa, Greta e os outros estão um pouco afastados para não receberem com a terra. Agora já nem se vê Au-Au.
— O tesouro está muito fundo! — comenta a pequena princesa.
— É esquisito. Para, Au-Au, há aqui qualquer coisa que não bate certo! — o pequeno rei olha pelo buraco e ajuda Au-Au a trepar para fora.
— Ora bem, não entendo. Porque é que não está cá nenhum tesouro, quando fui eu mesmo que fiz o mapa?
— Hiii! — Greta relincha um resmungo.
— Au, au, au! — ladra Au-Au indignado.
E a pequena princesa até dá um empurrão ao pequeno rei.
— Como? Uma carta do tesouro feita por ti? Então bem podemos procurar durante muito tempo! — ofendida, cruza os braços e vira a cara para o lado. O pequeno rei volta a estudar novamente o mapa.
— Vamos lá ver outra vez… Primeiro estivemos aqui e depois… Oh, já sei! No monte seguimos na direção errada. Não é para a esquerda, mas para a direita. Venham, vamos tentar outra vez.
O pequeno rei vai a correr à frente e os outros seguem atrás devagar.
— Desta vez estamos bem. Venham! Onde é que estão? Venham ajudar-me!
— Auuuuuu — uiva Au-Au. Ele já cavou. Greta faz de conta que está a coxear e a pequena princesa limita-se a dizer:
— Pf!
— Ajudai-me, que eu dou-vos do meu tesouro!
— Não — diz a pequena princesa abanando a cabeça.
— Pronto, eu faço sozinho e fico com tudo para mim!
O pequeno príncipe começa a cavar e, passado um momento, exclama:
— Oh, está aqui alguma coisa dura!
Os amigos apuram o ouvido mas não se aproximam. O pequeno rei continua a escavar.
— Está aqui uma caixa! Ahh, eu sabia! É o meu tesouro! Iupi!
Com muito esforço, o pequeno rei retira a caixa da terra mas, mesmo assim, ninguém o ajuda, pois estão todos muito surpreendidos. O pequeno rei sacode a terra do velho baú e abre-o.
— Hiiii! — relincha Greta admirada. E a pequena princesa fica de boca aberta.
— Descobriste um tesouro verdadeiro? Não é possível! Isso nem era nenhum mapa a sério! Ou seria?
Por cima da tampa do baú, o pequeno rei olha para os amigos, que ainda não deitaram uma olhadela à sua caixa.
— Claro que era verdadeiro! Não estão a pensar que eu ia fazer um mapa sem um tesouro verdadeiro, pois não?
Os amigos olham de boca aberta.
— Claro que não esqueci o tesouro. Uhm! E que coisas deliciosas estão na caixa! Ossos tenros, boas cenouras, cerejas e bolos. Oh, e até uma bola para jogar! Que pena vocês não quererem nada disto…
À volta do pequeno rei, todos ficam embaraçados.
— Isto é alguma surpresa de despedida? — pergunta a pequena princesa baixinho.
— Bem, talvez — responde o pequeno rei. Todos se aproximam e espreitam, curiosos para dentro da caixa.
— Só mesmo tu! Primeiro esqueces-te da pá e agora faltam as facas e os garfos.
— Mas nunca me esqueci do mais importante. Do que se precisa numa busca ao tesouro? De um mapa e de um tesouro. E de que é que se precisa para comer um tesouro? De uma única coisa: de amigos que comam conosco, ah, ah, ah!
O pequeno rei também tem uma toalha de piquenique dentro da caixa. Foi, assim, um belo lanche de despedida para a pequena princesa. E ela já sabia o que iria oferecer-lhe na próxima visita: uma pá. Pelo sim, pelo não…

Hedwig Munck
Der kleine König sagt “Gute Nacht”
Plauen, Junge Welt, 2003
Tradução e adaptação

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