Certo dia, Paulina chegou à escola
com uma pergunta esquisita na cabeça. No dia anterior tinha ouvido as
pessoas grandes falarem da cor do seu tio. Elas tinham dito que o seu tio era
negro. Paulina, no entanto, olhou atentamente para ele e achou-o normal. Então
perguntou à professora:
— É mau ser negro, senhora professora?
A professora ficou espantada, sem
voz, procurando uma resposta para a pergunta da Paulina. E foi assim que tudo
começou.
Quando a professora se levantou,
apontou para o armário no fundo da sala de aulas. Como que por magia, as tintas
guardadas no armário acordaram e, todas juntas, começaram a falar das cores.
As crianças olhavam espantadas.
Depois, as tintas aproximaram-se das crianças e começaram a dançar. Colaram-se
ao grande quadro negro e misturaram-se formando mil e uma cores cada vez mais
variadas e mais bonitas, como que para fazer o rosto da alegria. Todas as crianças
estavam maravilhadas e fizeram uma grande roda à volta das cores.
E as cores murmuraram:
— Nós somos as cores, as cores da
vida! E para ver a vida cor-de-rosa é preciso abrir o coração, porque nada nem
ninguém é completamente negro ou branco.
As crianças, então, dançaram e
cantaram as cores da vida. Depois pararam, olharam à sua volta, e as cores
voltaram a murmurar:
— Cada um tem a sua cor, cada um tem
a sua beleza, as cores da vida vivem em cada um de vós, encontrai o vosso
arco-íris!
A primeira a começar foi a Camila.
Ficou com a cara vermelha ao pensar no Sebastião em segredo.
Depois o Pedro pôs-se a dançar como
um louco; girava, girava, girava numa dança encantada e quando parou sentiu-se
mal e ficou com a cara verde!
O Cláudio riu tanto que quase se
engasgou e ficou com a cara azul! A Maria, ao ver que o Cláudio quase se
engasgava, ficou com a cara branca de susto.
As bochechas cor-de-rosa do Quim
mostravam que ele estava bem-humorado. Diante desta excitação geral, a
professora poderia ter ficado com a cara negra de irritação e parecer-se com a
Paulina, mas não, ela estava feliz.
As crianças olharam umas para as
outras: eram todas diferentes mas, de mãos dadas, elas eram apenas crianças de
todas as cores que tinham acabado de compreender que o rosto da felicidade só
se desenha com cores.
A professora agradeceu às cores e
elas partiram para os seus lugares no armário ao fundo da sala. Depois sorriu
para a Paulina e disse-lhe:
— A verdadeira cor do homem é aquela
que ele tem no seu coração!
Sandrine Monnier-Murariu
Histórias para sonhar
Porto, Civilização Editora, 2004
Histórias para sonhar
Porto, Civilização Editora, 2004
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