Era uma vez uma menina chamada
Minucha, que vivia no país das fadas e que passava o dia inteiro a ver
televisão. Até as fadas têm defeitos, é verdade! Do que ela mais gostava não
era dos documentários ou dos desenhos animados. Era… da publicidade.
É que até as fadas têm
necessidade de um pouco de sonho e de muita magia. E a publicidade fazia
sonhar, e de que maneira! Todos aqueles brinquedos, todos aqueles objetos que a
televisão propunha, mesmo que fossem só em imaginação, eram inacreditáveis.
Havia um foguetão telecomandado que ia até à lua, um submarino de tamanho
natural, um audioformiga para compreender a língua dos insetos, uma
boneca que fazia gelados de morango, etc. Assim, quando chegava a publicidade,
o coração de Minucha batia muito rápido, as faces ficavam coradas e os olhos em
bico.
A vontade chegava,
incontrolável. Primeiro, parecia um buraco no estômago, depois um formigueiro
na barriga, a seguir uma ideia fixa na cabeça, e finalmente uma voz estridente
a gritar: “Quero! Vou comprar! Quero, e hei de ter.” E aquele mal-estar não a
largava, até ao momento de, finalmente, conseguir o objeto.
No país das fadas, mesmo sem
dinheiro e graças ao pó mágico, consegue-se tudo o que se quer, exceto as
varinhas de condão. Estas só são entregues pela Academia das Fadas. Minucha
conseguia todos os objetos: o foguetão telecomandado, a boneca pasteleira, o
submarino de tamanho natural, o robô que arruma o quarto.
Durante um ou dois segundos,
Minucha ficava muito contente. Ria sozinha, cantava, corria por todo o lado,
mas, a partir do momento em que possuía o brinquedo, ficava inevitavelmente
desiludida. O robô só funcionava com pilhas que eram difíceis de encontrar, o
foguetão não regressava da lua, os gelados de morango sabiam a plástico. Em
conclusão, a magia desaparecia quando o objeto se tornava real.
Mesmo assim, Minucha não se
cansava de ver a publicidade, que conta tão lindas histórias e cria em nós a
vontade de possuir o mundo inteiro!
Então, lá voltava o carrossel:
buraco no estômago, comichão, ideia fixa, voz a gritar “Quero e hei de ter!”,
um brinquedo a sair da televisão, e uma grande crise de lágrimas por causa da
decepção. Já não tinham conta os brinquedos que se acumulavam no sótão, ainda a
brilhar de novos, as bonecas, os comboios que já não apitavam, os novos
carrinhos, uns mais rápidos do que outros, os novos cereais para o
pequeno-almoço com o brinde que a televisão tinha mostrado!
Certo dia, ao ligar a televisão,
Minucha sentiu o coração bater ainda mais rápido, as faces ficarem ainda mais
vermelhas. No pequeno ecrã, uma pequena feiticeira apregoava as qualidades de
uma varinha de condão.
— Com uma varinha prateada, o
teu Q. M. (Quociente Mágico) será mais elevado e farás maravilhas! Com a
varinha preciosa, serás a mais feliz das fadas.
A pequena feiticeira enumerou,
em seguida, todos os fabulosos truques de magia que se podiam fazer com a
varinha de condão: transformar uma princesa em orangotango, uma mãe em pai, um pai
em avó, uma panela de pressão em chapéu de madrasta, um pedaço de chocolate num
quadrado de açúcar… Oh! Como a pequena fada gostaria de ter uma!
Mas lembra-te de que as pequenas
fadas podem conseguir tudo, exceto as varinhas de condão.
Quando tomou consciência daquela
atroz realidade, Minucha quase arrancava os cabelos. Era a primeira vez que não
podia calar a voz estridente: “Eu quero, eu hei de ter!” Tinha o coração cheio
de amargura. Se não podia transformar uma princesa em orangotango e uma gazela
em três sapos, uma panela de pressão em chapéu de madrasta e um pedaço de
chocolate em açúcar, de que lhe servia viver? Dava voltas na cama a matutar
como haveria de fazer para conseguir uma varinha de condão prateada que fizesse
maravilhas.
Uma noite, depois de ter dado
1678 voltas na cama, apareceu à sua frente a fada-madrinha, aquela que vem
socorrer as pequenas fadas que estão desesperadas. Quando Minucha lhe explicou
que não conseguia dormir por causa da varinha de condão prateada que fazia
maravilhas, a madrinha desatou às gargalhadas.
— Porque te ris? Não tem graça
nenhuma! — resmungou Minucha.
Mas a madrinha não parava de
rir.
— É a Fada Publicidade! A
marota! Diz o que lhe vem à cabeça e raramente cumpre as suas promessas. Se
queres saber, ela é um pouco feiticeira… Quando vê uma criança diante da
televisão, esfrega as mãos de contente e põe-se a fazer chacota lá do seu
canto: “Ah, ah, ah! Aqui está mais uma que caiu em meu poder…” É assim aquela
tonta. A única coisa que lhe interessa é ser a rainha do mundo! — E a
fada-madrinha fez um ar muito sério. — A sua varinha prateada é como outra
varinha qualquer, só que brilha um pouco mais.
A pequena fada teve uma crise de
cólera: bateu o pé, atirou o edredão ao ar, deitou brinquedos pela janela fora.
Depois acalmou-se e começou a refletir.
Não desistiu de ver televisão
mas, quando a ligava e começava a sentir a comichão no estômago, a ideia fixa,
o coração a bater mais rápido, isto é, a vontade de possuir o brinquedo da
televisão, ela via a Fada Publicidade, lá no seu canto, a rir e a esfregar as
mãos de contente:
— Sonha, minha filha, sonha! Em
breve serei a rainha do mundo! Todas as crianças serão minhas!
Então, Minucha desligava a
televisão e dizia muito alto:
— Não, não, fada má! Desta vez
não vais apanhar-me! O teu brinquedo parece mágico, mas não é!
E era ela que ria à socapa,
imaginando a fada verde de raiva. E dizia para consigo:
— De nós as duas, sou eu a mais
forte!
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