Lá ia a centopeia
pensando com seus botões.
―Mas que vontade de
voar, pensou, ao ver a andorinha lá no alto.
―Mas que vontade de
nadar, pensou ela, quando viu o peixinho vermelho fazer maravilhas dentro da
água.
―E cantar como o
curió, que dobra suas notas que é uma beleza!
―É, mas centopeia não
voa, não nada e nem canta, concluiu com tristeza. ―Tenho que me conformar e
ficar andando com minhas cem perninhas e ainda achar bom.
Aí ouviu uma vozinha
que chegava do alto de uma árvore. Era a andorinha, que lhe disse:
– Dona Centopeia, estou vendo que a senhora tem vontade de voar.
– É verdade —
respondeu –, mas não posso, não tenho asas, só tenho perninhas, que servem para
andar mas não para voar.
– Mas a senhora pode voar comigo, nas minhas costas!
– Será mesmo que posso
realizar esse sonho, ir lá em cima, nas nuvens, ver tudo do alto?
– É claro que pode, venha!
Mais que depressa a
centopeia subiu nas costas da andorinha, que saiu voando. Em poucos instantes
já estava lá no alto. Era uma maravilha ver tudo ficar pequeno ali embaixo.
Como o mundo era grande lá de cima, e bonito, azul, e que ventinho gostoso ela
sentia. Nem teve medo, de tão animada que estava com a experiência. ―Devo ser a
primeira centopeia do mundo a voar, pensou ela com suas perninhas.
– Vamos descer, dona Andorinha, é
emoção demais. E desceram.
– Quando quiser voar de novo é só falar — disse a andorinha, e sumiu
no céu como um raio.
―Voar foi possível, pensou a
centopeia. ―Mas nadar não tem jeito, aí só sendo peixe mesmo. Ela, então,
ouviu outra vozinha que vinha da água.
– Ei, dona Centopeia, a senhora tem vontade de nadar? Ir lá no fundo e
descobrir um outro mundo colorido?
– Mas como, seu Peixinho? Será
possível? Não vou morrer afogada?
– Não — disse o peixinho – a
senhora sobe nas minhas costas, se agarra direitinho e prende a respiração por
uns minutos. Boca fechada e olhos bem abertos. Vai dar certo. — E deu
mesmo.
A centopeia subiu nas costas do
peixinho, prendeu a respiração e… foi outra maravilha! Como era bonita a água
azul, limpa, cheia de outros peixinhos coloridos.
A centopeia levou um susto enorme
quando apareceu um peixão. ―E se ele pensar que sou uma minhoca? Mas não
pensou. Nadar era uma maravilha. A vida debaixo da água é outra coisa. Mas só
para quem consegue prender a respiração por bastante tempo, e ela já estava
aflita para subir. E subiram.
– Obrigada, seu Peixinho, foi uma
beleza!
– Quando quiser nadar de novo é só falar — disse o peixinho – Mas tenho outra surpresa para a senhora.
O peixinho pegou uma conchinha,
amarrou num barbante fino e disse:
– Suba, dona Centopeia, vamos
correr por cima da água! — E saiu nadando, puxando a centopeia a uma
velocidade incrível. Foi o máximo! É, a coisa estava ficando boa. Ela, uma
simples centopeia, já havia voado e nadado, e não tinha asas nem era peixe!
Mas cantar como o curió, isso sim
que não podia nem deveria haver jeito. Não tinha voz, não sabia produzir uma
melodia. Mas de novo a centopeia ouviu uma voz, que desta vez vinha lá do alto
de uma laranjeira. Era o curió, que dizia:
– Olha, dona Centopeia, cantar a gente aprende. Tem gente que sabe educar a
voz e canta que é uma beleza. Mas eu tenho uma coisa melhor que cantar: é tocar
uma flautinha.
– Como pode ser isso, seu Curió?
– Eu faço uma flauta de bambu bem feitinha, ensino as notas para a senhora
e aí podemos tocar e cantar juntos.
– Essa eu nem acredito.
– Mas vai acreditar.
E o curió fez uma flautinha com um
som muito doce e bonito. A centopeia ficou tão entusiasmada com as aulas que
aprendeu logo. Ela tocava bonito, e todos os bichos da floresta iam ouvir a
centopeia flautista.
A centopeia agora tinha um último
desejo: pular de galho em galho lá no alto das árvores da floresta. Mas como,
se não conseguia nem dar uns saltinhos aqui na terra? Foi quando chegou o
macaco, com um riso bem esperto nos lábios.
– Se a senhora quiser saltar, é só subir aqui nas minhas costas e se
segurar bem.
– Claro que quero! Vai ser muito
divertido ir saltando por aí de galho em galho!
E foi uma algazarra. O macaco
pulando, gritando e rindo, com a centopeia agarradinha nas suas costas. Parecia
um circo, o macaco era mestre no salto.
A noite foi chegando e
a centopeia estava muito feliz com todas as aventuras daquele dia. De repente
se deu conta do que havia acontecido: ela não sabia que tinha tantos amigos na
floresta e que tudo o que ela não conseguia fazer sozinha ela podia fazer com a
ajuda dos outros bichos. Podia voar sem ser pássaro, nadar sem ser peixe,
cantar sem ter voz e pular sem ter pernas e braços de macaco.
– Quem tem esses amigos pode tudo — concluiu ela. — Juntos vamos muito
longe!
Autor Desconhecido
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