Maluquinha, eu? Eu não! Não sou
nenhuma maluquinha! Quem me pôs esse apelido foi aquele menino de casacão e panela
na cabeça.
Ele me botou esse apelido quando eu
fui brincar na casa do Mauricinho. Eu nem queria ir. Mas a mãe dele telefonou
pra minha mãe, ela disse que o Mauricinho era muito tímido e que ela queria que
ele brincasse com umas crianças mais... Não sei o que ela disse, acho que ela
queria que ele brincasse com umas crianças mais descoladas... aí minha mãe me
encheu um pouco e eu acabei indo.
A gente chegou na casa do Mauricinho
e foi logo almoçar. E depois do almoço a mãe dele botou a gente pra fazer a
lição. Eu não me incomodo de fazer lição logo depois do almoço, porque eu fico
logo livre.
Mas a mãe do Mauricinho começou a
fazer uns discursos sobre responsabilidade e coisa e tal, que a gente já era
grandinha e tinha que cumprir com os compromissos... Um saco! Eu tô careca de
saber disso! E então eu fiz minha lição correndo e o Mauricinho ficou lá toda a
vida, ele não acabava mais de fazer a lição dele. Aí eu comecei a rodar pela
casa até que encontrei um gato. Gato não, gata. Chamava Pom-pom. Ou era
Fru-fru... Ou era Bom-Bom, sei lá. E eu peguei a gata e ela estava meio fedida.
Então eu resolvi dar
um banho nela. Gato não gosta de banho, vocês sabem. Mas meu avô tinha me
contado que quando ele queria dar banho no gato ele botava o bicho dentro da banheira
e ele não conseguia sair e meu avô dava banho à vontade!
Mauricinho tinha
um banheiro dentro do quarto dele. Quando eu fui chegando perto da banheira a
gata arrepiou toda e eu joguei ela bem depressa lá dentro e tapei o ralo e
enchi de água.
E esfreguei a
gata todinha com um shampoo todo perfumado que tinha lá e eu estava achando que
todo mundo ia gostar de ver a gata toda limpinha. A gata estava muito infeliz e
ela miava miaaauuu... e tentava sair do banho, mas meu avô tinha razão: ela arranhava
a parede da banheira, mas não conseguia sair.
Mas acho que aí
caiu shampoo no olho da gata, porque ela deu um pulo e agarrou na minha roupa e
conseguiu pular fora e saiu correndo, espalhando espuma de shampoo por todo
lado e nisso a mãe do Mauricinho vinha chegando e levou o maior susto e caiu
sentada e a gata continuou correndo e assustando todo mundo e respingando tudo
de espuma. Eu não sei quem estava mais assustado: se era o Mauricinho, a mãe
dele, a gata, ou se era eu.
Eu corri atrás
da gata, mas ela pulou pela janela, atravessou o jardim, saiu pela rua e eu
atrás. Só que no meio da rua estava a turma daquele menino, aquele da panela na
cabeça, e a gata passou pelo meio deles todos e eu atrás! E eles levaram o
maior susto, cada um correu para um lado, e atrás de mim vinha a mãe do
Mauricinho e o Mauricinho e a cozinheira e o jardineiro todos correndo e
gritando e eu resolvi correr para a minha casa e me esconder lá.
Mas no dia seguinte...
a escola toda já sabia da história e aquele menino, aquele da panela na cabeça
começou a me chamar de maluquinha... Mas eu não sou maluquinha,
não! Só se for a vó dele!
Ruth Rocha
Nenhum comentário:
Postar um comentário