O Rodrigo não entendia por que precisava aprender matemática, já que a sua
minicalculadora faria todas as contas por ele, pelo resto da vida, e então a
professora resolveu contar uma história. Contou a história do Super Computador.
Um dia, disse a professora, todos os computadores do mundo serão
unificados num único sistema, e o centro do sistema será em alguma cidade do
Japão. Todas as casas do mundo, todos os lugares do mundo, terão terminais do
Super Computador. Toda a informação do mundo estará nos circuitos do Super
Computador. As pessoas usarão o Super Computador para compras, para recados,
para reservas de avião, para consultas sentimentais. Para tudo.
Ninguém mais precisará de relógios individuais, de livros ou de
calculadoras portáteis. Não precisará mais nem estudar. Tudo que alguém quiser
saber sobre qualquer coisa estará na memória do Super Computador, ao alcance de
qualquer um. Em milésimos de segundo a resposta à consulta estará na tela mais
próxima. E haverá bilhões de telas espalhadas por onde o homem estiver, desde
lavatórios públicos até estações espaciais. Bastará ao homem apertar um botão
para ter a informação que quiser.
Um dia, um garoto perguntará ao pai:
- Pai, quanto é dois mais dois?
- Não pergunte a mim – dirá o pai -, pergunte a Ele.
E o garoto digitará os botões apropriados e num milésimo de segundo a
resposta aparecerá na tela. E então o garoto dirá:
- Como é que sei que essa resposta é certa?
- Porque Ele disse que é certa – responderá o pai.
- E se Ele estiver errado?
- Ele nunca erra,
- Mas se estiver?
- Sempre podemos contar nos dedos.
- O quê?
- Contar nos dedos, como
faziam os antigos. Levante dois dedos. Agora mais dois. Viu? Um, dois, três,
quatro. O computador está certo.
- Mas, pai, e 362 vezes
17? Não dá pra contar nos dedos. A não ser reunindo muita gente e usando os
dedos das mãos e dos pés. Como saber se a resposta d’Ele está certa?
Aí o pai suspirou e
disse:
- Jamais saberemos...
O Rodrigo gostou da
história, mas disse que, quando ninguém mais soubesse matemática e não pudesse
pôr o Computador à prova, então não faria diferença se o Computador estava
certo ou não, já que a sua resposta seria a única disponível e, portanto, a
certa, mesmo que estivesse errada, e...
Aí foi a vez da professora suspirar.
Luís Fernando Veríssimo
Nenhum comentário:
Postar um comentário