Era uma vez um coelhinho que tinha as orelhas azuis da cor
do céu. Quando reparou que os outros coelhos não tinham as orelhas da mesma
cor, ficou muito envergonhado. Deixou de brincar com eles e preferiu estar
sozinho.
O único amigo que tinha era a lua que aparecia no céu à noite. O coelhinho contou-lhe toda a sua tristeza, mas a lua nunca lhe respondia.
O coelhinho decidiu sair dali e procurar um sítio onde ninguém o conhecesse.
Contudo, para onde quer que fosse, todos ficavam admirados com as suas orelhas azuis e riam-se dele.
"O meu lugar não é aqui, e a culpa é das minhas orelhas azuis."
Um dia, ao passar em frente de uma casa, encontrou no chão o chapéu de um limpa chaminés.
"É exatamente disto de que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as orelhas por baixo do chapéu.
Aprendeu a subir às chaminés, a trabalhar com a vassoura e a limpar os fogões.
— Agora pertenço à corporação dos limpa chaminés — disse o coelhinho.
Mas, certo dia, o chapéu ficou-lhe preso na chaminé e os outros limpa chaminés viram as suas orelhas azuis. Começaram imediatamente a rir e a gritar:
— Não és um limpa chaminés a sério!
O coelhinho, cheio de vergonha, fugiu dali a correr e só a lua o acompanhou.
Depois, encontrou um chapéu de cozinheiro em frente de um restaurante.
"É exatamente disto de que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as orelhas por baixo do chapéu de cozinheiro.
Aprendeu a manusear uma faca, a cozinhar legumes e a assar carne.
— Agora faço parte da corporação dos cozinheiros — disse o coelhinho.
Mas, certo dia, o chapéu voou-lhe para a sopa e os outros cozinheiros viram as suas orelhas azuis. Começaram então a rir e a gritar:
— Tu não és um cozinheiro a sério!
O coelhinho, cheio de vergonha, fugiu dali a correr e só a lua o acompanhou.
Em frente de uma casa, encontrou um chapéu de jardineiro.
"É exatamente disto que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as orelhas por baixo do chapéu de jardineiro.
Aprendeu a cavar, a plantar árvores e a cuidar de flores.
— Agora pertenço à corporação dos jardineiros — disse o coelhinho.
Mas, num certo dia, uma forte rajada de vento arrancou-lhe o chapéu da cabeça e os outros jardineiros viram as suas orelhas azuis. Começaram imediatamente a rir e a gritar:
— Tu não és um jardineiro a sério!
O coelhinho, cheio de vergonha, fugiu dali a correr e só a lua o acompanhou.
Ao passar diante de um circo, encontrou o chapéu de um palhaço.
"É exatamente disto de que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as suas orelhas por baixo do chapéu de palhaço.
No circo aprendeu a tropeçar nos próprios pés e a fazer caretas.
— Agora pertenço à corporação dos palhaços — disse o coelhinho.
Até que um dia, um macaco lhe roubou o chapéu da cabeça e os outros palhaços viram as suas orelhas azuis. Começaram a rir e a gritar:
— Tu não és um palhaço a sério!
O coelhinho, cheio de vergonha, fugiu dali a correr e só a lua o acompanhou.
Certa vez encontrou, debaixo de uma ponte, o chapéu de um vagabundo.
"É exatamente disto de que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as orelhas por baixo do chapéu de vagabundo.
Aprendeu a ser preguiçoso, a deitar-se à sombra, e a sonhar durante o dia.
— Agora faço parte da corporação dos vagabundos.
Mas, certo dia, o rio levou-lhe o chapéu e os outros vagabundos viram as suas orelhas azuis.
— Tu não és um vagabundo a sério!
Então o coelhinho não quis fugir nem usar mais nenhum chapéu. Sentou-se à beira de um regato no meio de um bosque.
— Não sou um limpa chaminés a sério, nem um cozinheiro, nem um jardineiro, nem um palhaço, e também não sou um vagabundo. Afinal, o que sou eu?
Nesse momento, a lua apareceu no céu e transformou o regato num espelho. Aí, o coelhinho descobriu outro coelhinho, ele mesmo. E o coelho tinha orelhas azuis. Quanto mais olhava para si à luz da lua, mais gostava daquelas orelhas, das suas orelhas.
Até que, de repente, descobriu: a culpa da sua infelicidade não eram as orelhas, mas sim o fato de ter sentido vergonha delas.
O coelhinho desatou a correr, e só a lua o acompanhava. Pelo caminho, encontrou os vagabundos, os palhaços, os jardineiros, os cozinheiros e os limpa chaminés. A todos mostrou, com orgulho, as suas orelhas azuis e ninguém pensou em rir-se delas.
O coelhinho ficou contente com tudo o que tinha aprendido: a subir à chaminé, a trabalhar com a vassoura, a limpar fogões, a segurar uma faca, a cozinhar legumes, a assar carne, a cavar a terra, a plantar árvores, a cuidar de flores, a tocar trompete, a tropeçar nos próprios pés, a fazer caretas, a preguiçar, a deitar-se à sombra e a sonhar.
Max Bolliger
S Risefäscht
Aarau, AT Verlag, 1990
Texto adaptado
O único amigo que tinha era a lua que aparecia no céu à noite. O coelhinho contou-lhe toda a sua tristeza, mas a lua nunca lhe respondia.
O coelhinho decidiu sair dali e procurar um sítio onde ninguém o conhecesse.
Contudo, para onde quer que fosse, todos ficavam admirados com as suas orelhas azuis e riam-se dele.
"O meu lugar não é aqui, e a culpa é das minhas orelhas azuis."
Um dia, ao passar em frente de uma casa, encontrou no chão o chapéu de um limpa chaminés.
"É exatamente disto de que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as orelhas por baixo do chapéu.
Aprendeu a subir às chaminés, a trabalhar com a vassoura e a limpar os fogões.
— Agora pertenço à corporação dos limpa chaminés — disse o coelhinho.
Mas, certo dia, o chapéu ficou-lhe preso na chaminé e os outros limpa chaminés viram as suas orelhas azuis. Começaram imediatamente a rir e a gritar:
— Não és um limpa chaminés a sério!
O coelhinho, cheio de vergonha, fugiu dali a correr e só a lua o acompanhou.
Depois, encontrou um chapéu de cozinheiro em frente de um restaurante.
"É exatamente disto de que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as orelhas por baixo do chapéu de cozinheiro.
Aprendeu a manusear uma faca, a cozinhar legumes e a assar carne.
— Agora faço parte da corporação dos cozinheiros — disse o coelhinho.
Mas, certo dia, o chapéu voou-lhe para a sopa e os outros cozinheiros viram as suas orelhas azuis. Começaram então a rir e a gritar:
— Tu não és um cozinheiro a sério!
O coelhinho, cheio de vergonha, fugiu dali a correr e só a lua o acompanhou.
Em frente de uma casa, encontrou um chapéu de jardineiro.
"É exatamente disto que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as orelhas por baixo do chapéu de jardineiro.
Aprendeu a cavar, a plantar árvores e a cuidar de flores.
— Agora pertenço à corporação dos jardineiros — disse o coelhinho.
Mas, num certo dia, uma forte rajada de vento arrancou-lhe o chapéu da cabeça e os outros jardineiros viram as suas orelhas azuis. Começaram imediatamente a rir e a gritar:
— Tu não és um jardineiro a sério!
O coelhinho, cheio de vergonha, fugiu dali a correr e só a lua o acompanhou.
Ao passar diante de um circo, encontrou o chapéu de um palhaço.
"É exatamente disto de que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as suas orelhas por baixo do chapéu de palhaço.
No circo aprendeu a tropeçar nos próprios pés e a fazer caretas.
— Agora pertenço à corporação dos palhaços — disse o coelhinho.
Até que um dia, um macaco lhe roubou o chapéu da cabeça e os outros palhaços viram as suas orelhas azuis. Começaram a rir e a gritar:
— Tu não és um palhaço a sério!
O coelhinho, cheio de vergonha, fugiu dali a correr e só a lua o acompanhou.
Certa vez encontrou, debaixo de uma ponte, o chapéu de um vagabundo.
"É exatamente disto de que estou a precisar!", pensou o coelhinho. E escondeu as orelhas por baixo do chapéu de vagabundo.
Aprendeu a ser preguiçoso, a deitar-se à sombra, e a sonhar durante o dia.
— Agora faço parte da corporação dos vagabundos.
Mas, certo dia, o rio levou-lhe o chapéu e os outros vagabundos viram as suas orelhas azuis.
— Tu não és um vagabundo a sério!
Então o coelhinho não quis fugir nem usar mais nenhum chapéu. Sentou-se à beira de um regato no meio de um bosque.
— Não sou um limpa chaminés a sério, nem um cozinheiro, nem um jardineiro, nem um palhaço, e também não sou um vagabundo. Afinal, o que sou eu?
Nesse momento, a lua apareceu no céu e transformou o regato num espelho. Aí, o coelhinho descobriu outro coelhinho, ele mesmo. E o coelho tinha orelhas azuis. Quanto mais olhava para si à luz da lua, mais gostava daquelas orelhas, das suas orelhas.
Até que, de repente, descobriu: a culpa da sua infelicidade não eram as orelhas, mas sim o fato de ter sentido vergonha delas.
O coelhinho desatou a correr, e só a lua o acompanhava. Pelo caminho, encontrou os vagabundos, os palhaços, os jardineiros, os cozinheiros e os limpa chaminés. A todos mostrou, com orgulho, as suas orelhas azuis e ninguém pensou em rir-se delas.
O coelhinho ficou contente com tudo o que tinha aprendido: a subir à chaminé, a trabalhar com a vassoura, a limpar fogões, a segurar uma faca, a cozinhar legumes, a assar carne, a cavar a terra, a plantar árvores, a cuidar de flores, a tocar trompete, a tropeçar nos próprios pés, a fazer caretas, a preguiçar, a deitar-se à sombra e a sonhar.
Max Bolliger
S Risefäscht
Aarau, AT Verlag, 1990
Texto adaptado
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