A borboleta nascera sem um pedaço das asas. Não podia andar, não podia voar. Ficou ali, na beira do caminho, desesperada e chorando muito, até aparecer uma formiga:
- Que aconteceu, linda borboleta? Por
que você
está
chorando tanto?
- Jogaram
inseticida em meu casulo. Não morri, mas minha asa cresceu
defeituosa, por isso não consigo voar e muito menos andar, pois perco o equilíbrio
e caio.
Antes que a
formiga dissesse qualquer coisa, chegou junto delas uma cigarra tocando viola e
cantando. A formiga narrou para a recém-chegada a
trágica história da borboleta e a cigarra
logo encontrou uma maneira de ajudar.
- Vamos procurar uma varinha e fazer
dela uma muleta, para que nossa nova amiguinha possa andar. Depois nós
a levaremos ao Doutor Grilo, a fim de que ele conserte sua asa.
Assim fizeram. Porém,
o Doutor Grilo nada pôde fazer para a infeliz e recomendou-lhes que fossem à
procura de um mágico que morava no alto da montanha.
- Talvez ele consiga sará-la,
mas, para chegar até ele, vocês têm que superar o medo.
- O medo! – se espantaram. – Mas
como?
- Ele tem um grande e esperto sapo
que devora qualquer inseto que por lá aparece. O sapo sente cheiro de medo
e, através
de seu faro apuradíssimo, descobre o invasor e devora-o.
- Vamos desistir – disse a borboleta.
- De jeito nenhum, estamos tentando
salvá-la
e conseguiremos – disseram, por sua vez, a formiga e a cigarra.
Não quero arriscar a vida de vocês.
Já
fizeram muito por mim. Com essa muleta poderei andar e conseguir alimento.
- Nem pense nisso. A vida de uma
borboleta é voar. Tentaremos até o fim - insistiu a cigarra.
E lá foram as três,
tentando dominar o medo que os apavorava.
Já era tarde, quando chegaram ao alto
da montanha. Logo viram o guardião dormindo a um canto do bosque. Pé
ante pé,
procuraram andar silenciosamente.
- Quem está
aí?
Sinto cheiro de medo. Acho que vou matar, agora, minha fome.
A formiga, muito esperta e matreira,
foi logo respondendo.
- Não há ninguém aqui: É
apenas o ronco de seu estômago que o acordou.
O sapo voltou a dormir e elas
atravessaram aquela parte do bosque.
- Boa tarde, senhoritas. Que desejam?
- O senhor deve ser o mágico.
Estamos aqui à procura de um tratamento para mim. Veja, falta-me uma
parte de uma das minhas asas.
- Não sou mágico, apenas um grande estudioso, que
se tornou apenas sábio e as pessoas confundem sabedoria com mágica.
- O doutor examinou a asa partida da
infeliz e disse-lhe que em maio nasceria uma flor de pétalas
finas e delicadas e então ele tentaria operá-la, costurando-lhe, na asa, a pétala
dessa flor.
As três ficaram morando no alto da montanha
até
chegar o mês de maio.
Numa manhã
de sol claro e céu azul, o doutor Coruja acordou com o grande alvoroço
que vinha do bosque. Curioso, foi verificar o motivo daquela algazarra.
Os habitantes do bosque festejavam o
nascimento da bela flor de maio.
O sábio chamou imediatamente a borboleta,
colocou-a na mesa de operação e iniciou o trabalho.
Do lado de fora, a expectativa era
geral.
Depois de algum tempo, a borboleta
saiu amparada pelas duas fiéis amigas. Em seguida subiu numa
pedra e tentou voar. Não conseguiu mas não desanimou. Tentou várias
vezes, até que, ajudada por uma suave brisa, pairou no ar e saiu
voando.
A formiga comentou:
- Coitadinha, vejam como voa torta!
Imediatamente,
a borboleta cantou:
“Se você
vir uma borboleta voando torta, não ria, não
tenha pena. Sou eu, a superar a mim mesma...”
Maria Cristina Furtado ( Adaptação )
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