Gato chama gato






Toda história de vida de um ser adotado inicia com tristeza e a minha não poderia ser diferente.  Claro que sei do início por ouvir falar, já que cheguei aqui muito pequenino.
Como cheguei, na verdade chegamos, pois conta a história que éramos dois, ninguém sabe. Simplesmente fomos descobertos pela cadela da casa, chamada Zefa, no quiosque da família de humanos. Dizem que éramos dois pedacinhos de pelo branco e olhos azuis que,  envolviam os esquelitinhos de dois gatinhos.
Aconteceu que as mulheres da casa não queriam saber de gatos, pois acreditavam no ditado humano que diz “gato chama gato” e temiam que viessem outros felinos para cá. Recebemos água e comidinha e fomos levados para um abrigo em outro terreno, ou seja, fomos abandonados novamente.
Mas os humanos daqui, principalmente o homem, que chamo de meu humano, tem um  coração muito bom e deu jeito de ir lá nos resgatar e trazer pra casa. O triste é que o meu irmãozinho já não estava mais, tinha sumido. Quando cheguei na casa, a mulher, que aprendi a chamar de vó Ivete, tratou de me dar um banho.
Gente de deus, ela me esfregou tanto que não sei como meus ossinho resistiram, mas confesso que gostei, só que a brancura revelou ainda mais o meu estado de desnutrição e, quando a outra mulher, que chamo de minha humana, chegou em casa tratou de marcar hora com uma pessoa que trata de bichinhos (parece que se diz veterinária).
Quando a veterinária me viu, ficou apavorada com meu estado físico. Além de desnutrido, estava tomado de pulgas e outros bichinhos piores. Tive que tomar injeção, soro e mesmo assim ela disse que não garantia que eu iria sobreviver. Fiquei isolado enquanto estava em tratamento, mas recebi muito carinho e quando fiquei mais fortinho comecei a fazer os movimentos de “encantamento de humanos”, próprios de nós gatos. Pronto, encantei toda família e fui batizado, pela vó Ivete, com o nome de Kiko, que virou Kiko-Deim e hoje é só Deim (coisa de humanos que gostam de trocar de nomes).
Mas, dizem que gatos tem sete vidas e, pela segunda vez quase perdi a minha. Foi quando quis explorar a casa e sem perceber o perigo, cai da escada. Me estatelei lá em baixo e meu humano pegou meu corpinho, largou sobre a mesa de jogos, para ir fazer o buraco da minha cova, pos tinha certeza que eu estava mortinho da silva. Sorte minha que a vó Ivete foi olhar meu corpinho e resolveu me levar pra baixo da torneira. Nunca pensei que um dia iria gostar tanto de um banho gelado. Eis que ressuscitei, ufa!
Depois disso já tive mais umas duas vidas diminuídas por doenças consideradas graves, para nós gatos, ou seja, das sete estou somente com três para viver, mas estou aqui, com dez anos, bem branquinho e gordo.  Fico um pouco preocupado porque a minha salvadora, vó Ivete, infelizmente, já faleceu e não sei se alguém vai estar por perto se eu precisar, mas é a vida!
Quanto a história de que gato chama gato, é verdade, porque o que já passou de bichano por aqui... mas de ficar comigo, teve meu amigão Alcides que desapareceu e, atualmente, tem os irmãos Filó e Faísca.
Ah, e tem uma intrusa chamada Matilda, que veio só pra atazanar nossas vidas, mas isso é outra história.


Tânia França

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