Era uma vez uma menina órfã cujo
pai vivia viajando. Certo dia foi; morar em sua rua uma moça que começou
a agradá-Ia e enchê-Ia de presentes. A menina sentiu-se tão feliz que,
quando o pai voltou para casa, contou-lhe sobre a vizinha e disse:
- Papai, eu adoraria se o senhor se casasse com ela. Tenho certeza de que ela me trataria como uma verdadeira mãe!
Desconfiado, o pai falou:
- Filhinha, lá no sertão a gente diz assim: tem gente que dá mel, para depois aparecer com fel.
- O que é fel? -perguntou a garota.
- Fel é um veneno terrível! -disse ele.
- Você acha mesmo que sua amiga é sincera?
A menina respondeu que sim. E, de
tanto insistir que gostava muito da vizinha, de tanto levá-Ia para
passar os dias em sua casa, a orfãzinha aproximou seu pai e a moça, que
acabaram se casando.
No início, a menina foi muito
feliz com sua nova família, porém bastou seu pai viajar pela primeira
vez para que a madrasta virasse a maior megera do mundo. Enchia a garota
de tarefas e passava o dia sentada à sombra, sem fazer nada.
Certa tarde, depois de trabalhar
por horas e horas, a garota adormeceu debaixo de uma figueira. Quando a
madrasta a surpreendeu dormindo, ficou furiosa:
-É agora que você vai ficar de castigo! -gritou.
Abriu um buraco no chão, jogou a
menina lá dentro e cobriu-lhe o corpo de terra, deixando só sua cabeça
de fora. Os dias foram passando e a menina continuava enterrada. A relva
cresceu e misturou-se com seus belos cabelos castanhos.
Quando o pai da orfãzinha
regressou, a madrasta mentiu para ele dizendo que a garota fugira. O
homem ficou muito triste. No dia seguinte, vendo que o quintal estava
cheio de capim, chamou um capineiro. O capineiro começou a trabalhar e,
de repente, ouviu uma voz que vinha do chão dizer:
Capineiro de meu pai, não me cortes os cabelos ...
Minha mãe me penteou, minha madrasta me enterrou.
Perto do figo da figueira, que o passarinho bicou ...
O homem levou tamanho susto que
foi depressa contar o acontecido ao pai da menina. Este foi até o
quintal, ouviu a voz, começou a cavar e... desenterrou a filha, que,
milagrosamente, ainda estava viva. Chorando de alegria, levou a garota
para dentro de casa. Quando a madrasta viu a menina e entendeu que toda a
sua maldade fora revelada, saiu correndo pelo sertão para nunca mais
voltar.
(História do folclore brasileiro)
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