Conto de
Monteiro Lobato
Era um macaco que resolveu sair pelo mundo a fazer
negócios. Pensou, pensou e foi colocar-se numa estrada, por onde vinha vindo,
lá longe, um carro de boi. Atravessou a cauda na estrada e ficou esperando.
Quando o carro chegou e o carreiro viu aquele rabo atravessado, deteve-se e
disse:
– Macaco, tire o rabo da estrada, senão passo por
cima!
– Não tiro! – respondeu o macaco – e o carreiro
passou e a roda cortou o rabo do macaco.
O bichinho fez um barulho medonho.
– Eu quero o meu rabo, eu quero o meu rabo ou então
uma faca!
Tanto atormentou o carreiro que este sacou da cintura
a faca e disse:
– Tome lá, seu macaco dos quintos, mas pare com
esse berreiro, que está me deixando zonzo.
O macaco lá se foi, muito contente da vida, com a
sua faca de ponta na mão.
– Perdi meu rabo, ganhei uma faca! Tinglin,
tinglin, vou agora para Angola!
Seguiu caminho.
Logo adiante deu com um tio velho que estava
fazendo balaios e cortava o cipó com os dentes.
– Olá amigo! – berrou o macaco – estou com dó de
você, palavra! Tome esta faca de ponta.
O negro pegou a faca mas quando foi cortar o primeiro
cipó a faca se partiu pelo meio.
O macaco botou a boca no mundo – eu quero, eu quero
minha faca ou então um balaio!
O negro, tonto com aquela gritaria, acabou dando um
balaio velho para aquela peste de macaco que, muito contente da vida, lá se foi
cantarolando:
– Perdi meu rabo, ganhei uma faca; perdi minha
faca, pilhei um balaio! Tinglin, tinglin, vou agora para Angola!
Seguiu caminho.
Mais adiante encontrou uma mulher tirando pães do
forno, que recolhia na saia.
– Ora, minha sinhá – disse o macaco, onde já se viu
recolher pão no colo? Ponha-os neste balaio.
A mulher aceitou o balaio, mas quando começou a
botar os pães dentro, o balaio furou.
O macaco pôs a boca no mundo.
– Eu quero, eu quero o meu balaio ou então me dê um
pão.
Tanto gritou que a mulher, atordoada, deu-lhe um
pão. E o macaco saiu a pular, cantarolando:
– Perdi meu rabo, ganhei uma faca; perdi minha
faca, pilhei um balaio; perdi meu balaio, ganhei um pão. Tinglin, tinglin, vou
agora para Angola!
E lá se foi muito contente da vida, comendo o pão.
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