Ana Maria Machado
Era uma vez uma
menina. Não era uma menina deste tamanhinho. Mas também não era uma menina
deste tamanhão. Era uma menina assim mais ou menos do seu tamanho. E muitas
vezes ela tinha vontade de saber que tamanho era esse, afinal de contas. Porque
tinha dias que a mãe dela dizia assim:
- Helena, você já está
muito grande para fazer uma coisa dessas. Onde já se viu uma menina do seu
tamanho chegar em casa assim tão suja de ficar brincando na lama? Venha logo se
lavar.
Que já era bem grande.
Mas às vezes, também,
o pai dizia assim:
- Helena, você é muito
pequenina para fazer uma coisa dessas. Onde já se viu uma menina do seu tamanho
ficar brincando num galho de árvore tão alto assim? Desça já daí. Se não, você
pode cair
Ai Helena achava que
era mesmo uma bebezinha que não podia fazer nada sozinha.
E era sempre assim. Na
hora de ir ajudar no trabalho da roça, ela era bem grande. Na hora de ir tomar
banho no rio e nadar no lugar mais fundo, ela ainda era muito pequena. Na hora
que os grandes ficavam de noite conversando no terreiro até tarde, ela era
pequena e tinha que ir dormir. Na hora em que espetava o pé com um espinho e
queria ficar chorando no colo de alguém, só com dengo e carinho, sempre dizia
que já estava muito grande para ficar fazendo manha. Se ela tivesse um espelho
mágico, que nem rainha madrasta da Branca de Neve, bem que podia perguntar:
- Espelho meu, espelho
meu, que tamanho tenho eu?
Bem do seu tamanho Ana
Maria Machado Editora Brasil – América Rio de Janeiro – 1982
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