Era uma vez uma mulher que tinha ficado viúva há alguns meses.
E tinha achado até bom, porque já não estava lá muito contente com aquele marido.
Um dia, arrumando a casa, ela encontrou um montão de notas de dinheiro que o falecido havia escondido debaixo do colchão em segredo.
- Ah, desgraçaaado! Cheio do dinheiro e nós nessa pindaíba!
Depois da raiva, ficou foi feliz da vida. Levou todo o dinheiro para a mesa da cozinha, chamou o filho e os dois começaram a contar juntos as notas quando, de repente, adivinhe só quem apareceu?
O falecido em pessoa!
Sim, ele mesmo, o marido, morto. E veio sentar-se à mesa com eles.
Mas... a mulher ... não se intimidou não:
- O que é que você está fazendo aqui, seu miserável?! Me dá paz! Você está morto! Trate de volta logo para debaixo da terra.
- Nem pensar - disse o morto. - Estou me sentindo vivinho.
A mulher mandou o filho buscar um espelho. Entregou ao morto para que ele visse a sua cara de cadáver.
- É... Estou abatido. Deve ser falta de exercício - disse o falecido.E mandou o filho buscar a sanfona, e convidou a mulher para dançar. Ela, é claro, não quis saber de dançar com o defunto, que cheirava pior que gambá
O morto nem ligou. Começou a dançar sozinho. de repente a mulher viu que um dedo dele estava caindo, e ordenou:
- Toca mais rápido, menino!
Assim que o ritmo se acelerou, caiu outro pedaço.
- Mais depressa, que eu também vou dançar - ela resolveu.
E começou a requebrar e saltar e jogar a perna para o alto e balançar a saia.
O marido, animado, tratava de acompanhar as piruetas da mulher, e enquanto isso o corpo dele... desmoronava.
Até que só ficou a caveira pulando no chão, batendo o queixo. A mulher caprichou e deu uma pirueta, a caveira imitou e... o queixo desmontou. Pronto.Mais que depressa, a mulher mandou o filho buscar um baú para guardar os pedaços do marido e disse:
- Põe tudo que é dele, filho. Tudinho. Que eu vou procurar uns pregos e um martelo
Dali a pouco ela voltou e caprichou nas marteladas, para que o morto nunca mais escapulisse.
Enterraram o defunto de novo. Depois jogaram bastante cimento em cima.
Só no dia seguinte a viúva lembrou do dinheiro do marido, que ela tinha deixado em cima da mesa.
- Cadê?! - perguntou ao filho
- Uai, mãe! Não era pra guardar no baú TUDO que fosse dele?
Este é um conto popular brasileiro. Esta versão é de Angela Lago, no livro Sete Histórias para sacudir o esqueleto, da Cia das Letrinhas.
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