Que belo
era o país onde se tinham instalado, e no qual haviam construído dois castelos,
de igual beleza! Os dois reis entendiam-se na perfeição e os seus súditos
também. Os filhos de uns brincavam com os filhos dos outros.
Um dia, contudo, algo de grave aconteceu.
Enquanto os dois reis passeavam, alguns pássaros que passavam deixaram cair uma caganita na ponta do nariz de cada um deles. Os reis riram-se mas depois olharam um para o outro. Ambos disseram que nenhum rei devia troçar do nariz sujo de outro! Tal comportamento valia bem uma guerra!
Seguidamente, um dos reis reuniu-se com os seus súditos e proferiu um grande discurso. Utilizando umas palavras complicadas e outras simples, disse que a cor dos outros não era bonita, que o castelo deles ficava perto demais, e que lhes declarava guerra. Por sua vez, o outro rei contou os seus soldados e organizou um desfile do exército, ao som de música militar. Todos achavam o que faziam magnífico, todos se sentiam cheios de orgulho.
E foi com este espírito que os exércitos se encaminharam para a guerra, que começou quando os reis ordenaram:
— Ao ataque! Carreguem sobre o inimigo!
Apesar das grandes escadas e das bolas de canhão, a muralha aguentou o ataque e não se desmoronou. Nessa mesma noite, interromperam a batalha e cada um regressou a casa. O dia fora bem triste.
Mas, no dia seguinte, a batalha recomeçou. No entanto, apesar dos ataques dos aríetes e de todos os assaltos, os soldados não puderam entrar no castelo. Ao pôr-do-sol, todos levantaram o cerco. A jornada fora amarga e as pessoas tinham lágrimas nos olhos.
Os reis, porém, não queriam acabar com a guerra.
Tinham um plano bem montado e cada qual achava que, em breve, a vitória lhe pertenceria! Os soldados puseram mãos ao trabalho e, com a ajuda de pás, picaretas e carrinhos de mão, escavaram o dia todo. Mas o plano de uns não era mais inteligente do que o plano dos outros. Desiludidos, olharam-se, embasbacados.
Então, os reis, furiosos, decidiram encontrar-se para pôr fim à guerra.
Há já muito que todos se tinham esquecido das crianças.
Agora, uns e outros olhavam-se, rodeados pelos filhos. Os reis olhavam-se nos olhos. O silêncio a todos rodeava.
Subitamente, as crianças correram umas para as outras e começaram a brincar. As bandeiras foram arriadas e as lanças depostas. Mas os reis, altivos, nem assim queriam ouvir falar de paz!
Foi então que uns e outros instalaram um tabuleiro de xadrez para que os reis jogassem. Em breve, todos se tinham desinteressado do conflito. E as crianças continuavam a brincar…
Hoje, quão longe nos parece o tempo das batalhas!
E que linda é a nossa aldeia, situada numa encosta, povoada de casas e jardins!
Éric Battut
Bataille
Paris, Autrement Jeunesse, 2000
(Tradução e adaptação)
Um dia, contudo, algo de grave aconteceu.
Enquanto os dois reis passeavam, alguns pássaros que passavam deixaram cair uma caganita na ponta do nariz de cada um deles. Os reis riram-se mas depois olharam um para o outro. Ambos disseram que nenhum rei devia troçar do nariz sujo de outro! Tal comportamento valia bem uma guerra!
Seguidamente, um dos reis reuniu-se com os seus súditos e proferiu um grande discurso. Utilizando umas palavras complicadas e outras simples, disse que a cor dos outros não era bonita, que o castelo deles ficava perto demais, e que lhes declarava guerra. Por sua vez, o outro rei contou os seus soldados e organizou um desfile do exército, ao som de música militar. Todos achavam o que faziam magnífico, todos se sentiam cheios de orgulho.
E foi com este espírito que os exércitos se encaminharam para a guerra, que começou quando os reis ordenaram:
— Ao ataque! Carreguem sobre o inimigo!
Apesar das grandes escadas e das bolas de canhão, a muralha aguentou o ataque e não se desmoronou. Nessa mesma noite, interromperam a batalha e cada um regressou a casa. O dia fora bem triste.
Mas, no dia seguinte, a batalha recomeçou. No entanto, apesar dos ataques dos aríetes e de todos os assaltos, os soldados não puderam entrar no castelo. Ao pôr-do-sol, todos levantaram o cerco. A jornada fora amarga e as pessoas tinham lágrimas nos olhos.
Os reis, porém, não queriam acabar com a guerra.
Tinham um plano bem montado e cada qual achava que, em breve, a vitória lhe pertenceria! Os soldados puseram mãos ao trabalho e, com a ajuda de pás, picaretas e carrinhos de mão, escavaram o dia todo. Mas o plano de uns não era mais inteligente do que o plano dos outros. Desiludidos, olharam-se, embasbacados.
Então, os reis, furiosos, decidiram encontrar-se para pôr fim à guerra.
Há já muito que todos se tinham esquecido das crianças.
Agora, uns e outros olhavam-se, rodeados pelos filhos. Os reis olhavam-se nos olhos. O silêncio a todos rodeava.
Subitamente, as crianças correram umas para as outras e começaram a brincar. As bandeiras foram arriadas e as lanças depostas. Mas os reis, altivos, nem assim queriam ouvir falar de paz!
Foi então que uns e outros instalaram um tabuleiro de xadrez para que os reis jogassem. Em breve, todos se tinham desinteressado do conflito. E as crianças continuavam a brincar…
Hoje, quão longe nos parece o tempo das batalhas!
E que linda é a nossa aldeia, situada numa encosta, povoada de casas e jardins!
Éric Battut
Bataille
Paris, Autrement Jeunesse, 2000
(Tradução e adaptação)
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