Sebastião
era um sapo. Danilo era um grilo. Simples assim. Enquanto no resto do mundo os
sapos comiam os grilos e os grilos fugiam dos sapos, os dois viviam muito bem,
obrigado, e eram felizes.
A verdade é que Sebastião e Danilo eram amigos com muitas coisas em comum. Os
dois eram verdes. Os dois viviam saltando. Os dois adoravam plantas de folhas
largas. Os dois viviam na beira da mesma lagoa. Os dois adoravam cantar à
noite.
Aliás, foi essa história de soltar a voz que fez os dois ficarem famosos.
Em noite de lua clara, vinha a bicharada toda para ouvir a cantoria. A coruja
lá no alto da árvore, os peixinhos dentro da lagoa. Os bois bem grandes e
fortes, os mosquitinhos pequenininhos. A lesma bem devagar e os coelhinhos correndo,
correndo.
Só que o sucesso era tanto que logo começou a confusão. Teve uma noite em que
as libélulas, apaixonadas pelo grilo, começaram a gritar: "Danilo! Danilo!
Danilo!"
Os
jacarés, que eram fás do sapo, ficaram com muita raiva daquilo e logo puxaram o
coro: "Sebastião! Sebastião! Sebastião!"
A coisa foi esquentando e logo os bichos estavam divididos. Meio a meio, um
tanto de cada lado. De uma hora pra outra começou a briga.
Era pena voando daqui, água espirrando dali, miados, mugidos, piados, latidos,
rosnados, tudo numa bagunça tão grande que ninguém escutava mais a
música.
No meio daquilo tudo, Sebastião e Danilo saíram de mansinho e nunca mais
voltaram aquela lagoa, para a tristeza da bicharada.
Mas, se você for com cuidado, sem fazer nenhum barulho, em um certo brejo não
muito longe dali, vai ouvir bem baixinho, quase um sussurro, a música mais
bonita daquela região. Sem público, nem confusão, os dois continuam juntos,
amigos, uma dupla de verdade.
Cantando sempre, só mesmo porque cantar é muito bom.
MAURILO ANDREAS
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