“Nada tenho a dizer aos que
gostam de ler. Eles já sabem. Mas tenho muito a dizer aos que na gostam de ler.
Pena é que, por não gostarem de ler, é provável que não leiam isso que eu vou
escrever. O que tenho a dizer é simples: “Vocês não sabem o que estão
perdendo”. Ler é uma das maiores fontes de alegria. Claro, há uns livros
chatos. Não os leiam. Borges dizia que, se há tantos livros deliciosos de serem
lidos, por que gastar tempo lendo um livro que não dá prazer? Na leitura
fazemos turismo sem sair de casa, gastando menos dinheiro e sem correr os
riscos das viagens. Shogun me levou por uma viagem ao Japão do século XVI, em
meio aos ferozes samurais e às sutilezas do amor nipônico. Cem anos de solidão,
que reli faz alguns meses, me produziu espantos e ataques de riso. Achei que
Gabriel García Márquez deveria estar sob o efeito e algum alucinógeno quando o
escreveu. Lendo, você experimenta o assombro do seu mundo fantástico sem
precisar cheira pó. É isso: quem lê não precisa cheirar pó. Nunca tinha pensado
nisso. A poesia de Alberto Caeiro me ensina a ver, me faz criança e fico
parecido com árvores e regatos. Agora, essa maravilha de delicadeza e pureza,
do Gabriel velho com dores no peito e medo de morrer: Memórias de minhas putas
tristes. Li, ri, me comovi, fiquei leve e fiquei triste de o ter lido porque
agora não poderei ter o prazer de lê-lo pela primeira vez. Pena que vocês, não
leitores, sejam castrados para os prazeres que moram nos livros. Mas, se
quiserem, há remédio...”
Rubem Alves
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