Quando
em morava na Casa-Barriga da minha mãe ficava imaginando como seria o mundo
aqui fora. Ouvia vozes falarem de coisas muito estranhas.
O
mundo deles se chamava Terra.
O
meu mundo não se chamava Terra.
O
nome do meu mundo era Barriga.
No
meu mundo eu morava sozinha com a minha mãe.
Eu
sonhava, é verdade, com outros lugares.
Lá
dentro da barriga eu escutava as histórias que a minha avó contava para os meus
irmãos, as histórias da Terra.
Mas
será que tudo isso era de verdade? Será que a Terra existia?
Será
que a minha vida não podia ser sempre assim, eu e a minha mãe quietinhas, sem
mais ninguém na minha Casa-Barriga?
"Assim
vivemos, eu e minha mãe, um tempão, coração batendo junto, o calor dela me aquecendo,
a comida dela me alimentando, sonhando os nossos sonhos, inventando as nossas
comidas.
Um
dia, eu compreendi, muito assustado, que não podia ficar ali para sempre.
Que
eu já estava ficando grande demais e a barriga da minha mãe não podia continuar
crescendo para sempre.
Eu
sentia que tinha que sair dali. Por onde, eu não sabia. Como?
Eu
não sabia também. Para onde?
Para
aquele mundo que diziam que existia lá fora?
Para
a tal Terra?
Minha
vida de bebê era muito boa, foi difícil tomar a resolução de sair dali.
A
barriga foi ficando cada dia mais apertada, eu quase nem podia me mexer.
Então
eu tomei coragem, virei de cabeça para baixo e fiquei lá, perto do lugar que
devia ser a porta de saída da barriga da minha mãe, prontinho para sair.
Mas
a porta não se abria. Estava fechada, trancada.
O
tempo que fiquei de cabeça para baixo não sei dizer.
Mas
também eu não podia ficar o resto da minha vida plantando bananeira na barriga
da minha mãe. Podia? Nada disso!
Um
dia tomei coragem e disse ao coração da minha mãe que estava na hora de sair,
ir embora, nascer!
E
o coração dela concordou comigo!
Sonia Robatto
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