Pedrinho, na varanda, lia um jornal.
De repente parou, e disse a Emília, que andava rondando por ali:
— Vá perguntar a vovó o que quer
dizer folclore.
— Vá? Dobre a língua. Eu só faço
coisas quando me pedem por favor. Pedrinho, que estava com preguiça de
levantar-se, cedeu à exigência da ex-boneca.
— Emilinha do coração — disse ele —
faça-me o maravilhoso favor de ir perguntar à vovó que coisa significa a
palavra folclore, sim, tetéia?
Emília foi e voltou com a resposta.
— Dona Benta disse que folk quer
dizer gente, povo; e lore quer dizer sabedoria, ciência. Folclore são as coisas
que o povo sabe por boca, de um contar para o outro, depais a filhos — os
contos, as histórias, as anedotas, as superstições, as bobagens, a sabedoria
popular, etc. e tal. Por que pergunta isso, Pedrinho?
O menino calou-se. Estava pensativo,
com os olhos lá longe. Depois disse:
— Uma idéia que eu tive. Tia Nastácia
é o povo. Tudo que o povo sabe e vai contando,de um para outro, ela deve saber.
Estou com o plano de espremer tia Nastácia para tirar o leite do folclore que
há nela.
Emília arregalou os olhos.
— Não está má a idéia, não, Pedrinho!
Às vezes a gente tem uma coisa muito interessante em casa e nem percebe.
— As negras velhas — disse Pedrinho —
são sempre muito sabidas. Mamãe conta de uma que era um verdadeiro dicionário
de histórias folclóricas, uma de nome Esméria, que foi escrava de meu avô.
Todas as noites ela sentava-se na varanda e desfiava históriase mais histórias.
Quem sabe se tia Nastácia não é uma segunda tia Esméria?
Foi assim que nasceram as Histórias
de Tia Nastácia.
Conto de Monteiro Lobato
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