O coelho Baltasar e a sua esposa
viviam, como todos os coelhos, numa toca à beira de um lago. O que se
compreende porque, como são animais um pouco medrosos e tímidos, é debaixo da
terra que se sentem mais seguros, especialmente quando há mau tempo,
tempestades, trovoadas, frio.
Só que Baltasar gostava do mau
tempo e adorava trovoadas. Apreciava ver o céu a escurecer, as nuvens a
aglomerarem-se e a formarem uma massa escura, o vento a chegar, o primeiro raio
e o magnífico trovão… O barulho da chuva a cair era para ele a mais bela das
músicas… Enquanto os outros coelhos ficavam no fundo das suas tocas à espera
que a tempestade passasse, Baltasar ficava à entrada e observava, deleitado, o
libertar das forças da Natureza.
Certo dia, disse a Mariana, sua
mulher:
— Vou construir uma casa, uma
torre. Gostava de estar próximo das tempestades. Gostava de poder observá-las
de muito perto.
Baltasar começou a construção em
junho e em julho já estava acabada. Claro que Mariana o ajudou, embora tremesse
como varas verdes à primeira tempestade, mas, como não ia deixar o marido
sozinho no meio do perigo, mudou-se também para a torre. Mariana tinha
principalmente medo dos raios. Os trovões, ainda aguentava, não passavam de
barulho. A chuva também não fazia mal quando havia um telhado sobre as orelhas,
mas os raios?! Caem tão facilmente, ainda por cima sobre torres altas… Apesar
disto, Baltasar não estava preocupado porque confiava na sua invenção de um
para-raios invulgar. Era mais um espanta-raios do que um para-raios: no cimo da
torre colocara um vaso com um cardo.
— Toda a gente sabe que os
cardos picam — dissera. — E toda a gente se afasta deles. Porque é que um raio
não faria o mesmo?
Bem, isto parecia lógico, mas os
medos de Mariana não acalmaram. Até que chegou o grande dia! Numa tarde quente
de julho, o céu escureceu e aproximou-se uma tempestade maravilhosa! Da janela
da torre, Baltasar e Mariana observavam o céu. O vento ainda não começara a
soprar. Uma família de ouriços-cacheiros também tinha visto a tempestade a
aproximar-se e interrompera o seu piquenique. O Sr. e a Sr.ª Ouriço e os dois
filhos correram para casa dos coelhos à procura de abrigo. Será que o raio lhes
caiu em cima? Claro que não! O espanta-raios de Baltasar funcionou e eles
assistiram a uma tempestade … maravilhosa!
Erwin Moser
Ein seltsamer Gast
Weinheim, Beltz Verlag, 1997
(Tradução e adaptação)
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