A aposta do macaco





Pedro Bandeira
– Essa onça não é de nada! – ria-se o macaco do pavor da bicharada.
– Como “não é de nada”? – espantou-se a capivara. –
A onça é o bicho mais feroz da mata!
– É uma fera tremenda! – acrescentou a cotia.
– Um bicho de assombrar! – confirmou a paca.
– Pois todos estão errados! – afirmou o danado do macaco. – Para quem usa a cabeça, essa tal fera não passa de um bicho bobo. E eu posso provar o que digo.
– Provar como? – perguntou a lebre.
– Fiquem vocês por aqui, atrás daquela gruta. Voltoem uma hora, montado na onça, trazendo a malvada no relho e no cabresto!
– Duvide-o-dó! – riu-se o esquilo.
– Vocês duvidam? Pois então vamos fazer uma aposta: se eu fizer o que digo, cada um de vocês vai me dar um cacho de bananas por dia durante um mês. Topam?
– Topamos! – responderam os bichos.
E lá se foi o macaco executar seu plano.
Procurou que procurou e acabou descobrindo onde estava a onça.
Devia ter se fartado de tanto comer e dormitava na sombra de uma árvore.
– Está pra mim! – disse o macaco.
Deitou-se e começou a gemer uns gemidos doídos, de cortar o coração:
– Ai, ai, ai...
A onça acordou com aquela barulheira e olhou em volta. Lá estava o macaco contorcendo-se no chão, como se estivesse com a maior das dores de barriga.
– O que está acontecendo? – estranhou a onça.
Aproximou-se do macaco, que rolava no chão revirando os olhos.
– O que houve, Mestre Macaco?
Sem parar de gemer, o macaco respondeu:
– Ai, Dona Onça, estou desenganado! O Doutor Corujão acabou de me examinar e disse que eu não duro mais um dia. Uma doença brava, que anda pegando os comedores de banana. Ai, ui! E o que me deixa triste é que vou morrer sem poder gastar o tesouro dos macacos...
– Tesouro dos macacos? – interessou-se a onça. – Que tesouro?
– Pois não sabe? É uma fortuna enorme! Mas eu vou acabar morrendo aqui, sozinho, sem poder mostrar para ninguém onde está escondido todo esse ouro... Ai, ai, com a minha morte, o tesouro estará perdido para sempre...
– Espere aí, Mestre Macaco! – assanhou-se a onça, já se imaginando rica, a desfilar pela floresta vestindo uma caríssima pele de gente. – Pode deixar que eu guardo o seu segredo e uso toda a fortuna para ajudar os macaquinhos  desamparados...
– É mesmo, Dona Onça? Posso confiar na senhora?
– Palavra de onça!
– Ai, mas é que eu já estou mais pra lá do que pra
cá... Não tenho forças
para levar a senhora até onde está escondido o tesouro...
– Não seja por isso. Deixe que eu carrego o senhor,
Mestre Macaco!
O macaco, cambaleante, montou nas costas da onça.
– Ai, Dona Onça, é que eu estou tão fraquinho... Posso cair com a maior facilidade. Se a senhora não se incomodar, deixe eu colocar essa selinha nas suas costas, para que eu possa me equilibrar melhor...
– Está bem – concordou a onça.
– E a senhora não vai se incomodar se eu puser esse cabrestinho de nada na sua boca, para que eu possa me segurar?
A onça, só pensando no tesouro, consentiu com tudo.
E lá se foi para onde o macaco indicava, assanhadona com a fortuna tão próxima.
Quando estavam bem perto da gruta onde esperavam os outros animais, o macaco tomou de um relho e malhou a onça:
– Eia, danada! Eia, onça sem-vergonha! Ande depressa, que eu não tenho o dia todo!
Por mais que se sacudisse, surpresa e envergonhada,a pobre da onça não conseguia livrar-se daquele cavaleiro – ou “onceiro”? – que parecia ter se recuperado muito bem da doença e malhava-lhe o lombo com gosto!
E o esperto do macaco passou um mês inteiro regalando-se com as bananas que a bicharada teve de trazer para ele!

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