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Primeiro, o mágico indagou das pessoas que estavam ali, quem era o menino. Depois, dirigiu-se a ele e disse:
- Meu rapaz, você não é filho de Mustafá, o alfaiate?
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Ao ouvir estas palavras, o mágico abraçou Aladim, com os olhos cheios de lágrimas, e disse:
- Você é meu sobrinho, pois seu pai era meu irmão. Eu o conheci à primeira vista, porque você é muito parecido com ele.
O homem deu duas moedas de ouro a Aladim, dizendo:
- Vá para casa e diga à sua mãe que irei jantar com vocês.
Encantado com o dinheiro, Aladim correu para casa.
- Mamãe, eu tenho algum tio? perguntou ele.
- Não, meu filho. Seu pai não tinha irmãos e eu também não os tenho, respondeu a senhora.
- Acabo de encontrar um senhor que me disse ser irmão de papai. Deu-me este dinheiro e mandou dizer-lhe que jantaria aqui hoje.
A senhora ficou muito admirada, mas saiu para fazer compras e passou o dia preparando o jantar. Exatamente quando tudo ficou pronto, o mágico bateu à porta. Entrou trazendo embrulhos de frutas e doces. Cumprimentou a mãe de Aladim e, com lágrimas nos olhos, pediu-lhe que indicasse o lugar em que o irmão costumava sentar-se. Durante o jantar, pôs-se a descrever suas viagens.
- Minha boa irmã, começou ele. Não me admiro de que você nunca me tivesse visto. Estive quarenta anos fora deste país. Viajei por muitos lugares. Estou realmente triste por saber da morte de meu irmão, mas é um conforto saber que ele deixou um filho tão encantador!! Virando-se para Aladim, perguntou-lhe:
- Que faz você? Trabalha no comércio?
Aladim abaixou a cabeça, sem ter o que dizer. Sua mãe, então, explicou:
- Infelizmente ele nada faz. Passa os dias desperdiçando o tempo a brincar na rua.
- Isto não vai bem , meu sobrinho, disse o mágico. É preciso pensar num meio de ganhar a vida. Eu gostaria de ajudá-lo. Se você quiser, abrirei uma loja para você.
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- Bem, resolveu o homem. Amanhã sairemos e comprar-lhe-ei roupas elegantes. Depois, então, pensaremos na loja.
No dia seguinte, ele voltou, como havia prometido, e levou Aladim a uma casa que vendia roupas lindas. O menino escolheu as que mais lhe agradaram. Depois deram um passeio pela cidade. À noite, foram a uma festa. Quando a mãe de Aladim o viu voltar tão elegante e o ouviu contar tudo que haviam feito, ficou muito contente.
- Bondoso irmão, disse ao mágico, não sei como agradecer-lhe tanta bondade.
- Aladim é um bom rapaz, disse ele, e bem merece que se faça tudo por ele. Algum dia nos orgulharemos dele. Amanhã virei buscá-lo, para dar um passeio no campo. Depois de amanhã, então, abriremos a loja.
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- Não iremos adiante, comunicou ao rapaz. Mostrarei a você algumas coisas que ninguém ainda viu. Enquanto risco um fósforo, cate todos os gravetos que encontrar para acender o fogo.
Aladim num instante arranjou um pilha de gravetos, aos quais o mágico atiçou fogo. Quando as chamas cresceram, atirou-lhes um pouco de incenso e pronunciou umas palavras mágicas que Aladim não entendeu. Imediatamente a terra se abriu a seus pés e apareceu uma grande pedra, em cuja parte superior havia uma argola de ferro. Aladim estava tão assustado que teria fugido se o mágico não o detivesse.
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O medo de Aladim desapareceu e ele declarou ao tio:
- Que tenho a fazer? Estou pronto a obedecer.
- Segure a argola e levante a pedra, disse o homem.
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- Desça estes degraus e abra aquela porta, ordenou o mágico. Você entrará num palácio onde há três enormes salões. Em cada um deles verá quatro vasos cheios de ouro e prata. Não mexa em nenhum deles. Passe através dos três salões sem parar. Tenha cuidado para não se encostar nas paredes. Se o fizer, morrerá instantaneamente. No fim do terceiro salão, há uma porta que dá para um pomar, onde as árvores estão carregadas de lindas frutas. Atravessando o pomar, você chegará a um muro no qual encontrará um nicho. Nesse nicho, há uma lâmpada acesa. Pegue a lâmpada, jogue fora o pavio e o azeite, e traga-a o mais depressa que puder. Dizendo estas palavras, o mágico tirou do dedo um anel que ofereceu a Aladim, explicando:
- Se você me obedecer, isto o protegerá contra todos os males. Vá, meu filho. Faça tudo o que eu disse e ambos seremos felizes para o resto da vida.
- Dê-me a mão, meu tio, e ajude-me a sair daqui.
- Primeiro, entregue-me a lâmpada, exigiu o mágico.
- Na verdade, não posso fazê-lo agora, pois trago outras coisas que me dificultam a subida, mas assim que estiver aí em cima, entregarei, explicou Aladim.
O mágico, que estava aflito para possuir a lâmpada, irritou-se e atirou um pouco de incenso ao fogo, pronunciando, depois, algumas palavras mágicas. Imediatamente a pedra voltou ao seu lugar, tapando a saída da estranha caverna. Quando Aladim se viu na escuridão, chamou o mágico e implorou-lhe que o tirasse dali. Prometeu-lhe mil vezes que lhe daria a lâmpada. Seus rogos, entretanto, foram em vão. Desesperado, tentou atingir novamente a porta que conduzia aos salões, para ver se conseguia chegar ao pomar. A porta, porém, estava fechada. Durante dois dias, Aladim permaneceu na escuridão, sem comer, nem beber. Por fim, juntou as mãos para rezar e, ao fazê-lo, esfregou o anel que o mágico tinha posto em seu dedo. No mesmo instante, um gênio, enorme e assustador, surgiu da terra, dizendo:
- Que deseja? Sou o escravo do anel e cumprirei suas ordens.
Aladim replicou:
- Tire-me daqui.
Logo a terra se abriu e ele se encontrou lá fora. Muito atordoado foi andando para casa e, ao chegar, caiu desfalecido junto à porta. Quando voltou a si, contou à mãe o que lhe havia acontecido. Mostrou-lhe a lâmpada e as frutas que tinha trazido. Pediu-lhe, depois, alguma coisa para comer, ao que ela respondeu:
- Meu filho, nada tenho em casa, mas fiei algum algodão e irei vendê-lo.
- Em vez do algodão, mamãe, venda a lâmpada, propôs o menino.
Ela apanhou a lâmpada e começou a esfregá-la, porque estava muito suja. Nesse momento, surgiu um gênio que gritou bem alto:
- Sou o gênio da lâmpada e obedecerei à pessoa que a estiver segurando.
A senhora estava assustada demais para poder falar, mas o menino agarrou-a ousadamente e disse:
- Arranje-me alguma coisa para comer.
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Um dia, quando passeava pela cidade, Aladim ouviu uma ordem do sultão mandando que fechassem as lojas e saíssem todos das ruas, pois sua filha, a princesa, ia ao banho de mar e não podia ser vista por ninguém. O rapaz escondeu-se atrás de uma porta, de onde podia ver a princesa quando passasse. Não decorreu muito tempo e ela veio, acompanhada de uma porção de aias. Quando chegou perto da porta onde Aladim estava escondido, tirou o véu e ele viu seu rosto. A moça era tão bonita que ele desejou casar-se com ela. Chegando a casa contou à mãe seu amor pela princesa. A senhora riu-se e respondeu:
- Meu filho, você deve estar louco para pensar numa coisa destas!
- Não estou louco, mamãe, e pretendo pedir a mão da princesa ao sultão. Você deve procurá-lo para fazer o pedido, disse ele.
- Eu??? Dirigir-me ao sultão??? Você sabe muito bem que ninguém pode falar-lhe sem levar um rico presente, informou a senhora.
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- Que riqueza! Que encanto!
Ele já havia determinado que a filha se casaria com um de seus oficiais; no entanto, disse à mãe de Aladim:
- Diga a seu filho que ele desposará a princesa se me enviar quarenta tinas cheias de joias como estas. Elas deverão ser-me entregues por quarenta escravos negros, cada um dos quais será precedido de um escravo branco, todos ricamente vestidos.
A mãe de Aladim curvou-se até o chão e voltou para casa pensando que tudo estivesse perdido. Deu o recado ao filho esperando que, com isso, ele desistisse. Aladim sorriu, e quando a mãe se afastou, apanhou a lâmpada e esfregou-a. O gênio apareceu no mesmo instante e ele pediu-lhe que arranjasse tudo que o sultão havia pedido. O gênio desapareceu e voltou trazendo quarenta escravos negros, cada um carregando na cabeça uma tina cheia de pérolas, rubis, diamantes, esmeraldas, safiras e ametistas. Os quarenta escravos negros e outros tantos brancos encheram a casa e o jardim. Aladim ordenou-lhes que se dirigissem ao palácio, dois a dois, e pediu à sua mãe que entregasse o presente ao sultão. Os escravos estavam tão ricamente vestidos que todos, nas ruas, paravam para vê-los. Entraram no palácio e ajoelharam-se em frente ao sultão, formando um semicírculo. Os escravos negros colocaram as tinas no tapete.
O espanto do sultão, à vista daquelas riquezas, foi indescritível. Depois de muito contemplá-las, levantou-se e disse à mãe de Aladim:
- Diga a seu filho que o espero de braços abertos.
A senhora, feliz com a notícia, não perdeu tempo. Saiu correndo e deu o recado ao filho. Aladim, entretanto, não teve pressa. Primeiro chamou o gênio e pediu-lhe:
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- Primeiro, construirei um palácio para ela.
Assim que regressou à casa, chamou o gênio e disse:
- Dê-me um palácio do mais fino mármore, incrustado de pedras preciosas. Nele quero encontrar estábulos, cocheiras, lacaios, escravos. A mais fina decoração, com os móveis mais luxuosos do mundo.
O casamento de Aladim com a princesa realizou-se no meio de grande regozijo. O rapaz já havia conquistado o coração do povo, por sua generosidade. Durante muito tempo eles foram imensamente felizes. Nesta ocasião, o mágico que estava na África descobriu que Aladim era muito rico e querido de todos. Cheio de raiva, embarcou para a China. Lá chegando, ouviu alguém falar do palácio maravilhoso que tinha sido levantado pelo gênio da lâmpada. Resolveu, então, obter a lâmpada, custasse o que custasse. Os mercadores contaram-lhe que Aladim tinha ido caçar e que estaria ausente por alguns dias. Ele comprou uma dúzia de lâmpadas de cobre, iguais à lâmpada maravilhosa, e foi ao palácio gritando:
- Trocam-se lâmpadas novas por velhas!
Quando chegou à janela da princesa, os escravos chamaram-no, dizendo:
- Venha cá. Temos uma lâmpada feia e velha que queremos trocar.
Era a lâmpada maravilhosa, que Aladim havia deixado em cima de um móvel. A princesa não sabia seu valor; por isso, pediu a um escravo que a trocasse por uma nova. O mágico, muito contente, deu-lhe a melhor lâmpada que tinha, e saiu correndo para a floresta. Quando anoiteceu, chamou o gênio da lâmpada e ordenou que o palácio, a princesa e ele próprio fossem carregados para a África.
O pesar do sultão foi terrível quando descobriu que a filha e o palácio tinham desaparecido. Enviou soldados à procura de Aladim, que foi trazido à sua presença.
- Pouparei sua vida por quarenta dias e quarenta noites, lhe informou o sultão. Se durante este tempo minha filha não aparecer, mandarei cortar-lhe a cabeça.
Aladim vagou por toda a cidade, perguntando às pessoas que encontrava o que havia acontecido ao seu palácio. Ninguém sabia dar-lhe informação . Depois de muito andar, parou num riacho para matar a sede. Abaixou-se e juntou as mãos para apanhar um pouco de água. Ao fazê-lo, esfregou o anel mágico que trazia no dedo. O gênio do anel apareceu e perguntou-lhe o que queria.
- Ó gênio poderoso, devolve-me minha esposa e meu palácio! Implorou ele.
- Isto não está em meu poder, disse o gênio. Peça-o ao gênio da lâmpada. Sou apenas o gênio do anel.
- Então, pediu Aladim, leva-me até onde estiver o palácio.
Imediatamente, o rapaz sentiu-se carregado pelos ares. Finalmente chegou a um país estranho, onde logo avistou o palácio. A princesa estava chorando em seu quarto. Quando viu Aladim, ficou muito contente. Correu ao seu encontro e contou-lhe tudo o que havia acontecido. Aladim, ao ouvir falar na troca das lâmpadas, percebeu logo que o mágico era o causador de toda aquela aflição.
- Diga-me uma coisa, perguntou à esposa, onde está a lâmpada velha agora?
- O velho carrega-a no cinturão e não se separa dela noite e dia.
Depois de muito conversarem, fizeram um plano para conseguir a lâmpada de volta.
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O mágico, quando acordou no dia seguinte e se viu no meio da rua sem a lâmpada, ficou desesperado. Levantou-se e foi andando, tão distraído que não viu uma carruagem que se aproximava. O resultado foi que morreu debaixo das patas dos cavalos. Aladim e a esposa viveram felizes pelo resto da vida. Quando o sultão morreu, Aladim subiu ao trono e reinou por muitos anos, sendo sempre querido do povo.
E foram felizes para sempre...
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