Franklin Cascais
Contou-me um narrador de
histórias de assombrações, que um casal jovem depois de um ano de feliz
matrimônio, ganhou uma linda criança, a qual ao completar cinco anos, adoeceu.
O sintoma da doença era o
seguinte: as mãos cruzadas sobre o peito, o corpo manchado de roxo e ao
anoitecer desatava num choro que metia dó, principalmente nas sextas-feiras.
Pessoas idosas, entendidas
em doenças de bruxarias, quando viram aquela criança no estado lastimável em
que se encontrava não tiveram dúvidas em afirmar aos pais, que todos aqueles
sintomas eram, verdadeiramente, a confirmação de que as malvadas bruxas a
estavam perseguindo.
Uma daquelas pessoas
entendidas em assuntos bruxólicos aconselhou ao jovem pai que devia procurar
uma benzedeira e não um médico, como queria a mãe da criança, pois este não
entenderia nada daquela doença causada pelas forças misteriosas das terríveis
mulheres que vêm a este mundo com a triste sina de ser bruxa.
No sítio, a conselho das
pessoas mais velhas que são acatados com todo respeito, o casal resolveu chamar
uma velha benzedeira, muito afamada na cura de crianças embruxadas.
A velha benzedeira, ao
entrar na casa e pôr as vistas sobre a criança doente, desatou a bocejar tanto,
que quase ficou sem poder falar por muitos minutos, mas logo que se recuperou,
voltou-se para o casal e disse-lhes:
- Esta criança está embruxada por
bruxas muitos perigosas, de grandes poderes diabólicos. Recebi toda carga do
seu poder maligno, no meu corpo, logo que entrei nesta casa, para enxotá-la
daqui.
Tomou um breve que trazia
no bolso do vestido, benzeu a criança e aconselhou aos pais que fizessem o
seguinte remédio:
Na sexta-feira daquela
semana, ao anoitecer, tomassem uma ceroula do pai, colocassem-na em cruz em
cima da criança, rezassem um Credo de trás para diante em cima da ceroula,
colocassem um pires com água e dentro um pedaço de cera virgem e a chave da
fechadura da porta da entrada, e ficassem de vigília.
No momento em que a
criança chorasse, era o sinal de que as bruxas a estariam chupando o sangue e,
portanto, o pai devia pegar a cera virgem que estava no pires e introduzi-la no
buraco da fechadura, para que assim as bruxas ficassem presas dentro de casa e
aguardassem, ali, o canto do galo preto para ser descoberto o fado.
As bruxas, que andavam
chupando aquela criança, eram moradoras do mesmo lugar e duas das quais primas
irmãs da mãe da criança doente.
Naquela semana, elas
fizeram uma reunião numa casa abandonada e mal-assombrada, para desenvolver o
poder do fado em uma moça nova, muito feia e rude, que começaria a cumprir a
sina pela primeira vez.
Para poderem voar por cima
das árvores e entrar pelo buraco da fechadura, além de despirem toda roupa e
esconderem-na nas tocas das bananeiras, grutas, e debaixo dos paneiros de
canoas de pescadores e untarem todo o corpo com unto virgem, elas devem pronunciar
certíssimas as seguintes palavras:
- Por cima do silvado e por debaixo do
telhado.
A reunião que elas fizeram
naquela semana foi para ensinar à bruxa praticante que o canto do galo branco e
amarelo não lhes quebra o encanto, mais sim o do galo preto.
Que as palavras "Por
cima do silvado e por debaixo do telhado" não podem ser pronunciadas ao
contrário, senão perderão uma noite de atividades diabólicas.
Na mesma reunião,
combinaram irem todas, inclusive a bruxa nova, chuparem a criança na casa onde
a velha benzedeira tinha mandado fazer a armadilha com a ceroula.
Naquela sexta-feira, dia
combinado, depois de prontas para entrarem em estado fadórico a bruxa velha
pronunciou as palavras do encanto e mandou que todas respondessem certo, mas a
bruxa nova respondeu ao contrário, estragando assim, as atividades da noite.
Devido o engano da bruxa
nova, não puderam atingir o objetivo visado que era chupar a criança.
Em vez de passarem por
cima do silvado, passavam por debaixo, e em vez de passarem por debaixo do
telhado ficavam por cima.
Cansadas de tanto voar e
não conseguirem entrar no buraco da fechadura, para chuparem o sangue da
criança, resolveram pousar sobre o telhado da casa.
Devida a benzedeira da
velha e as armadilhas que se achavam dentro de casa, elas ficaram presas sobre
o telhado e foram surpreendidas em estado de encanto, pelo canto do galo preto.
No momento em que elas
pousaram sobre o telhado da casa, a criança começou a chorar, e o pai então
tratou de introduzir a cera virgem no buraco da fechadura. e ficou aguardando o
canto do galo preto, quando se daria justamente, o desencanto das bruxas.
Logo que o galo preto
cantou, elas se desencantaram, em cima da casa e não dentro como o homem
esperava, isto devido a bruxa nova ter pronunciado as palavras de encanto ao
contrário.
Mal se desencantaram,
viram-se presas pela armadilha que estava dentro de casa e começaram a chorar.
O dono da casa, que estava
de vigília, logo que ouviu o choro, abriu a porta da casa e saiu para o
quintal, a fim de ver onde era o choro, quando, qual não foi sua surpresa, ao
deparar com aquele quadro tétrico sobre o telhado da sua casa.
Apavorado pelo que viu,
chamou a mulher e alarmou os vizinhos que acudiram assustados.
Colocaram uma escada e
fizeram-nas descer.
O dono da casa foi na
cozinha, apanhou um rabo de tatu que estava no moeiro, deu uma surra em cada
uma até deixar caída por terra.
A surra foi tão violenta
que, para curar os ferimentos tiveram que usar água com sal bem forte e cachaça
com ervas.
Florianópolis, 16 de
janeiro de 1957
[Não foi possível
identificar a referência bibliográfica completa deste artigo]
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