O pai e a mãe de Bia haviam
decidido uma viagem pelas montanhas, uma novidade daquelas! E a menina estava
feliz da vida, sem perder nada do que via pelas janelas do carro.
Depois de um belo piquenique,
passearam por um bosque cheio de pequenas cachoeiras e já estavam bem cansados
quando voltaram para o carro e o pai disse que iriam para o “Hotel do Castelo”,
onde passariam a noite.
– Castelo? – perguntou a menina,
animadíssima. – Um castelo de verdade?
– Acho que não, Bia – respondeu
o pai. – Deve ser um hotel como todos os outros...
Embalada pela marcha do
automóvel, a menina ia pensando: “E se nãofor um hotel como todos os outros? E
se for mesmo um castelo?”
Quando o carro passou pela
última curva da estrada sinuosa, lá estava o “Hotel do Castelo”.
Com o coração aos pulos, Bia viu
que aquela construção não se parecia em nada com os castelinhos coloridos e
alegres que ela conhecia dos livros, onde viviam princesas como Cinderela e
Branca de Neve. Era uma mansão antiga, escura, coberta de hera nos altos muros,
cheia de janelinhas e teias de aranha. Estava com jeito de abandonada e, o pior,
não tinha luz elétrica.
– Vai ser divertido, filha –
brincou a mãe, vendo a carinha meio assustada da filha.
– Este hotel parece um daqueles
castelos dos filmes!
– Só se for de filmes de terror!
– corrigiu Bia. – Será... será que esse não é um castelo mal-assombrado, mãe?
Como nos filmes de vampiro?
– Ora, Bia! Mas que imaginação a
sua, hein?
Logo que o carro estacionou na
frente da grande porta do hotel, viram um vulto parado, como se estivesse
esperando por eles. Era um homem feio, forte, que mal cabia no uniforme que
usava. Sem dizer nada, o brutamontes pegou as malas da família e entrou no grande
saguão do hotel. Pôs as malas ao lado de um balcão e desapareceu.
Atrás do balcão, estava outro
sujeito que dava mais medo ainda. Bia não sabia se vampiros precisavam de
porteiros para seus castelos, mas se algum precisasse, aquele bem que poderia
ser contratado.
O homem não dizia quase nada,
não olhava as pessoas no rosto e parecia que nunca tinha tomado sol em toda a
sua vida. Ufa!
Como já estava anoitecendo, os
três foram levados pelo porteiro para a sala de jantar. Pelo jeito, Bia, o pai
e mãe eram os únicos hóspedes daquele hotel. Sentaram-se na ponta de uma mesa
enorme, iluminada por candelabros cheios de velas.
O tal porteiro pálido era também
o garçom e serviu comida aos três sem dizer uma palavra.
Os olhos de Bia corriam por
todos os cantos, por todas as sombras, assustando-se só um pouquinho, mas
assombrando-se com aqueles quadros enormes, retratos de homens cheios de rendas
e um até de armadura. A menina mal sentiu o gosto da comida. Aquele castelo era
demais!
Terminada a refeição, o mesmo
porteiro conduziu os hóspedes para seus quartos, que ficavam no alto de uma
longa escada. Com passos que nem se ouviam ao pisar os grossos tapetes, o homem
iluminava o caminho segurando um candelabro, e gotas quentes de cera derretida
caíam das velas, manchando os degraus.
O porteiro parou na frente de
duas grossas portas de madeira velha. Uma levava ao quarto dos pais. A outra
dava para o quarto de Bia.
– Que quarto grande, minha
filha! – comentou a mãe. – Você não vai ter medo de passar a noite aí?
– Claro que não, mãe!
O quarto de Bia era igualzinho
ao dos filmes de vampiro. A cama era imensa e tinha aqueles dosséis de veludo
velho, sustentados por quatro mastros de madeira.
Estava sendo demais. Demais,
mesmo!
Bia deitou-se. Debaixo das
cobertas, não conseguia fechar os olhos, maravilhada com os quadros antigos que
havia no quarto e com uma velha armadura que segurava uma espada, ao lado da
porta, como se fosse um guarda velando pelo sono dos hóspedes.
Àquela altura, os quadros, os
baús e as armaduras eram para a menina apenas sombras, mal iluminadas pela
luzinha da vela, que Bia tinha posto na mesinha de cabeceira e não tinha coragem
de apagar.
Naquelas condições, você
conseguiria dormir? Nem Bia.
Sua cabecinha rodava a mil por
hora e ela se sentia como se estivesse participando, de verdade, de um filme de
terror.
Foi aí que seu pensamento saiu
em voz alta:
– E se... e se tiver fantasma
mesmo neste castelo?
Para sua surpresa, uma voz
respondeu na mesma hora:
– O que é que tem?
– Que-quem... quem falou aí? –
gaguejou Bia, escondendo-se debaixo das cobertas e deixando só um olhinho de
fora.
– Fui eu – respondeu uma figura
pintada num quadro. – Sou o barão que mandou construir este castelo!
Ao mesmo tempo, a armadura do
lado da porta começou a andar e, de todos os lados, começaram a aparecer
fantasmas de todos os tipos e tamanhos! Do baú que estava debaixo da janela
saiu o fantasma de uma velha muito simpática, que se apresentou como a
baronesa, avó do barão do quadro.
– Não tenha medo, menina! –
tranquilizou o barão, saindo do quadro como se a moldura fosse uma janela. –
Não queremos assustar você. Estamos há tanto tempo aqui, sozinhos, sem ninguém
para conversar...
– Bem... – disse Bia. – Acho que
não tenho muito assunto para falar com fantasmas.
Eu só sei brincar.
– Brincar? – perguntaram os
fantasmas. – O que é brincar?
– Eu ensino! – propôs a menina,
pulando da cama. – Vamos começar com o esconde-esconde!
– Como é isso? – quis saber o
fantasma de armadura.
– É fácil! – ensinou Bia. – Um
de nós fica com a cara tapada num canto. Daí os outros vão se esconder e um sai
para procurar!
Você já experimentou brincar de
esconde-esconde com um fantasma? Então não experimente, pois é impossível
descobrir o esconderijo de um fantasma, principalmente quando ele não quer ser
encontrado.
E as brincadeiras correram pela
noite adentro, numa animação do “outro mundo”!
No fim, quando já estava quase
amanhecendo, Bia e os fantasmas concordaram que nunca tinham se divertido
tanto. Mas a menina precisava dormir. Estava exausta! E os fantasmas precisavam
voltar para suas molduras, baús e armaduras, pois fantasma fica transparente de
dia e não assusta ninguém.
– Uma última rodada de
esconde-esconde, fantasmada! – propôs a menina.
Desta vez, Bia escondeu-se muito
bem. Aqueles fantasmas nunca iriam encontrá-la!
Mas não passou nem um segundo e
lá estava a mãozona do barão, sacudindo o ombro da menina e rindo, às
gargalhadas:
– Ah, ah, ah! Achei você, Bia!
Ah, ah, ah!
– Bia! Bia! Acorde! Já chegamos
ao hotel...
– Hum? Como?
O carro estava estacionado e a
mão do pai sacudia o ombro da filha.
Esfregando os olhos, Bia
sentou-se no banco do carro e olhou para o “Hotel do Castelo”.
– Veja, minha filha – apontou a
mãe. – Até que o hotel parece mesmo com um castelo de verdade...
– Ih... – brincou o pai. – E se
for um castelo mal-assombrado, Bia?
A menina saiu do carro, num
pulo:
– Que nada, pai. Tenho certeza
que é um castelo bem-assombrado
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