Helinho era o rei dos ares.
Bem, se não era um rei de verdade, pelo menos era
um reizinho.
Helinho não era um helicóptero dos grandes. Era até
bem pequenininho. Mas nenhum helicóptero cortava os céus da cidade com tanta
alegria como ele.
Cada viagem era, para Helinho, um brinquedo.
– Vum, vum, vum. lá vou eu, pessoal! – gritava
Helinho girando as asas como um ventilador e olhando aquele montão de carros
que se arrastavam lentamente, lá em baixo, num enorme congestionamento.
– Aqui em cima é que é vida! Nada de
congestionamentos, nada de sinais vermelhos!
Assim vivia Helinho, voando daqui pra lá e
apostando corrida com os pardais.
Quando chegava a noite sobre a cidade e todo mundo
saía do trabalho e ia se enfiar em suas casas para ver novela de televisão,
Helinho descansava seus motores em seu querido heliporto, que era o porto do
Helinho.
O heliporto! Aquilo sim era orgulho para um
helicóptero! Ficava em cima de um edifício tão alto, que tinha até cadeira
dentro dos elevadores para que as pessoas não se cansassem ao subir até os
últimos andares.
Lá ficava espiando as luzes da cidade ao longe, até
que seu óleo esfriasse e o cansaço acabasse fechando suas vigias.
O heliporto era domínio absoluto de Helinho.
Bem, foi seu domínio até que apareceu a cegonha.
Helinho voltava de uma de suas gloriosas viagens
quando viu, bela e folgada, bem no meio do seu querido heliporto, uma criatura
que tinha jeito de cegonha, asas de cegonha, bico de cegonha e cara de cegonha.
– Uma cegonha?! No meu heliporto? Que história é
essa?
– Que história é essa digo eu! – disse a Cegonha. –
Onde já se viu ficar ventando em cima da minha cabeça? Não sabe que posso ficar
resfriada? Além disso minhas penas ficam
todas despenteadas!
– Desculpe, Dona Cegonha, mas não posso parar as
minhas hélices senão eu caio.
– Pois então vá ventar em outra freguesia!
– Ah, é? – irritou-se Helinho. – Pois eu acho que a
senhora é que devia ir pentear suas penas em outro canto. Este é o meu heliporto!
– Agora não é mais! A partir de hoje é um
“cegonhoporto”!
– Nunca ouvi falar em “cegonhoporto”! O que eu acho
é que é uma grande falta de educação alguém vir entrando, pousando e tomando
conta do heliporto dos outros!
Foi aí que a Cegonha mudou de jeito:
– É isso que você quer? Snif, snif... Você quer me
ver morando lá embaixo e dormindo em cima dos fios de eletricidade? Tomando
choque a toda hora? Oh, que cegonha infeliz que eu sou! Vou acabar tendo de
morar em cima de algum poste telefônico e tendo de ouvir as conversas dos
outros o tempo todo! Logo eu, que não sou nem um pouquinho
bisbilhoteira...
– Bem... eu... – gaguejou Helinho, sem jeito. – Na
verdade eu não quero que a senhora leve choques nem nada parecido... Eu acho
que... quem sabe? Talvez a senhora pudesse ficar morando aqui, por uns tempos,
até arranjar coisa melhor...
– Posso mesmo? Que bom!
E assim ficou acertado. O heliporto de Helinho
virou também um “cegonhoporto”.
Desse dia em diante, Helinho descobriu como era
triste o seu heliporto sem uma companhia e como era mais gostoso sair para seus
voos com alguém com quem pudesse conversar e rir dos pobres motoristas parados
no trânsito, buzinando e se arrastando feito tartarugas...
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