A Senhora amargura...







    Era uma vez... uma senhora que era  tão amarga, que quando falava arrepiava os cabelos de quem a  ouvia,  e se houvesse leite por perto, até ele azedava.
Esta senhora amarga viva sozinha no seu grande e escuro casarão, não havia marido, nem cão, nem gato, nem periquito, nem peixe que  aguentassem tanta amargura.
As pessoas evitavam cruzar-se com ela, pois já sabiam que da sua  boca só se soltavam palavras de rancor e azedume.Ela, pelo contrário, adorava dar dois dedos de conversa,pois sentia-se crescer , crescer, até se tornar um gigante que espezinhava o anãozinho.
Esta senhora alimentava-se do mal que fazia aos outros... achava até que tinha semelhanças com a Rainha má da Branca de Neve..
Um dia, um grupo de crianças entrou no seu jardim, queriam ver como era a senhora azeda...Assim, que a senhora amarga as viu, decidiu fazer das suas, e mandou-as entrar.
As crianças entraram com algum receio, mas a senhora amarga tinha um ar tão normal, que aceitaram o convite. Foi então, que a amargura que estava presa no seu coração azedo, começou a vir à tona, numa velocidade alucinante. As crianças começaram a ser bombardeadas com tanta amargura, que os  cabelos se arrepiaram, um frio gelado percorreu-lhes as costas, a língua encaracolou-se, os ouvidos colaram-se... era uma sensação tão assustadora que fugiram a sete pés.
Durante uns tempos, não se falava noutra coisa lá na vila…coitadas daquelas crianças!
A população reuniu-se e decidiu que tinha de ajudar a senhora amarga a tornar-se doce e calorosa.  Para isso, nada melhor que pedir a senhora doçuras para ter uma conversa com a senhora amarguras.
A população estava ansiosa, para ver os resultados da conversa, e por isso decidiram juntar-se no portão do casarão amargo. A senhora doçuras armou-se das mais doces atitudes, dos mais doces gestos, das mais doces palavras e entrou decidida pelo jardim. Bateu à porta e logo uma voz estridente disse:
- Entre, mas já sabe que não é  bem-vinda, nem vou fazer o mínimo de esforço para a ouvir.
A senhora doçuras, nem recuou, pois a amargura só surge em corações tristes e desamparados.
- Muito obrigado por me receber, será que podíamos conversar  um pouco, beber um chá e comer uns bolinhos doces?
Logo, a senhora amarga, voltou disparar a sua amargura.
- Se quiser beber leite azedo e comer bolos de vinagre, pode entrar, é só isso que eu  tenho para lhe dar!
A senhora doçuras sorriu e deu um abraço caloroso à senhora amarga, falou-lhe de como é bom ser doce, de como as pessoas sorriem e abrem o seu coração… de como os animais se aninham no colo, de como as crianças olham para nós com um brilhozinho nos olhos e com amor no coração ... e blá blá blá.
A senhora amarga, nunca tinha visto o lado doce da vida, nunca ninguém lhe tinha ensinado.
Mas a partir daquele dia, percebeu que a amargura não servia para nada... a doçura sim!... pode ser tão contagiosa que pode mudar o mundo .


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