O pássaro ferido sangrava na asa machucada pela pedra certeira. Caíra
a alguns metros da goiabeira que ouviu o seu último trinar antes do acidente.
O atirador parecia indeciso entre comemorar a afiada pontaria ou sentir a consciência lhe espicaçando a mente devido à crueldade do ato.
Um garoto agachou-se e espremeu os olhos na direção em que se encontrava o animalzinho abatido; espiou com tristeza o resultado de sua atitude malvada.
Pôs o bornal e o estilingue sobre uma rocha e foi em busca do pobrezinho, afastando os ramos dos arbustos que lhe impediam o caminho.
Era um belíssimo exemplar galo-de-campina. A cabeça adornada de plumas encarnadas se aquietava sobre a folhagem seca do chão, o corpo minúsculo buscava melhor posição para aplacar a dor.
De cócoras, o caçador experimentava uma terrível sensação de remorso e mais uma vez o peso dos Céus despencou em sua mente. Calmamente, porém tremendo bastante, juntou uns raminhos, deu-lhes forma de ninho e alojou a ave ferida, alisando parte de sua plumagem com os dedos ainda sujos do barro que originou a pedra certeira.
Fez o caminho de volta embalando o pássaro doente, apertando-o delicadamente contra o peito. Caça e caçador trocaram olhares distintos, brilhos alterados saíram de seus donos.
Ao chegar a casa, procurou imobilizar a asa ensangüentada atando-lhe tiras de pano, tendo o cuidado de não apertá-la em demasia.
Com o passar do tempo, o animalzinho ganhou local confortável e, após algumas dicas de um veterinário, foi alimentado com rações apropriadas e a asa sarou.
O menino não se continha de tanta felicidade com a melhora da saúde do pássaro até que, numa certa manhã, beijou-lhe a testinha e o fez ganhar a liberdade, ajudando-o a voar de volta à natureza.
Todos os dias, como um lembrete da hora do colégio, o gorjeio inconfundível do pássaro faz o menino saltar da cama - o coração pulsando aos solavancos - e debruçar-se no peitoril da janela com vistas para o quintal.
E assiste, maravilhado, ao amigo partir abanando harmoniosamente o seu jogo de asas.
Rui Paiva
O atirador parecia indeciso entre comemorar a afiada pontaria ou sentir a consciência lhe espicaçando a mente devido à crueldade do ato.
Um garoto agachou-se e espremeu os olhos na direção em que se encontrava o animalzinho abatido; espiou com tristeza o resultado de sua atitude malvada.
Pôs o bornal e o estilingue sobre uma rocha e foi em busca do pobrezinho, afastando os ramos dos arbustos que lhe impediam o caminho.
Era um belíssimo exemplar galo-de-campina. A cabeça adornada de plumas encarnadas se aquietava sobre a folhagem seca do chão, o corpo minúsculo buscava melhor posição para aplacar a dor.
De cócoras, o caçador experimentava uma terrível sensação de remorso e mais uma vez o peso dos Céus despencou em sua mente. Calmamente, porém tremendo bastante, juntou uns raminhos, deu-lhes forma de ninho e alojou a ave ferida, alisando parte de sua plumagem com os dedos ainda sujos do barro que originou a pedra certeira.
Fez o caminho de volta embalando o pássaro doente, apertando-o delicadamente contra o peito. Caça e caçador trocaram olhares distintos, brilhos alterados saíram de seus donos.
Ao chegar a casa, procurou imobilizar a asa ensangüentada atando-lhe tiras de pano, tendo o cuidado de não apertá-la em demasia.
Com o passar do tempo, o animalzinho ganhou local confortável e, após algumas dicas de um veterinário, foi alimentado com rações apropriadas e a asa sarou.
O menino não se continha de tanta felicidade com a melhora da saúde do pássaro até que, numa certa manhã, beijou-lhe a testinha e o fez ganhar a liberdade, ajudando-o a voar de volta à natureza.
Todos os dias, como um lembrete da hora do colégio, o gorjeio inconfundível do pássaro faz o menino saltar da cama - o coração pulsando aos solavancos - e debruçar-se no peitoril da janela com vistas para o quintal.
E assiste, maravilhado, ao amigo partir abanando harmoniosamente o seu jogo de asas.
Rui Paiva
Nenhum comentário:
Postar um comentário