Respiro
ofegante. Trago nas mãos uma pequena mala e uma agenda tinindo de nova. É meu
primeiro dia de aula. Venho substituir uma professora que teve que se ausentar
“por motivo de força maior”. Entro timidamente na sala dos professores e sou
encarada por todos. Uma das colegas, tentando me deixar mais à vontade,
pergunta:
– É você que
veio substituir a Edith?
– Sim –
respondo num fio de voz.
– Fala
forte, querida, caso contrário vai ser tragada pelos alunos – e morre de
rir.
E a equipe
toda se diverte com a minha cara.
– Ela nem
imagina o que a espera, não é mesmo?
Convidada a
me sentar, aceito para não parecer antipática. Eles continuam a conversar como se
eu não estivesse ali. Até que, finalmente, toca o sinal. É hora de começar a
aula. Pego meu material e percebo que me olham curiosos para saber o que tenho
dentro da mala. Antes que me perguntem, acelero o passo e sigo para a sala de
aula. Entro e vejo um montão de olhinhos curiosos a me analisar que, em
seguida, se voltam para a maleta. Eu a coloco em cima da mesa e a abro sem
deixar que vejam o que há lá dentro.
– O que tem
aí, professora?
– Em breve
vocês saberão.
No fim do
dia, fecho a mala, junto minhas coisas e saio. No dia seguinte, me comporto da
mesma maneira, e no outro e no noutro… As aulas correm bem e sinto que
conquistei a classe, que participa com muito interesse. Os professores já não
me encaram. A mala, porém, continua sendo alvo de olhares curiosos.
Chego à
escola no meu último dia de aula. A titular da turma voltará na semana
seguinte. Na sala dos professores ouço a pergunta guardada há tantos
dias:
– Afinal, o
que você guarda de tão mágico dentro dessa mala que conseguiu modificar a sala
em tão pouco tempo?
– Podem
olhar – respondo, abrindo o fecho.
– Mas não
tem nada aí! – comentam.
– O
essencial é invisível aos olhos. Aqui guardo o meu melhor.
Todos ficam
me olhando. Parecem estar pensando no que eu disse. Pego meu material, me
despeço e saio.
Cybele Meyer
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