Numa fazenda viviam um cavalo e um burro. O cavalo era
daqueles que corriam grandes prêmios. De pelo marrom lustroso, Trotinho (esse
era o seu nome) era tratado com todo o carinho. O nome Trotinho vinha do seu
trote imponente, parecia o rei dos cavalos. Dormia numa baia especial, tinha
boa alimentação, uma manta bem quentinha no inverno para amenizar o frio, um
tratador só para ele. Era o orgulho do dono da fazenda.
Já o burro ganhou o nome de Samambaia quando era jovem depois de um desastre no jardim. Ele invadiu a estufa das samambaias e, estabanado, saiu derrubando todos os vasos, pisoteando a pobres plantas. O fazendeiro ficou bravo porque as plantas eram a paixão da sua mulher. Não castigou o animal, só o repreendeu e, a partir daí, ele ficou com o nome da planta: Samambaia, o desastrado.
No verão, Trotinho, depois de treinar, ficava, por umas horas, solto no enorme pasto. Foi num desses dias que ele conheceu Samambaia, o burro.
- Hum! Então você é que é o famoso Trotinho? Eu sou Samambaia. Já ouvi falar muito de você, das corridas que ganhou dando fama e dinheiro ao nosso patrão. Eu não invejo você, sabia?
- Por quê? – perguntou Trotinho.
- Eu trabalho muito, mas depois de findo todos os afazeres eu percorro toda a fazenda, livre. Já você não. Terminada a corrida volta pra sua baia de luxo e fica lá, preso, só saindo pra treinar. Sabia que aqui tem uma cachoeira? Tem um bosque lindo, cheio de pássaros, de animais, muitas árvores frutíferas, flores, um rio que se forma a partir da queda das águas?
- Não! – disse Trotinho.
- Então! Acha que isso é vida?
- Mas eu sempre vivi assim. Não conheço outra vida. – queixou-se o cavalo.
- Que tal a gente ir conhecer tudo hoje à noite? – propôs Samambaia.
- Não sei... a baia fica trancada pelo lado de fora. – disse Trotinho.
- Deixa comigo. Assim que tudo ficar em silêncio eu virei e abrirei pra você sair. Certo?
E os dois trocaram relincho e zurro de entendimento e despedida. Anoiteceu. O trabalho na fazenda terminou. A orquestra de grilos tocava seus cricris acompanhando a canção dos sapos e das rãs. Os animais domésticos estavam recolhidos, as ferramentas arrumadas no seu devido lugar. Tudo pronto para um novo dia de trabalho. Não demorou muito e Trotinho ouviu os passos de Samambaia. Ele chegou e, falando baixinho, disse:
- Amigo, vamos? Vou abrir a sua baia.
E com os dentes ele retirou a tramela da porta, escancarando-a. Trotinho saiu e acompanhou o burro para conhecer um mundo diferente daquele que estava acostumado. Estavam quase perto do bosque quando a Lua, ajeitando-se no céu, fez:
- Psiu, psiu! Samambaia, quem é esse seu amigo aí?
- Ah! Este é Trotinho, um famoso cavalo de corrida. Trotinho, aquela lá no alto é a dona Lua.
Trotinho levantou os olhos castanhos e disse:
- Prazer em conhecer uma dama tão bonita!
A Lua sorriu agradecida dizendo:
- Samambaia, seu amigo é cheio de galanteios e, por isso, vou iluminar o céu e o bosque para que ele conheça a maravilha deste lugar.
E assim ela fez. Trotinho e Samambaia foram entrando bosque adentro. A cada passo dado, Trotinho ouvia os bichos falando com Samambaia perguntando como fora o seu dia de trabalho e quem era o amigo que estava com ele. O burro respondia que tudo correra bem e que o amigo nada mais era do que um famoso cavalo de corrida. Os bichos faziam reverência deixando Trotinho emocionado.
Enquanto isso, lá no firmamento, as estrelas cochichavam:
- Como podemos homenagear o amigo de Samambaia? – perguntou uma estrelinha azulada para uma outra maior que ela.
- Que tal presenteá-lo com a constelação do Centauro?
- Você está dizendo dar pra ele?
- Não, bobinha, a gente indica o lugar, ele olha e aprecia. Entendeu? – perguntou a esperta estrela.
E assim fizeram. Trotinho olhava para o alto e as duas estrelas iam mostrando para ele as constelações. Primeiro foi Centauro, depois Andrômeda, Áries, Cão maior, Cão menor e assim por diante. Trotinho estava maravilhado e dizia ao burro:
- Obrigado, amigo, muito obrigado! Agora vamos para a cachoeira.
Quando lá chegaram, a surpresa. Trotinho não se conteve e exclamou:
- Quanta água!
- Experimente! – disse Samambaia.
E o cavalo bebeu, pela primeira vez, a água do rio que vinha da cachoeira. Sentiu o grau de pureza e de frescura daquela água. Pôs as patas no rio e Samambaia disse:
- Mergulhe! Sinta no seu corpo a sensação de liberdade. Eu faço isso todos os dias.
E o cavalo nadou, nadou até se sentir cansado. Saiu da água e olhou para céu. As duas estrelas lá estavam jogando poeira cósmica formando uma chuva de minúsculos e brilhantes pontinhos caindo sobre a crina do cavalo, e quem olhasse de longe pensaria que ele era um ser mitológico. Enquanto isso acontecia, Samambaia comia o capim verdinho da margem do rio.
- Amigo, o que é isto que está comendo? – perguntou Trotinho curioso.
- É capim. – respondeu o burro.
- Eu nunca comi.
- Então venha comer! - Trotinho experimentou e gostou. Folha tenrinha e suculenta, água pura e fresquinha, isto é que é vida! Estavam tão felizes, burro e cavalo, que se esqueceram que deviam voltar. Mas a Lua atenta, num bocejo prolongado, disse:
- Pessoal, acho que já é hora de voltar. Eu preciso ir dormir para dar lugar ao meu amigo Sol.
- É mesmo! - disse Samambaia – o dia já está quase raiando. Então amigo, gostou da aventura? Podemos repetir quando quiser...
- Adorei. É muito bom ter momentos de liberdade, unir-se à natureza, eu quero voltar outras vezes, Samambaia. Quero ter amigos no céu e na terra como você tem.
- Combinado. Este será o nosso segredo, Trotinho!
Alegres, eles se despediram da Lua e das estrelas, dos animais e dos pássaros, voltando para a fazenda, apostando corrida, antes que o sol acordasse o pessoal.
Já o burro ganhou o nome de Samambaia quando era jovem depois de um desastre no jardim. Ele invadiu a estufa das samambaias e, estabanado, saiu derrubando todos os vasos, pisoteando a pobres plantas. O fazendeiro ficou bravo porque as plantas eram a paixão da sua mulher. Não castigou o animal, só o repreendeu e, a partir daí, ele ficou com o nome da planta: Samambaia, o desastrado.
No verão, Trotinho, depois de treinar, ficava, por umas horas, solto no enorme pasto. Foi num desses dias que ele conheceu Samambaia, o burro.
- Hum! Então você é que é o famoso Trotinho? Eu sou Samambaia. Já ouvi falar muito de você, das corridas que ganhou dando fama e dinheiro ao nosso patrão. Eu não invejo você, sabia?
- Por quê? – perguntou Trotinho.
- Eu trabalho muito, mas depois de findo todos os afazeres eu percorro toda a fazenda, livre. Já você não. Terminada a corrida volta pra sua baia de luxo e fica lá, preso, só saindo pra treinar. Sabia que aqui tem uma cachoeira? Tem um bosque lindo, cheio de pássaros, de animais, muitas árvores frutíferas, flores, um rio que se forma a partir da queda das águas?
- Não! – disse Trotinho.
- Então! Acha que isso é vida?
- Mas eu sempre vivi assim. Não conheço outra vida. – queixou-se o cavalo.
- Que tal a gente ir conhecer tudo hoje à noite? – propôs Samambaia.
- Não sei... a baia fica trancada pelo lado de fora. – disse Trotinho.
- Deixa comigo. Assim que tudo ficar em silêncio eu virei e abrirei pra você sair. Certo?
E os dois trocaram relincho e zurro de entendimento e despedida. Anoiteceu. O trabalho na fazenda terminou. A orquestra de grilos tocava seus cricris acompanhando a canção dos sapos e das rãs. Os animais domésticos estavam recolhidos, as ferramentas arrumadas no seu devido lugar. Tudo pronto para um novo dia de trabalho. Não demorou muito e Trotinho ouviu os passos de Samambaia. Ele chegou e, falando baixinho, disse:
- Amigo, vamos? Vou abrir a sua baia.
E com os dentes ele retirou a tramela da porta, escancarando-a. Trotinho saiu e acompanhou o burro para conhecer um mundo diferente daquele que estava acostumado. Estavam quase perto do bosque quando a Lua, ajeitando-se no céu, fez:
- Psiu, psiu! Samambaia, quem é esse seu amigo aí?
- Ah! Este é Trotinho, um famoso cavalo de corrida. Trotinho, aquela lá no alto é a dona Lua.
Trotinho levantou os olhos castanhos e disse:
- Prazer em conhecer uma dama tão bonita!
A Lua sorriu agradecida dizendo:
- Samambaia, seu amigo é cheio de galanteios e, por isso, vou iluminar o céu e o bosque para que ele conheça a maravilha deste lugar.
E assim ela fez. Trotinho e Samambaia foram entrando bosque adentro. A cada passo dado, Trotinho ouvia os bichos falando com Samambaia perguntando como fora o seu dia de trabalho e quem era o amigo que estava com ele. O burro respondia que tudo correra bem e que o amigo nada mais era do que um famoso cavalo de corrida. Os bichos faziam reverência deixando Trotinho emocionado.
Enquanto isso, lá no firmamento, as estrelas cochichavam:
- Como podemos homenagear o amigo de Samambaia? – perguntou uma estrelinha azulada para uma outra maior que ela.
- Que tal presenteá-lo com a constelação do Centauro?
- Você está dizendo dar pra ele?
- Não, bobinha, a gente indica o lugar, ele olha e aprecia. Entendeu? – perguntou a esperta estrela.
E assim fizeram. Trotinho olhava para o alto e as duas estrelas iam mostrando para ele as constelações. Primeiro foi Centauro, depois Andrômeda, Áries, Cão maior, Cão menor e assim por diante. Trotinho estava maravilhado e dizia ao burro:
- Obrigado, amigo, muito obrigado! Agora vamos para a cachoeira.
Quando lá chegaram, a surpresa. Trotinho não se conteve e exclamou:
- Quanta água!
- Experimente! – disse Samambaia.
E o cavalo bebeu, pela primeira vez, a água do rio que vinha da cachoeira. Sentiu o grau de pureza e de frescura daquela água. Pôs as patas no rio e Samambaia disse:
- Mergulhe! Sinta no seu corpo a sensação de liberdade. Eu faço isso todos os dias.
E o cavalo nadou, nadou até se sentir cansado. Saiu da água e olhou para céu. As duas estrelas lá estavam jogando poeira cósmica formando uma chuva de minúsculos e brilhantes pontinhos caindo sobre a crina do cavalo, e quem olhasse de longe pensaria que ele era um ser mitológico. Enquanto isso acontecia, Samambaia comia o capim verdinho da margem do rio.
- Amigo, o que é isto que está comendo? – perguntou Trotinho curioso.
- É capim. – respondeu o burro.
- Eu nunca comi.
- Então venha comer! - Trotinho experimentou e gostou. Folha tenrinha e suculenta, água pura e fresquinha, isto é que é vida! Estavam tão felizes, burro e cavalo, que se esqueceram que deviam voltar. Mas a Lua atenta, num bocejo prolongado, disse:
- Pessoal, acho que já é hora de voltar. Eu preciso ir dormir para dar lugar ao meu amigo Sol.
- É mesmo! - disse Samambaia – o dia já está quase raiando. Então amigo, gostou da aventura? Podemos repetir quando quiser...
- Adorei. É muito bom ter momentos de liberdade, unir-se à natureza, eu quero voltar outras vezes, Samambaia. Quero ter amigos no céu e na terra como você tem.
- Combinado. Este será o nosso segredo, Trotinho!
Alegres, eles se despediram da Lua e das estrelas, dos animais e dos pássaros, voltando para a fazenda, apostando corrida, antes que o sol acordasse o pessoal.
Maria Hilda de Jesus
Alão
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