Um homem muito rico tem de fazer uma viagem de negócios. No seu avião particular que rasga as nuvens sobrevoa um país verde.
Sente-se cansado. De vez em quando olha pela janela. De repente arregala os olhos e chama o seu secretário particular.
— Avise o piloto para aterrar aqui.
— Aqui?
— Sim, sim. Imediatamente!
Mal o avião aterra, dirige-se para uma árvore enorme, repleta de pássaros. Diz para o secretário:
— Quero-a para mim.
— Aquela rola?
— Não, palerma, esta árvore.
O homem rico resolveu levar a árvore inteira para a plantar no parque do seu palácio, junto da piscina.
O secretário tem de chamar um engenheiro de águas e florestas mais uma equipa de 30 jardineiros.
Os jardineiros escavam à volta do tronco. Durante vários dias, raiz a raiz, separam a árvore da terra que é a sua mãe.
Uma tarde, com o trabalho já quase concluído, diz o engenheiro ao secretário:
— Não se pode continuar mais. A última raiz está fundida com a daquele arbusto.
— Corta-se.
— Se a cortarmos, a árvore morre de desgosto.
— Cortem, então, o arbusto.
— O resultado é o mesmo.
Preocupado, o secretário vai logo explicar ao homem rico. O homem rico fica muito arreliado.
— Se é assim, compre-se o arbusto também.
O arbusto, a alguns metros dali, refresca com a sua fresca sombra uma casinha que parece ter séculos. Diante da casa, uma velha senhora dorme a sesta num cadeirão de vime. O secretário acorda-a, conversa com ela uma boa meia hora e regressa depois.
— Você é um palerma. Quero para mim esta árvore, esta casa e até esta velha senhora, se for caso disso.
— Mas ela recusa qualquer proposta.
O homem rico dá uma bofetada no secretário.
— Eu próprio negociarei com ela.
Ao chegar à casinha, vê o cadeirão de vime vazio e a porta fechada. Bate. A velha senhora vem abrir e diz:
— Estava agora mesmo à sua espera. Preparei um chá e uns bolinhos de amêndoa.
O homem ficou surpreendido. Nunca ninguém lhe oferecera nada. Tudo o que possui teve de o comprar. E a verdade é que adora bolinhos de amêndoa. Chá, é que nunca tinha provado. Só café muito forte.
Bebe o chá e acha-o muito bom. Ergue os olhos da chávena, decidido a fazer a fatídica pergunta: Quanto?
O seu olhar cruzou-se com o da senhora. No olho esquerdo vê refletida a árvore grande e no direito o arbusto, ligados entre si por milhares de rugas muito fininhas.
O homem sente-se corar, trinca um bolinho e gagueja:
— Quanto, quanto... quanto tempo demora a preparar estes deliciosos bolos?
— A vida inteira. Faço hoje 80 anos.
O homem rico levanta a chávena e diz:
— Feliz aniversário!
Depois, deu por si a fazer uma pergunta que nunca antes fizera a ninguém.
— Que prenda gostava de receber?
A velha senhora estende-lhe uma pá.
— Cubra as raízes da árvore grande, que pode apanhar frio. É a prenda que eu gostaria de receber.
O homem rico volta para o pé da árvore e diz ao secretário:
— Pague a estes homens e mande-os para casa.
— Vamos embora?
— Vão só vocês. Eu fico.
O avião levanta voo. O homem rico fica. Começa a trabalhar.
Dia após dia vai cobrindo, uma a uma, todas as raízes. A princípio, o tele móvel não para de tocar. Responde quase automaticamente, depois, toca cada vez menos, e, por fim, nunca mais se ouve.
Quando tem sede, a velha senhora leva-lhe chá.
Quando tem fome, prepara-lhe uns petiscos.
À noite, dorme no celeiro. Às vezes faz calor e a terra fica dura, mas leve.
Nos dias de chuva, a pá enterra-se facilmente, mas a terra pesa mais.
Até que por fim, certo dia, o trabalho acaba. O homem de negócios senta-se ao lado da velha senhora e olha para a erva que cresce em volta da árvore.
Na sua mão, agora calejada e com rugas, a chávena parece muito frágil.
— Acabei — diz ele.
— Faz precisamente um ano — responde-lhe a senhora.
— Então, feliz aniversário! — e oferece-lhe uma prenda.
Ela pega nela e vê: é o tele móvel. Ele diz:
— Amanhã vou-me embora. Mas hei-de voltar.
Algumas semanas depois, o tele móvel toca. A velha senhora sai de casa e grita para a árvore grande:
— É o homem rico. Quer falar contigo.
Remi Courgeon
Le grand arbre
Paris, Mango Jeunesse, 2002
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