Se acharem esta história mais disparatada e patusca do que
as outras, não é culpa minha. Ela passou-se num sítio onde as histórias
patuscas parecem histórias muito certinhas. Lá, nesse sítio, as nossas
histórias muito certinhas também parecem patuscas... Acontece.
Mas vamos à história, que se faz tarde.
Era uma vez um queijo flamengo, redondo e vermelhinho, ainda por encetar. Estava pendurado numa árvore, porque, nas histórias patuscas, os queijos nascem e crescem nas árvores. Era um queijo muito maduro, quase a cair, de maduro que estava. E caiu.
Caiu, mas não se espalmou, porque tinha a casca dura. Caiu e pôs-se a rebolar pela encosta abaixo. Assim foi ter a uma estrada alcatroada, com ótimo piso para queijos flamengos.
Rebolando sempre, passou por uma leitaria, onde estavam alinhados, na montra, muitos queijos da serra. O dono da leitaria viu o queijo flamengo em liberdade, saltou do balcão e desatou a correr e a gritar:
— Agarra, agarra, que o queijo é meu.
Por azar, escorregou numa casca, talvez de queijo, e estatelou-se no chão. Puseram-se a rir os queijos da serra da montra e de tanto se rirem até se babaram todos. Ainda eram queijos frescos.
Lá mais adiante ia um regimento a passar. Reluziam as cornetas, as espadas e os botões. Nunca falta Sol, nestas ocasiões.
Veio o queijo flamengo, saltitando o saltarico, e a marcha foi ao chão, como se lhe desse um fanico.
— Estamos a ser atacados! Atirem sobre ele! — gritavam os oficiais.
Mas já não atiraram a tempo. O queijo flamengo tinha escorregado por uma ladeira, enfiado numa escada e, ploc, ploc, ploc, descia os degraus aos saltos, o que é sempre perigoso. Nunca desçam as escadas aos saltos, sobretudo se ainda não tiverem a casca suficientemente dura.
Os degraus, por sinal, eram os da bancada de um campo de futebol, onde o público gritou GOOL! quando viu o queijo saltar para dentro da baliza.
O guarda-redes é que ficou danado, por ter consentido naquele "frango", que, afinal, até era um queijo. E vai daí, deu-lhe um enorme pontapé, que o atirou para as nuvens, precisamente na altura em que o público voltava a gritar GOOL!, porque desta vez, a verdadeira bola de futebol do desafio entrara na baliza, à guarda do guarda-redes, distraído com a bola que não era...
Parece tudo um bocado confuso, mas acho que se percebe.
Quem não percebeu foi o piloto dum avião supersônico, daqueles que escrevem gatafunhos no céu, que ninguém consegue ler. Quando viu um queijo flamengo quase a roçar-lhe uma asa, o piloto desenhou uma quantidade de pontos de interrogação, no ar: Será um satélite? Terei subido demais? Ou bebido? Será mesmo um queijo? Ou uma miragem? Ou uma miragem-queijo? Sendo assim, porque é que não é uma miragem-pão com queijo?
Pelo sim pelo não, decidiu regressar à base, desconfiado de que o mal dele era fome.
Se o queijo se não tivesse, entretanto, lembrado da lei da gravidade, a estas horas os astrônomos, que apontam os seus telescópios para os astros, estavam a descobrir um novo planeta. Um planeta-queijo, por que não?
Por que não ou por que sim, o queijo flamengo caiu.
Caiu num jardim, onde um famoso ponta-de-lança, tão famoso que eu nem preciso dizer o nome (até porque não me lembro...), onde o tal futebolista jogava à bola com o filho.
O futebolista, supondo que o queijo era a bola, deu-lhe um chuto valente. À conta deste novo impulso, o queijo executou um grande arco no ar e foi ter... adivinhem onde?
Foi ter à árvore dos queijos flamengos, donde tinha partido, quando esta história começou.
É natural que se tenha desprendido de novo, mas, por hoje, já chega. Tivesse voto na matéria, e o amolgado queijo flamengo também diria o mesmo.
António Torrado
Mas vamos à história, que se faz tarde.
Era uma vez um queijo flamengo, redondo e vermelhinho, ainda por encetar. Estava pendurado numa árvore, porque, nas histórias patuscas, os queijos nascem e crescem nas árvores. Era um queijo muito maduro, quase a cair, de maduro que estava. E caiu.
Caiu, mas não se espalmou, porque tinha a casca dura. Caiu e pôs-se a rebolar pela encosta abaixo. Assim foi ter a uma estrada alcatroada, com ótimo piso para queijos flamengos.
Rebolando sempre, passou por uma leitaria, onde estavam alinhados, na montra, muitos queijos da serra. O dono da leitaria viu o queijo flamengo em liberdade, saltou do balcão e desatou a correr e a gritar:
— Agarra, agarra, que o queijo é meu.
Por azar, escorregou numa casca, talvez de queijo, e estatelou-se no chão. Puseram-se a rir os queijos da serra da montra e de tanto se rirem até se babaram todos. Ainda eram queijos frescos.
Lá mais adiante ia um regimento a passar. Reluziam as cornetas, as espadas e os botões. Nunca falta Sol, nestas ocasiões.
Veio o queijo flamengo, saltitando o saltarico, e a marcha foi ao chão, como se lhe desse um fanico.
— Estamos a ser atacados! Atirem sobre ele! — gritavam os oficiais.
Mas já não atiraram a tempo. O queijo flamengo tinha escorregado por uma ladeira, enfiado numa escada e, ploc, ploc, ploc, descia os degraus aos saltos, o que é sempre perigoso. Nunca desçam as escadas aos saltos, sobretudo se ainda não tiverem a casca suficientemente dura.
Os degraus, por sinal, eram os da bancada de um campo de futebol, onde o público gritou GOOL! quando viu o queijo saltar para dentro da baliza.
O guarda-redes é que ficou danado, por ter consentido naquele "frango", que, afinal, até era um queijo. E vai daí, deu-lhe um enorme pontapé, que o atirou para as nuvens, precisamente na altura em que o público voltava a gritar GOOL!, porque desta vez, a verdadeira bola de futebol do desafio entrara na baliza, à guarda do guarda-redes, distraído com a bola que não era...
Parece tudo um bocado confuso, mas acho que se percebe.
Quem não percebeu foi o piloto dum avião supersônico, daqueles que escrevem gatafunhos no céu, que ninguém consegue ler. Quando viu um queijo flamengo quase a roçar-lhe uma asa, o piloto desenhou uma quantidade de pontos de interrogação, no ar: Será um satélite? Terei subido demais? Ou bebido? Será mesmo um queijo? Ou uma miragem? Ou uma miragem-queijo? Sendo assim, porque é que não é uma miragem-pão com queijo?
Pelo sim pelo não, decidiu regressar à base, desconfiado de que o mal dele era fome.
Se o queijo se não tivesse, entretanto, lembrado da lei da gravidade, a estas horas os astrônomos, que apontam os seus telescópios para os astros, estavam a descobrir um novo planeta. Um planeta-queijo, por que não?
Por que não ou por que sim, o queijo flamengo caiu.
Caiu num jardim, onde um famoso ponta-de-lança, tão famoso que eu nem preciso dizer o nome (até porque não me lembro...), onde o tal futebolista jogava à bola com o filho.
O futebolista, supondo que o queijo era a bola, deu-lhe um chuto valente. À conta deste novo impulso, o queijo executou um grande arco no ar e foi ter... adivinhem onde?
Foi ter à árvore dos queijos flamengos, donde tinha partido, quando esta história começou.
É natural que se tenha desprendido de novo, mas, por hoje, já chega. Tivesse voto na matéria, e o amolgado queijo flamengo também diria o mesmo.
António Torrado
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