A fonte dos pardais













  Era uma vez uma fonte à beira da estrada. Os pardais das árvores vizinhas tinham ali o seu ponto de encontro.

  Matavam a sede, tomavam banho, chilreavam uns com os outros.

  De semana a semana, vinha um homem, sempre de automóvel, buscar água à fonte. Enchia uma quantidade de garrafões de plástico e, depois, abalava.

  Nessas alturas, a pardalada fugia para o poiso das árvores e ficava a observar.

  — O que é que ele vai fazer com tanta água? — intrigava-se um pardalito novo.

  — Deve ir regar as couves — sugeria um pardal.

  — Para regar as couves é pouca — replicava uma velha pardoca, muito conhecedora da vida.

  — Então é para ele beber — propunha outro pardal.

  — Para ele beber é muita — replicava a velha pardoca.

  — Para o que será? — perguntava o pardalito, sem que ninguém soubesse responder-lhe.

  Decidiu investigar. Voou atrás do automóvel, mas como ainda tinha as asas com pouca força e a estrada era às curvas e contra-curvas, perdeu-lhe o rasto. E perdeu-se.

  Esvoaçou ao calhas, até descer sobre um telheiro, junto à estrada. No telheiro havia melões à venda e cebolas e batatas e garrafões de vinho. Alto lá! E também havia garrafões de água, tal e qual os que o homem do automóvel enchia, na fonte dos pardais.

  Se o pardal soubesse ler, leria no rótulo dos garrafões:

  "ÁGUA DA FONTE DA SAÚDE – Graças a ela, os novos crescem e os velhos não encolhem".

  Aos saltinhos, diante dos garrafões, o pardalito admirava a fotografia do rótulo. Lá estava a fonte, centro da sua vida, e uns passarinhos a beber água no rebordo do tanque. Vendo bem, aquele mais pequeno, à direita, podia ser ele, o pardalito aventureiro.

  Muito orgulhoso da sua descoberta, o pardal voou muito alto, tão alto que, lá de cima, viu o telheiro dos garrafões, a estrada às curvas e a fonte da Saúde ou dos pardais, donde ele viera.

  Disparou em direção ao ponto de partida e muito excitado piou para os companheiros:

  — Já sei o segredo dos garrafões. O homem anda a vender o nosso retrato mais o retrato da nossa fonte.

  — E a água para que serve? — perguntou um companheiro.

  — Para segurar o nosso retrato — respondeu, prontamente, o pardalito.

António Torrado

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