Código Secreto







 
   Nicolau tem um amigo que se chama Godofredo. Ele inventou um código para se comunicar com seus colegas durante a aula. No recreio, Godofredo reuniu sua turma para contar esta novidade.
   – Inventei um código formidável – o Godofredo disse. – é um código secreto que só a gente da turma vai entender.
   E ele mostrou para nós; para cada letra a gente faz um gesto. Por exemplo: o dedo no nariz é para a letra “a”, o dedo no olho esquerdo é “b”, o dedo no olho direito é “c”. Têm gestos diferentes para todas as letras: a gente coça a orelha, esfrega o queixo, dá tapas na testa, e assim até z, quando a gente fica vesgo. Fantástico!
Ficamos em fila e o Godofredo disse:
   – Na classe eu vou mandar uma mensagem para vocês, e no próximo recreio a gente vê quem entendeu. Já vou avisando: para fazer parte da turma tem que conhecer o código secreto!
Na classe, a professora mandou a gente tirar os cadernos e copiar os problemas que ela ia escrever no quadro, para a gente fazer em casa. Eu fiquei muito chateado com isso, principalmente por causa do papai, porque ele volta do escritório muito cansado, e sem muita vontade de fazer lição de matemática. Depois, enquanto a professora escrevia no quadro, todo mundo se virou para o Godofredo e ficamos esperando ele começar a mensagem. Então o Godofredo começou a fazer gestos; e não era mesmo muito fácil de entender, porque ele fazia muito rápido, e depois ele parava para escrever no caderno, e depois, como a gente estava olhando para ele, ele começava a fazer gestos, e ele ficava muito engraçado pondo os dedos nas orelhas e dando tapas na testa.
A mensagem do Godofredo estava comprida demais, e era muito chato porque nós não podíamos copiar os problemas. É mesmo, a gente tinha medo de perder as letras da mensagem e de não entender mais nada, e então a gente tinha que ficar olhando o tempo todo para o Godofredo, que senta atrás, no fundo da sala.
            E depois o Godofredo fez i coçando a cabeça, t mostrando a língua, arregalou os olhos e parou. Todo mundo se virou e viu que a professora não estava mais escrevendo e estava olhando para o Godofredo.
            – Pois é, Godofredo – a professora falou. – eu estou com os seus colegas, vendo você fazer as suas micagens. Mas já durou demais, não é?
            Foi no dia seguinte que Godofredo nos explicou a mensagem. Ele tinha dito:
             “Não fiquem me olhando desse jeito senão a professora vai me pegar”.

Sempé, Goscinny. O pequeno
 Nicolaue seus colegas. São paulo:Martins Fontes, 1987.

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