- Se há alguma coisa importante neste mundo, dizia o marido, é uma
empregada de confiança.
A mulher concordava, satisfeita: realmente, a empregada deles era de confiança
absoluta. Até as compras fazia, tudo direitinho. Tão de confiança que eles não hesitavam
em deixar-lhe a casa, quando viajavam.
Uma vez resolveram passar o fim de semana na praia. Como de costume a
empregada ficaria. Nunca saía nos fins de semana, a moça. Empregada perfeita.
Foram. Quando já estavam quase chegando à orla marítima, ele se deu
conta: tinham esquecido a chave da casa da praia. Não havia outro remédio.
Tinham de voltar.
Voltaram.
Quando abriram a porta do apartamento, quase desmaiaram: o living estava
cheio de gente, todo mundo dançando, no meio de uma algazarra infernal. Quando
ele conseguiu se recuperar da estupefação, procurou a empregada:
- Mas o que é isto, Elcina? Enlouqueceu?
Aí um simpático mulato interveio:
- Que é isto, meu patrão, a moça não enlouqueceu, coisa alguma, estamos
apenas nos divertindo, o senhor não quer dançar também?
- Isto mesmo! Gritava o pessoal,
- Dancem com a gente.
O marido e a mulher hesitaram um pouco; depois - por que não, afinal a
gente tem de experimentar de tudo na vida, aderiram à festa. Dançaram, beberam,
riram. Ao final da noite concordavam com o mulato: nunca tinham se divertido
tanto.
No dia seguinte, despediram a empregada.
Fonte: SCLIAR, Moacyr. Histórias
para (quase) todos os gostos. Porto alegre: L&PM, 1998.
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