No tempo
dos escravos, havia um estancieiro muito ruim, que levava tudo por diante, a
grito e a relho. Naqueles fins de mundo, fazia o que bem entendia, sem dar
satisfação a ninguém.
Entre os
escravos da estância havia um negrinho,
encarregado do pastoreio de alguns animais, coisa muito comum nos tempos em que
os campos de estância não conheciam cerca de
arame; quando muito, havia apenas alguma cerca de pedra erguida pelos próprios
escravos, que não podiam ficar parados, para não pensar bobagem… No mais, os
limites dos campos eram aqueles colocados por Deus nosso Senhor: rios, cerros,
lagoas.
Pois de
uma feita, o pobre negrinho, que já vivia as maiores judiarias nas mãos do
patrão, perdeu um animal no pastoreio. Pra quê! Apanhou uma barbaridade atado a
um palanque e, depois, caindo, ainda foi mandado procurar o animal extraviado.
Como a noite vinha chegando, ele agarrou um toquinho de vela e uns avios de
fogo, com fumo e tudo, e saiu campeando. Mas nada! O toquinho acabou, o dia
veio chegando e ele teve que voltar para a estância.
Então,
foi outra vez atado ao palanque e dessa vez apanhou tanto que morreu, ou
pareceu morrer. Vai daí, o patrão mandou abrir a “panela” de um formigueiro e o
atirarem lá dentro, de qualquer jeito, o pequeno corpo do negrinho, todo
lanhado de laçaço e banhando em sangue.
No outro
dia, o patrão foi com a peonada e os escravos ver o formigueiro.
Qual não
é a sua surpresa ao ver o Negrinho do Pastoreio: ele estava lá, mas de pé, com
a pele lisa, sem nenhuma marca das chicotadas. Ao lado dele, a Virgem Nossa
Senhora, e mais adiante o baio e os outros cavalos.
O
estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu.
Apenas
beijou a mão da santa, montou no baio e partiu conduzindo a tropilha.
Desde aí,
o Negrinho do Pastoreio ficou sendo o achador das coisas extraviadas. E não
cobra muito: basta acender um toquinho de vela, ou atirar num canto qualquer naco
de fumo.
(Domínio público)
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