Depois de dias na praia, o menino Enrico, de quatro anos, chegou cheio de saudade, principalmente do avô.
- Vô, que tal você me levar ao cinema hoje? Só nós dois! Você nunca saiu sozinho comigo ( uma inverdade).
Diante de tal insistência, desconfiada, a mãe apertou-o e ele acabou por confessar que ao sair com o avô sempre ganhava alguns brinquedos.
É claro, naquela hora tentava realizar seus desejos.
Nunca vi criança mais adorável, mas tem essa mania indomável -rima não intencional - adora presentes, o presente de cada dia, o esperado, o solicitado, o exigido, o chorado.
Tentou-se fazer um combinado sério: presentes apenas em datas especiais como Natal, dia da criança e do aniversário.
Não muito satisfeito, fingiu concordar, no entanto quase que em seguida resolveu questionar tal racionamento. Sua mãe cedeu diante daquele carinha marota:
- Está bem, então presentes nas datas combinadas, e alguma lembrancinha de vez em quando, escute bem, só de vez em quando...certo?
Ele concordou.
Ontem à tarde, mãe e filho foram ao cinema do Shopping Higienópolis.
Foi uma tarefa corajosa, lá há lojas de brinquedos e o combinado corria alto risco, mas a Marcelinha - como a chama o menino - foi firme.
A cada pedido ela contestava: hoje não é Natal, nem aniversário, nem o dia da criança. Ele calava-se tristonho e seguia a caminhada.
Depois do cinema, voltou a solicitar os brinquedos. Marcela respondeu da mesma maneira.
Quando já na garagem, prontos para entrarem no carro, virou-se para a mãe e disse eufórico:
-Feliz Dia de vez em quando, mãe!
- Como? Não entendi...
- Mãe, hoje é Dia de vez em quando, então posso ganhar um presentinho...
Marcela, contendo o riso, retrucou:
Hoje não é o Dia de vez em quando, não senhor!
Ele aflito, com a vozinha alterada, perguntou-lhe:
-E, então, quando é esse dia?
A mãe sem saber o que dizer, respondeu-lhe:
-Não sei. Preciso olhar no calendário...
Maria da Graça Almeida
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