O BURRO E O CÃOZINHO





          Aconteceu que um burro sentiu-se cansado com o trabalho estafante que era forçado a realizar todos os dias, desde o nascer do sol até quando a noite cobria a terra com o manto da escuridão. Como se isso não bastasse, seu condutor também o cobria de pancadas, sem dó nem piedade, obrigando-o a se esforçar de tal forma que ele vivia sempre à beira da exaustão. Ao mesmo tempo, todas as vezes que passava diante da casa do fazendeiro o burro observava um cãozinho saltitando alegre de um lado para outro, entrando e saindo pela porta da sala, enquanto algumas crianças tentavam acompanhá-lo gritando e batendo palmas de satisfação.

          “Se ele pode fazer isso, eu também posso”, dizia o burro todas as vezes que passava diante da habitação. E tanto repetiu esse pensamento que acabou se convencendo de que poderia realmente pular do mesmo jeito que o cão, embora o tamanho de seus corpos fosse tão diferente. Então, valendo-se de que num dado momento o homem que o conduzia encontrava-se distraído, ele entrou pela casa à dentro zurrando e escoiceando, imaginando que as pessoas que moravam ali logo estariam brincando ao seu lado, contentes e satisfeitas. Mas o estrago que fez foi tão grande, o barulho que aprontou foi tão assustador, que a dona da casa e seus filhos começaram a gritar desesperadamente por socorro, e os empregados da fazenda, ao ouvirem os pedidos aflitos de ajuda, vieram acudir a família do patrão. E deram no burro uma surra tão grande que ele acabou ficando mais estropiado do que se tivesse trabalhado o dobro do que costumava fazer.

          Moral da história: Não supervalorize suas qualidades ou virtudes, porque isso pode lhe trazer mais decepções que alegrias..


Baseado numa fábula de La Fontaine

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