O GATO, A DONINHA E O COELHO





Aproveitando a ausência do coelho a doninha achou por bem se apossar da toca onde ele morava. E foi o que ela fez sem o menor melindre, enquanto o legítimo proprietário realizava a sua caminhada matinal em busca da primeira refeição do dia. Ao regressar à morada que lhe pertencia, o coelho percebeu que algo bloqueava a sua entrada, e ao descobrir que a doninha havia invadido o que era seu, ordenou que ela se afastasse imediatamente, porque aquela toca tinha dono. Em vão, pois a doninha retrucou que fora ela a primeira a chegar ali, e que por causa disso o coelho que tratasse de procurar um outro lugar para morar.

O coelho argumentou que pela lei de usos e tradições a posse daquele buraco cabia a ele por herança familiar, pois fora seu avô quem o perfurara, e depois o entregara a seu pai, que por sua vez o deixara como legado ao filho mais velho, que era ele próprio, prejudicado agora por aquela ocupação inaceitável. Mas suas palavras foram levadas pelo vento, já que a doninha não deu a elas a menor atenção. Diante do impasse que ameaçava se transformar em briga feia, a doninha propôs ao coelho que ambos procurassem o gato e pedissem ao mesmo que funcionasse como árbitro naquela questão. O coelho achou a ideia boa, e assim lá se foram os litigantes em busca do juiz tido como sábio, prudente e imparcial, mas que era, na verdade, um animal velhaco ao extremo. Gordo e bem nutrido, o gato lhes perguntou assim que chegaram:

- Viestes me consultar? Aproximem-se um pouco mais, pois estou velho e quase não escuto o que me falam.

O coelho e a doninha não desconfiaram de que o convite poderia esconder uma cilada e por isso atenderam à solicitação do gato traiçoeiro, que ao vê-los tão próximos de si alcançou os dois litigantes de um bote só e os prendeu com as garras e dentes, fazendo com que eles finalmente concordassem um com o outro sobre como tinham sido ingênuos ao imaginarem que alguém mais forte poderia realmente se preocupar com os problemas dos mais fracos.


Moral da história: Cuidado com a lei do mais forte, pois ela é injusta e implacável.

Baseado em uma fábula de La Fontaine.

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