O DUENDE E O PESCADOR PREGUIÇOSO






Numa aldeia distante morava um pescador que era muito preguiçoso. Todos os dias a sua mulher gritava para ele sair da cama e ir trabalhar. Muito contrariado ele saía, tomava o café, pegava a vara de pescar e o cesto e lá ia ele para a beira do rio.
Sentava numa pedra, acendia um cigarro de palha e fumava, fumava e depois dormia até quase a hora do almoço quando voltava para casa de mãos vazias. A mulher ficava brava, reclamava dizendo:
- Tunico, ocê num traiz um pexe prus nossus fios cume, homi? U qui ocê faiz lá na bera du riu?
- Muié, us pexes num apareci. Achu qui elis têm medu di mim. – respondeu o Tonico.
- Ocê é um malandru, issu é qui é a vredadi. – disse a mulher nervosa.
Um duende, invisível, ouvia a conversa. Ficou com pena da mulher e resolveu ajudar o malandro para ver se ele tomava jeito. Quando Tonico se dirigia para o rio o duende apareceu para ele na forma de um velho com uma flauta na mão.
- Bom dia, nobre pescador. – disse o velho.
- Uai, eu num cunheçu ocê! Dindonde ocê vem? – perguntou ao velho.
- Eu sou dessas bandas. Moro não muito longe daqui. Vê esta flauta? Ela é mágica. Você toca e os peixes saltam da água para a margem do rio. Depois é só pegar e colocar no cesto. Ela é sua.
- Si ela é milagrera, pru qui ocê ta mi dano. U certu era vendê. – questionou o Tonico.
- É porque eu apostei com um amigo que a flauta pesca mais que o anzol. Eu não quero perder a aposta. – foi a resposta do velho.
- Ta certu, eu vou fingi qui creditu. – resmungou.
- Logo mais eu volto para ver quantos peixes você pescou com a flauta e com o anzol. – disse o velho se afastando.
- Qui mundu cumpricadu. Frauta qui pesca, nunca vi dissu.
O Tonico sentou na pedra e tocou, tocou, tocou a flauta e nada de peixe saltar da água. Então ele, rindo, exclamou:
- Eita véio burru! Vou amostrá prele qui o anzor é bem mió.
Pegou a vara de pescar, ajeitou o anzol, pôs a isca e lançou na água do rio. Na primeira puxada veio um dourado de bom tamanho, numa outra puxada veio um piau três pintas. Ele foi se entusiasmando e quando se deu conta tinha o cesto cheio de lambaris, barbados, traíras e tantos outros peixes do rio. Estava feliz. Nossa! Ele ria e pulava de contentamento. A sua mulher não ia acreditar. Ele venceu a flauta do velho com aquele anzolzinho.
Neste momento de euforia surgiu o velho da flauta e foi logo dizendo:
- Viu como a flauta pesca melhor do que o anzol? Olha aí quanto peixe. Eu ganhei a aposta. – disse o velho.
- Ocê num ganhô nada. Esta tar di frauta num pesca nadinha di nada. Qué vê? – e tocou a flauta na presença do velho e não aconteceu nada.
- Viu, viu! Essa pexarada é fruitu du meu trabaiu cum u anzor – disse orgulhoso o Tonico devolvendo a flauta para o velho.
De repente ouviu um barulho seguido de um clarão e uma fumaça verde e, no lugar do velho, apareceu uma criaturinha pequena de cara avermelhada.
Tonico, assustado, perguntou:
- Cadê u véio? Eli istava aqui inda gorinha.
- Não existe velho, Tonico. Só eu, o duende do rio. Todos os dias eu observo você sentado nesta pedra deixando a preguiça tomar conta do seu corpo, enquanto sua mulher trabalha para dar comida para suas crianças. De hoje em diante você será um outro homem. Será responsável e trabalhador. Também não vai se lembrar de nada que aconteceu aqui.
E tirando um pó do bolso da camisa, o duende jogou no ar pronunciando umas palavras mágicas. Tonico voltou para casa feliz da vida e com o cesto carregado de peixes.
Realmente, depois daquele dia o Tonico se transformou num outro homem. Acordava cedo, ajudava na roça e depois ia pescar e sempre trazia peixes. Nunca mais o cesto ficou vazio. O duende, do outro lado do rio, sorria feliz com a transformação do homem e, não resistindo, deu um grito, longo como rio, que ecoou pela mata:
- A preguiça é a mãe da pobrezaaaaaaaaaa...!


Maria Hilda de Jesus Alão

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