Era uma vez um coelhinho chamado Coelhildo, que morava na Aldeia dos Coelhos. Nessa Aldeia os coelhos trabalham o ano todo fazendo ovos de chocolate para entregar na Páscoa.
Alguns coelhos fabricam o chocolate; outros fazem os ovos; outros embrulham os ovos em lindos papéis coloridos.
Mas alguns – e só alguns poucos coelhos – são coelhos da Páscoa. Quer dizer: só alguns coelhos saem para entregar os ovos na páscoa.
Tudo que Coelhildo mais queria na vida era ser coelho da Páscoa. Ele sonhava com isso desde bebê, quando ainda tomava suco de cenoura na mamadeira.
Mas ao invés disso Coelhildo tinha outra função – e ele não gostava nada disso. Sabem o que o Coelhildo fazia? Ele limpava as panelas de chocolate.
Todo dia era a mesma coisa: esfregar-esfregar, lavar-lavar. Coelhildo sentia que aquilo não era para ele, que ele podia ser mais. Mas somente alguns – e eu disse alguns – coelhos conseguiam isso.
Coelhildo sonhava e sonhava em ser um coelho da Páscoa. Queria sair com a cesta cheia de ovos de chocolate e entregar para as crianças. Queria ver as crianças felizes na páscoa. Por isso foi falar com Coelhaldo – o chefe da Aldeia dos Coelhos.
- O que? – disse Coelhaldo muito bravo – Alguns, e eu disse somente alguns coelhos, são escolhidos.
- Mas senhor: eu sei que serei um bom coelho da Páscoa – disse Coelhildo.
Coelhaldo olhou com seus olhos vermelhos para Coelhildo. E perguntou, já mais bravo que o de costume:
- E como o senhor sabe disso?
Coelhildo explicou que era seu sonho desde coelhinho, que ele queria ver as crianças felizes.
- Está vendo? Está vendo? – gritou Coelhaldo – Coelhos da páscoa não podem ver e nem ser vistos! Fora daqui!
- Mas Coelhaldo, quero dizer: Senhor...
- FORA! – gritou Coelhaldo tão alto que Coelhildo se assustou e saiu correndo.
Aquilo não parecia justo – pensava Coelhildo. Por que ele não podia ver as crianças? E por que as crianças não podiam vê-lo? Seria tão legal se ele pudesse entregar os ovos de Páscoa nas mãos das crianças e ver seus rostinhos felizes... A Páscoa se aproximava. E Coelhildo já sabia como seria: outra vez os coelhos da Páscoa iriam entregar os ovos de chocolate – enquanto ele ficaria na faxina, na limpeza.
Os coelhos da Páscoa já estavam se preparando. Faziam exercícios, corriam, praticavam muito para o grande dia. Foi aí que aconteceu.
Na manhã do domingo de Páscoa os coelhos faziam exercícios de aquecimento. Inesperadamente Coelholdo torceu o pé. Na hora gritou “ai!” – e de tanta dor caiu no chão.
Coelhildo foi socorrer – mas o machucado era sério. Mandaram chamar Coelhaldo – que apareceu muito preocupado.
Logo o Doutor Coelho examinou Coelholdo com seus óculos de lentes grossas como fundos de garrafa, e disse: - Ele não vai poder andar por uma semana.
Foi um alvoroço. A Páscoa não podia começar com um coelho faltando. Dona Coelholda – uma coelha bem velhinha – disse:
- Vamos ter que cancelar a Páscoa!
Mas Coelhaldo reagiu:
- Nada disso! Nós nunca cancelamos a Páscoa. E não vamos começar agora. Temos que encontrar um coelho substituto.
Mas quem? Os coelhos que fabricavam chocolate estavam muito cansados, assim como os coelhos que faziam os ovos e os que embrulhavam tudo. Então quem poderia ser o novo coelho da Páscoa? Quem? Quem?
- Eu! – respondeu Coelhildo.
Todos os coelhos da páscoa olharam para ele. Coelhaldo olhou para ele. Bem, na verdade a Vila inteira olhou para ele.
- Nós já falamos sobre isso antes – disse Coelhaldo.
- Senhor – disse um dos coelhos de Páscoa – não podemos fazer a Páscoa faltando um coelho. Dê uma chance a ele.
- Mas... – tentou dizer Coelhaldo.
- Deixa, vai... – disse Coelhildo fazendo aqueles olhos tristes que só ele sabe fazer.
- Bem... – titubeou Coelhaldo.
E a Vila inteira disse, em coro:
- Deixa! Deixa! Deixa!
Então Coelhaldo respondeu: - Se é para o bem de todos, e felicidade geral da Vila, vá Coelhildo!
- Êêêêêêê!!!!! – todos gritaram.
Foi o tempo de Coelhildo trocar de roupa, pegar a cesta com os ovos de chocolate e chegar a reta de largada. E então Coelhaldo disse:
- Que a Páscoa comece!
Mais que depressa todos os coelhos saíram correndo com suas cestas com ovos de chocolate. Coelhildo corria junto, rápido. Estava bem preparado, para o espanto de todos. É que ele treinava à noite escondido no bosque para ser coelho da Páscoa.
Quando Coelhildo chegou na primeira casa ele avistou uma janela aberta. Deu um salto bem grande e pulou para dentro da casa. Aí achou o quarto das crianças. Colocou um ovo azul debaixo da cama do menino – que se chamava Michel – e um ovo cor-de-rosa debaixo da cama da menina – que se chamava Carol.
E já ia saindo pé ante pé quando deu de cara com as duas crianças que gritaram:
- O coelho da Páscoa!
Coelhildo não sabia o que fazer. Pelo código dos coelhos ele tinha que sair correndo. Mas na verdade ele queria ficar, falar com as crianças.
Coelhildo pensou por um momento. E depois respondeu:
- Tá bom, eu fico. Mas só um pouco.
As crianças se espantaram:
- Você fala! – exclamou Carol.
- Que legal! – disse Michel.
E ficaram conversando e conversando. Coelhildo contou sua história. E as crianças contaram que eles sempre quiseram conhecer o coelho da Páscoa – mas que nunca tinham conseguido vê-lo.
O tempo passou rápido e Coelhildo teve que ir embora, visitar outras casas. Mas todos os anos ele voltava na casa de Michel e de Carol para entregar os ovos e conversar um pouco com ele.
Michel e Carol eram as únicas crianças do mundo que conheciam seu coelho da Páscoa. E pra dizer a verdade Coelhildo aparece até hoje, sempre no domingo de Páscoa, sempre à mesma hora.
Como eu sei disso? Bem, porque eu sou o Michel.
Emílio Carlos
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