Dois ladrões lembraram-se, certa
noite, de assaltar a casa de uma mulher que vivia sozinha e que, ao que lhes
constava, era pessoa de grandes teres.
Julgando-a a dormir, os ladrões subiram sorrateiramente a um janelo e entraram na casa, onde vasculharam tudo o que puderam à procura de coisa que valesse a pena roubar. A dada altura, porque o barulho que faziam já era muito e a dona da casa não dava qualquer sinal, os ladrões aperceberam-se de que, afinal, não se encontrava lá mais ninguém. Podiam, por isso, roubar à vontade.
- Onde teria ela ido a estas horas? — perguntaram um para o outro.
Nisto, um deles, ao remexer por baixo do escano, junto à chaminé, encontrou uma estranha taça, com um líquido meio amarelado, que tanto podia ser azeite como podia ser mel, ou coisa parecida. E logo desconfiaram que a mulher era uma bruxa, e que, àquela hora, teria ido embogar-se a qualquer lado. A explicação estava naquela taça que tinha o óleo com que ela se untava antes de partir.
Mas a curiosidade tentou-os. Os dois ladrões resolveram untar-se também para verem o efeito, e, mal acabaram de o fazer, voaram ambos pela chaminé, indo pousar ao cimo da torre da igreja, de onde não puderam descer. Na manhã seguinte, quando as pessoas saíam de casa para o trabalho, deram pela presença dos dois homens empoleirados no campanário e todas desataram em grandes gargalhadas.
- Tirem-nos daqui! Tirem-nos daqui! — gritavam eles.
- E como diabo é que vós fostes aí parar? — perguntavam as pessoas, ao mesmo tempo que procuravam uma escada comprida para os tirarem dali.
Eles, no entanto, não deram qualquer explicação. Se o fizessem teriam de confessar que haviam estado a roubar uma casa na aldeia. E, assim, nem eles acusaram a mulher como bruxa, nem esta os acusou a eles como ladrões.
PARAFITA, Alexandre, O Maravilhoso Popular - Lendas, contos, mitos, Lisboa, Plátano Editora, 2000
Julgando-a a dormir, os ladrões subiram sorrateiramente a um janelo e entraram na casa, onde vasculharam tudo o que puderam à procura de coisa que valesse a pena roubar. A dada altura, porque o barulho que faziam já era muito e a dona da casa não dava qualquer sinal, os ladrões aperceberam-se de que, afinal, não se encontrava lá mais ninguém. Podiam, por isso, roubar à vontade.
- Onde teria ela ido a estas horas? — perguntaram um para o outro.
Nisto, um deles, ao remexer por baixo do escano, junto à chaminé, encontrou uma estranha taça, com um líquido meio amarelado, que tanto podia ser azeite como podia ser mel, ou coisa parecida. E logo desconfiaram que a mulher era uma bruxa, e que, àquela hora, teria ido embogar-se a qualquer lado. A explicação estava naquela taça que tinha o óleo com que ela se untava antes de partir.
Mas a curiosidade tentou-os. Os dois ladrões resolveram untar-se também para verem o efeito, e, mal acabaram de o fazer, voaram ambos pela chaminé, indo pousar ao cimo da torre da igreja, de onde não puderam descer. Na manhã seguinte, quando as pessoas saíam de casa para o trabalho, deram pela presença dos dois homens empoleirados no campanário e todas desataram em grandes gargalhadas.
- Tirem-nos daqui! Tirem-nos daqui! — gritavam eles.
- E como diabo é que vós fostes aí parar? — perguntavam as pessoas, ao mesmo tempo que procuravam uma escada comprida para os tirarem dali.
Eles, no entanto, não deram qualquer explicação. Se o fizessem teriam de confessar que haviam estado a roubar uma casa na aldeia. E, assim, nem eles acusaram a mulher como bruxa, nem esta os acusou a eles como ladrões.
PARAFITA, Alexandre, O Maravilhoso Popular - Lendas, contos, mitos, Lisboa, Plátano Editora, 2000
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