A chuva
derrubou as pontes.
A chuva
transbordou os rios.
A chuva
molhou os transeuntes. A chuva encharcou as praças.
A chuva
enferrujou as máquinas.
A chuva
enfureceu as marés.
A chuva e seu
cheiro de terra.
A chuva com
sua cabeleira.
A chuva
esburacou as pedras.
A chuva
alagou a favela.
A chuva de
canivetes.
A chuva
enxugou a sede.
A chuva
anoiteceu de tarde.
A chuva e seu
brilho prateado.
A chuva de
retas paralelas sobre a terra curva.
A chuva
destroçou os guarda-chuvas.
A chuva durou
muitos dias.
A chuva apagou
o incêndio.
A chuva caiu.
A chuva derramou-se.
A chuva
murmurou meu nome.
A chuva ligou
o para-brisa.
A chuva
acendeu os faróis.
A chuva tocou
a sirene.
A chuva com a
sua crina.
A chuva
encheu a piscina.
A chuva com
as gotas grossas.
A chuva de
pingos pretos.
A chuva
açoitando as plantas.
A chuva
senhora da lama.
A chuva sem
pena.
A chuva
apenas.
A chuva
empenou os móveis.
A chuva
amarelou os livros.
A chuva
corroeu as cercas.
A chuva e seu
baque seco.
A chuva e seu
ruído de vidro.
A chuva
inchou o brejo.
A chuva
pingou pelo teto.
A chuva
multiplicando insetos.
A chuva sobre
os varais.
A chuva
derrubando raios.
A chuva
acabou a luz.
A chuva
molhou os cigarros.
A chuva mijou
no telhado.
A chuva regou
o gramado.
A chuva
arrepiou os poros.
A chuva fez
muitas poças.
A chuva secou
ao sol.
ANTUNES,
Arnaldo. As coisas. São Paulo:
Iluminuras, 1996.
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