Folclore nordestino
O leão é o rei das fera. É o rei... é
o que quer ser mais valente no mundo, é o leão. Encontrou-se com a onça e
trataram uma palestra, dizendo:
- Camarada onça, eu sou o rei das
fera! Sou o mais valente que pode existir.
Aí, a onça disse:
- Você tá muito enganado! O mais
valente que existe é o bicho-homem!
Disse:
- Como é que ... eu tinha vontade de
me topar com o bicho-homem. Como é que eu topo com o bicho-homem, pra
experimentar se ele é valente?
Aí, a onça disse:
- Vai haver uma festa de casamento
... você vá pastorar lá na estrada que você encontra o bicho-homem.
Aí, o leão, foi, se escondeu no beco
do caminho ... quando lá vinha uma veinha, muito carcunda. Quando a veinha ia
passando, o leão saltou na frente:
- A senhora é o bicho-homem?
Disse:
- Não senhor. Sou a mãe do
bicho-homem.
Disse:
- Então, só pode ser outro.
Quando deu fé lá vinha um veinho. Aí,
ele saltou na frente:
- Você é o bicho-homem?
Disse:
- Não senhor. Eu já fui.
- Passe, vá embora.
Lá vinha um menino assobiando. Um
menino muito esperto, contente! Aí, quando viu o menino, saltou na frente:
- Meu filho, você é o bicho-homem?
- Não senhor. É de ser ainda o
bicho-homem.
Aí, ficou. Quando deu fé, lá vinha o
homem: um caboclo com chapéu de couro, um bacamarte ... que vinha voando pedra
pra todo canto. Quando foi empariando, foi dizendo:
- O senhor é o bicho-homem?
- Pronto, leão, sou o bicho-homem.
Que é que o senhor deseja?
- Desejo lutar. Pra ver se você é o
rei das fera e eu sou o rei das fera ... das montanhas, pra ver se nós entramos
em luta.
Aí, o homem disse ao leão:
- Demore aí... Deixe eu dar um
espirro primeiro, pra mode nós entrar em luta.
Aí, o leão disse:
- Pronto, pode dar o seu espirro.
Pense num "espirro"...
|
O homem disparou o bacamarte, quebrou
o focinho do leão, a cara com tudo. O leão saiu na carreira. Adiante, encontrou
a onça, disse:
- Camarada onça, eu não quero negócio
com o bicho-homem! O bicho é a fera pior que existe no mundo! O espirro do
bicho fez esse trabalho comigo ... e o bicho-homem. Como é que faz? Não quero
negócio com o bicho-homem.
Aí, ficou sendo o homem a fera maior
do Brasil.
Fonte: Severino Carreiro. Catolé do
Rocha. 17.07.1980. Relato recolhido por Myrian Gurgel Maia. In: TRIGUEIRO, O.M.
e PIMENTEL, A. A. Contos populares brasileiros - Paraíba. Recife: FUNDAJ,
Massangana, 1996, p.54-5.
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