Estou zangado





Quando estou zangado sinto-me como... um vulcão que vai entrar em erupção, uma panela que vai deitar para fora... um touro à solta numa loja de louças.
Quando estou zangado sinto-me como... um rinoceronte enfurecido, ou um balão prestes a rebentar, ou até como uma bomba a explodir!
Quando estou zangado bato o pé... Mas isso não me faz grande bem.
Atiro os brinquedos pelo ar... mas fico aborrecido se alguma coisa se parte.
Quando estou zangado com o meu irmão digo-lhe que NUNCA mais lhe falo… mas acabo sempre por lhe perdoar.
Quando estou zangado com a minha amiga chamo-lhe nomes e digo que não brinco com ela... mas depois arrependo-me sempre.
Há muitas coisas que fazem as pessoas ficarem zangadas. Quando a Mãe está cansada depois de um dia cansativo no emprego e nós estamos a fazer muito barulho... ela fica mesmo zangada!
Quando a minha irmã está a tentar montar as peças de um modelo e tudo lhe corre mal... ela fica zangada.
Quando o meu amigo João ouve um ralhete por causa de uma coisa que não fez.. ele fica zangado.
Mas às vezes eu faço coisas que levam os outros a ficarem zangados.
Se eu me portar mal à mesa.
Se eu for egoísta e não partilhar os meus brinquedos.
Se eu fizer fitas quando perco jogos, ou se fizer troça dos outros quando não conseguem fazer uma coisa.
A minha professora fica zangada se eu me portar mal na escola… e copiar quando não sei as respostas.
Toda a gente às vezes fica zangada. Mas quando eu sinto que estou a ficar zangado... ajuda a passar se eu contar até dez antes de falar.
Ajuda a passar se eu correr até estar cansado ou se der um grande pontapé numa bola.
Ajuda a passar se eu tentar acalmar-me. Às vezes conto os meus problemas ao cão; ele parece que os percebe.
E se tentar pensar numa coisa boa, muitas vezes esqueço-me de por que é que estava zangado.
O nosso bebê pequenino não consegue dizer por que é que está zangado, mas nós podemos falar do que sentimos. Pedir desculpa é uma boa maneira de começar.
E tu, o que fazes quando te zangas?

Brian Moses
Estou zangado
Lisboa, Editorial Caminho, 1994
Texto adaptado

Estou triste






Quando estou triste sinto-me como... uma flor que precisa de ser regada... um arco-íris que perdeu as cores... um palhaço que não consegue sorrir.
Quando estou triste deixo-me estar deitado na cama; não quero falar com ninguém... escondo-me na casinha de brincar... abraço o meu ursinho.
Há muitas coisas que me põem triste. Quando a minha melhor amiga muda de casa para longe, fico triste. Mas sei que vai ser ótimo receber montes de cartas.
Quando o meu cão não está bom e o veterinário diz:
Ele está a ficar velho, sabes. — Fico triste. Mas lembro-me de como nos divertimos os dois.
Quando à noite a Mãe e o Pai discutem e eu, lá em cima, os ouço a falar muito alto, fico triste. Mas no dia seguinte eles sorriem e estão outra vez alegres.
— Desculpa, não foi nada. Às vezes até os adultos discutem.
Quando me despeço da Avó na estação e sei que não a vou ver durante uns tempos, ficamos os dois tristes. Então eu dou-lhe um abraço mesmo apertadinho e sentimo-nos logo os dois melhor!
Quando todos os meus amigos são convidados para uma festa e eu não, sinto-me posto de lado e fico triste. Então faço eu uma festa para os meus brinquedos todos!
Quando na escola faço um desenho mesmo bonito e depois outro menino o estraga, fico triste e um bocadinho zangado! Mas penso que da próxima vez vou fazer um ainda melhor.
Quando ando triste, sinto-me melhor se contar os meus problemas ao Avô. Sinto-me melhor se fizer um puzzle ou se vir um programa engraçado na televisão.
Sinto-me ainda melhor se pensar numa coisa boa que vai acontecer.
Sinto-me melhor se puder fazer uma coisa simpática a alguém.
Mas às vezes eu também faço coisas que levam os outros a ficarem tristes...
Se eu chamar nomes aos outros...
Ou se eu for mau e não me ralar com as outras pessoas.
Se eu disser coisas sem pensar, a Mãe ou o Pai podem ficar tristes.
Se eu não deixar um amigo entrar no jogo, ele pode ficar triste.
Toda a gente às vezes está triste. Mas se falarmos do que nos fez ficar tristes e pensarmos nas coisas boas que temos... então se calhar conseguimos mandar embora a tristeza.
Experimenta este remédio se andas triste, aborrecido: franze a testa ao contrário, verás logo um sorriso! 


Brian Moses
Estou triste
Lisboa, Editorial Caminho, 1994
Texto adaptado

Esta é a nossa casa



O George estava dentro da casa.
— Esta casa é minha e ninguém pode entrar nela disse.
A casa não é tua, George disse a Lindy. Pertence a todos.
Não, não pertence. Esta casa é só para mim! gritou o George.
A Lindy e a Marly foram até aos balanços.
— A casa não é do George, pois não? perguntou a Lindy.
— Claro que não respondeu a Marly.
A Lindy e a Marly espreitaram pela janela.
— A casa não é tua, George, e nós vamos entrar.
— Isso é que não vão! Esta casa não é para raparigas.
O Freddie estava a passar por ali com o Rabbity.
— Vou deitar o Rabbity disse.
— Não podes disse o George. Esta casa não é para pessoas pequenas como tu.
O Freddie levou o Rabbity a dar uma volta de carro. A Charlene e a Marlene arranjaram a roda da frente. O Freddie queixou-se:
— O George não nos deixa entrar em casa.
A Charlene, a Marlene, o Freddie e o Rabbity foram direitos à casa.
— Alto aí! gritou o George.
— Vamos arranjar o frigorífico disseram a Charlene e a Marlene.
— Isso é que não vão! Esta casa não é para gêmeas.
O jacto do Luther aterrou na casa. O Luther foi lá buscá-lo.
— Onde pensas que vais? perguntou o George.
— O voo 505 despenhou-se e vou socorrer os passageiros. Fogo! Fogo! Ni-nó-ni! Ni-nó-ni!
— Não entras aqui! opôs-se o George.
O Luther pediu auxílio por rádio:
— Dra. Sophie! Dra. Sophie!
— Em que posso ajudá-lo? perguntou a Sophie.
— Não conseguimos chegar ao avião.
— Deixe isso comigo!
A Sophie e o Luther abriram caminho por entre a multidão.
— Abram alas para a médica disse o Luther.
— Vamos entrar anunciou a Sophie.
— Isso é que não vão! Esta casa não é para pessoas que usam óculos.
A Rasheda teve uma ideia:
— Vou escavar um túnel.
Enfiou a cabeça debaixo da casa.
— Vai-te embora. Esta é a minha casa disse o George.
— E este é o meu túnel retorquiu a Rasheda.
— Vai cavar túneis noutro lado. Esta casa não é para pessoas que gostam de túneis.
Ouvia-se agora muito barulho à volta da casa e estava calor. O George queria ir à casa de banho.
— Vou sair de casa anunciou. NINGUÉM PODE ENTRAR ENQUANTO EU ESTIVER AUSENTE.
Mal o George saiu, a Lindy, a Marly, o Freddie, o Rabbity, a Marlene, a Charlene, o Luther, a Sophie e a Rasheda entraram logo na casa. Quando o George voltou não havia lugar para ele.
— Esta casa não é para pessoas de cabelo ruivo disse a Charlene.
O George começou a gritar, a chorar, a bater com os pés e a dar pontapés na parede da casa. Depois parou e pôs-se a olhar. Disse então:
— Esta casa É para pessoas de cabelo ruivo, para raparigas, para pessoas pequenas, para gêmeas, para pessoas que usam óculos e para pessoas que gostam de túneis!
— Porque gritaram a Lindy, a Marly, o Freddie, a Marlene, a Charlene, o Luther, a Sophie e a Rasheda ESTA CASA É PARA TODOS! 


Michael Rosen
This Is Our House
Massachusetts, Candlewick Press, 1996